Muito mais do que dispor de uma moderna ferramenta, é preciso ter um plano estratégico definido e integrar professores, recomenda especialista da Blackboard, Pavlos Dias

A frente da gerência de operação da Blackboard no Brasil desde janeiro de 2013, Pavlos Dias é um entusiasta da tecnologia aplicada ao mundo educacional. A paixão pelos novos recursos tecnológicos, porém, só vem a reforçar sua convicção de que as plataformas tecnológicas se constituem uma poderosa ferramenta facilitadora para tornar mais atraente e quantificar o aprendizado, melhorando ainda a interação entre alunos, professores e instituições de ensino.

Formado em administração, Dias consolidou sua trajetória nos últimos dez anos no mercado da educação. Foi dirigente da GSI Online, uma empresa do mercado de soluções para educação e implementação de projetos de e-learning, mobile learning, games e sistemas de gestão da aprendizagem (LMS), e coordenou a implantação de programas do Instituto Ensinar de Desenvolvimento Social (Iedes), uma ONG voltada para a execução de projetos de educação para o desenvolvimento sócio-econômico das regiões no Rio Grande do Sul.

Pavlos Dias conversou com exclusividade para o site da revista Ensino Superior entre uma palestra e outra do IES Management, Fórum de Práticas e Gestão em Instituições de Ensino Superior, realizado entre os dias 11 e 13 de junho, em São Paulo. Na entrevista a seguir, o especialista antecipa as tendências tecnológicas aplicadas à educação e desmistifica o processo de implementação de uma plataforma educacional, reafirmando o que muitos gestores já se deram conta, seja pelas necessidades de mercado ou mesmo pela demanda dos próprios estudantes. “Fugir do uso da tecnologia é impossível”, assegura sem pestanejar.

ENSINO SUPERIOR: Como poderíamos classificar o nível de relação das instituições de ensino com o ambiente tecnológico hoje em dia no país?

PAVLOS DIAS: A gente já passou da fase em que o LMS [sistemas de gestão da aprendizagem] era inovação tecnológica. Isso existe há mais de 15 anos. Já passamos da fase de acomodação em que uma grande maioria escolhe esperar para ver o que vai acontecer com a novidade que se apresenta e apenas uma minoria resolve investir no novo recurso, buscando a inovação para sair na frente. Hoje as instituições passam pelo momento de decidir quando e como aderir às tecnologias educacionais, preparando o terreno para a implantação. Que já tem, por exemplo, uma estratégia de educação a distância definida começa mais rápido. Ter uma estratégia educacional clara é uma necessidade nesse caso, porque a gente vende a ferramenta e não a educação. Eu vejo que hoje ainda algumas instituições estão um pouco perdidas com relação a sua estratégia.

Qual o futuro do ensino superior com relação ao uso de novas tecnologias?

Fugir será quase impossível. Hoje é quase zero o número de instituições que não usam algum recurso tecnológico, seja administrativa ou pedagogicamente. No entanto os alunos que entram na escola hoje ainda são empurrados para serem analógicos, para o uso do caderno e lápis. Aí depois ele vai lá e faz o trabalho todo no computador, pesquisa, digita, imprime e entrega. Essa ruptura ainda vai demorar algum tempo para acontecer. Mas quando o estudante tem a opção de utilizar novos recursos e participar mais efetivamente do seu aprendizado é uma experiência que ele não abandona mais.

Qual o tempo aproximado para implantação de uma plataforma educacional tecnológica?

Muito mais do que o tamanho da instituição, quantidade de alunos e tipo de ferramenta escolhida, a implantação de uma plataforma educacional vai depender da cultura atual da instituição e nível de envolvimento de seus gestores, professores e colaboradores em geral. É um processo muito mais de gestão do que tecnológico. Isso porque as possíveis dificuldades encontradas num projeto de implementação de um sistema e-learning estão mais ligadas à mudança de processos da instituição do que ao departamento de tecnologia. É uma transição normal, que procuramos realizar de forma a gerar o mínimo de ‘faíscas’ possível, ocasionadas inevitavelmente em processos que requerem alguma mudança no jeito de fazer, já enraizado na cultura das pessoas. Então o tempo de um projeto varia, mas em geral demora entre quatro a seis meses. Mas já tivemos casos em que a implantação demorou apenas três meses ou até cerca de um ano.

Onde estão as principais dificuldades para a implantação de novos recursos nas instituições de ensino?

Normalmente o professor é barreira grande, porque faz com que ele tenha que mudar o seu jeito de trabalhar. Ele está acostumado a elaborar e ministrar aquela aula de uma maneira há anos, aí vem um novo recurso, um sistema que possibilita fazer tudo diferente. Então a instituição tem que incluir o professor no processo de implantação do novo sistema, torná-lo parte do processo. Isso é fundamental para viabilidade dos novos recursos e o sucesso do projeto.

Qual a tendência para o uso dos recursos tecnológicos no ambiente educacional?

O uso no Brasil reflete muito o que acontece nos outros países desenvolvidos. Entre as tendências que devem entrar com força para auxiliar o ambiente educacional está o que chamamos de adaptive learning. São ferramentas que acompanham o aprendizado de cada aluno, construindo um caminho individualizado de exercícios e conteúdo de acordo com as necessidades específicas daquele estudante. O sistema se vale do uso de algoritmos que reconhecem o padrão comportamental e de estudo de cada indivíduo a partir do acesso e da realização dos exercícios pelo aluno. Outra tendência é o big data, um poderoso recurso que reúne e analisa um fabuloso volume de informações. Que tipo de coisa se pode tirar com a análise completa dos usuários de uma instituição? São informações valiosíssimas que podem ser usadas pelos gestores em benefício da própria atividade. Isso é algo que vai avançar no Brasil, ainda tem muitos passos para dar nessa direção.

Como a Blackboard pode ajudar a desenvolver o sistema de educação no país?

Realizamos periodicamente, em várias cidades do país, um ciclo de debates chamado Desafios da Educação. A ideia é promover diálogos sobre educação levando em conta as necessidades de cada região. Em abril passado ocorreu o primeiro de 2013, em Fortaleza. Os próximos serão no segundo semestre e vão acontecer em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Joinville. A Blackboard também vai promover, no dia 14 de agosto, o Fórum de Educação aqui em São Paulo. A ideia é trazer especialistas em educação do Brasil e do mundo para debater e comentar as tecnologias mais usadas em sala de aula, quais as alternativas mais viáveis para as instituições de ensino superior e como superar os desafios que estão postos.