A aplicação da tecnologia nos processos de captação e retenção de estudantes. O uso dos chamados BOTs na melhoria de atendimento ao aluno e no próprio processo pedagógico. E a experiência do aluno no centro da questão da educação. Essas foram as discussões que permearam o segundo dia, nesta quinta, 24, da décima segunda edição do Seminário de Tecnologia Educacional, realizado pelo Semesp, pela primeira vez de forma virtual.

A primeira sessão do evento destacou um tema chave para as instituições de ensino superior, como as tecnologias têm impacto os processos de captação e retenção, automatizando processos e analisando comportamentos para acompanhar e atender melhor os estudantes.

“É difícil reverter uma evasão”, decretou Daniel Antonucci, CEO da CRM Educacional, mediador do primeiro debate. “Digitalizar todos os processos de captação e retenção é a única alternativa para acompanhar a jornada do estudante, evitando a evasão”, disse ele, apontando que as tecnologias para isso já existem.

O diretor Corporativo EaD do Grupo Ser Educacional, Enzo Moreira, concordou, afirmando que, atualmente, resolver problemas de captação e retenção só é possível com o uso de ferramentas de tecnologia. “Essas soluções devem ser bem trabalhadas pela TI e por todas as áreas das IES, entendo as vantagens e limitações de cada área para que a coisa aconteça”, avaliou.

“A captação e a retenção são pontos sensíveis das IES e estão diretamente ligados ao relacionamento da instituição com os alunos”, explicou. “As tecnologias permitem a análise e mensuração de como está esse relacionamento, possibilitando um tratamento personalizado entre IES e aluno mesmo naquelas instituições de grande porte”. Enzo Moreira destacou também que esse uso da tecnologia deve ser o mais invisível possível.

Tiago Lorenzo, diretor de Marketing da Unicesumar, afirmou que as IES ainda têm muitas oportunidades para explorar a jornada tecnológica de seus estudantes e para melhorar os processos de captação, retenção e a própria experiência do aluno. “A pandemia veio para derrubar crenças de que a educação não poderia fazer essa transformação digital. Ela não apenas pode ser feita, como pode ser feita de forma humanizada, colocando alunos e professores no centro das questões”, pontuou.

Tecnologia vira protagonista no ensino superior

BOTs

Qual a estratégia das IES na implementação dos BOTs, como são chamadas as aplicações de softwares concebidos para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão? Segundo Maurício Melo, CEO da Techne e da CronApp, mediador da sessão, os BOTs exercem um papel importante dentro da ideia de transformação digital da educação, e as instituições de ensino não podem perder a oportunidade do choque gerado pela pandemia para promover mudanças.

Marcello Vannini, diretor de TI e TE da Unip, contou um pouco sobre como foi a implantação do recurso na IES. “Inicialmente, tínhamos uma curiosidade em relação à Inteligência Artificial e começamos a testá-la com dois objetivos: desmistificar o seu uso e evangelizar seus benefícios”, disse ele. “Ainda assim, adotamos na Unip uma abordagem de uso mais conservadora, desenvolvendo um BOT de serviço para primeiro entender como ele funcionaria”, lembrou. “Implantamos esse BOT no site e nas redes sociais para automatizar o atendimento de dúvidas mais simples e frequentes, tirando os alunos de nosso balcão e focando nosso call center no atendimento dúvidas mais personalizadas”.

Já na Saint Paul, o uso de BOTs foi mais além, abarcando o viés da educação, com a criação de um assistente virtual para o aluno, o Paul. Marcos Sannchez, partner Director da Saint Paul, contou um pouco sobre a plataforma. “Nossa ideia era desenvolver um assistente virtual dentro de uma plataforma que ajudasse nossos alunos 24 horas  por dia. Nosso objetivo não era apenas um assistente para perguntas e repostas, mas sim replicar e converter a experiência da sala de aula para a plataforma”, explicou. “O maior custo do projeto não foi a tecnologia em si, mas sim a equipe de tutores que trabalha para incrementar essa experiência. O professor é essencial nesse processo”, defendeu.

Experiência do aluno

A última sessão do Seminário de Tecnologia Educacional destacou a questão da experiência do aluno, englobando, de certa forma, todos os tópicos discutidos no evento. A partir das estatísticas que apontam que o dispositivo móvel, os smartphones, é o principal meio de conexão do brasileiro à internet, como fica a questão da experiência de aprendizagem?

Mediador da discussão, Gustavo Hoffman, diretor do Grupo A, afirmou que a experiência do aluno está diretamente relacionada a todas as áreas das instituições, que devem operar em conjunto com ênfase na cooperação. Ele questionou também qual será a disrupção que a tecnologia trará à educação. “Na prática, pouca coisa mudou no modelo educacional, que continua predominantemente expositivo e baseado em conteúdos. Qual será então a inovação disruptiva na educação?”, lançou a pergunta.

O product Owner da Faculdade Descomplica, João Prado, falou sobre o poder transformador da educação, destacando que a IES não quer levar aos alunos apenas conteúdo e formação profissional, mas também crescimento pessoal. “Para oferecer o melhor do conteúdo na melhor plataforma, com a melhor experiência, construímos tudo do zero porque acreditamos que é difícil inovar usando uma plataforma que já existe e queríamos construir a inovação de nosso jeito”, contou, citando os dois pilares que sustentam a IES: empregabilidade e um ensino leve que pode ser compartilhado.

Rodolfo Bertolini, CEO Liga Educacional e CEO Celso Lisboa, apontou que falta discussão sobre o mobile, algo grave em um país em que a maioria dos acessos à internet é feita via um dispositivo móvel. “Esses números devem estar ainda maiores agora, durante a pandemia, já que muitos alunos acessavam desktop nas próprias instituições de ensino”, lembrou.

Segundo Bertolini, a disrupção educacional já aconteceu com a entrada do Google no mercado, disponibilizando conteúdos de forma mais fácil e rápida. “Nossa plataforma foi criada para responder a nossas demandas e uma metodologia baseada em projetos e competências, fugindo da ideia de um currículo tradicional para um currículo por competências”, afirmou. “Queremos assim engajar o nosso estudante dando significado ao aprendizado, além de garantir um melhor atendimento. A tecnologia educacional é uma parte da solução na democratização do acesso à educação. Se quisermos realmente mudar a sociedade, precisamos de uma educação descentralizada e mais pulverizada”, defendeu.