Em Paris, onde se localiza sua sede, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulga pesquisa na qual o Brasil ocupa a 60ª posição, entre 76 nações, no ranking da educação. Em São Paulo, a Câmara Municipal aprova, em primeira votação, projeto de lei que autoriza o Executivo (prefeitura, governo estadual e federal) a entrar e fazer inspeção sanitária em residências fechadas nas quais possa haver risco de proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e da chikumgunya.

O que há em comum entre as duas notícias? Com certeza a correlação entre os problemas do ensino público, recorrentes há décadas em nosso país, e de saúde, segurança e qualidade de vida. A analogia é clara, pois a educação de excelência em larga escala contribui muito para que a sociedade seja mais consciente sobre questões diretamente ligadas à salubridade ambiental, prevenção de epidemias, empregabilidade, pesquisa e inovação,  bem atitudes coletivas capazes de conduzir a nação à prosperidade e à justiça social.

A própria OCDE referenda a relevância do ensino ao nos apontar um caminho muito claro para o futuro: se o Brasil proporcionar educação básica universal a todos os adolescentes de 15 anos, nosso PIB crescerá mais de sete vezes nas próximas décadas. Assim, a prioridade à educação, sinalizada em todos os governos – municipais, estaduais e federais – é inexorável para o Brasil.

Contudo, trata-se de missão muito difícil de ser cumprida apenas pelo setor público, na qualidade, na abrangência e nos prazos dos quais necessitamos. Enfatiza-se, assim, a importância das instituições particulares, hoje responsáveis por 18,3% das matrículas, com 9.090.781 de alunos, conforme indica o Censo Escolar da Educação Básica de 2014, divulgado recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Em 2008, as escolas particulares representavam 13,3% das matrículas. Em seis anos, a rede aumentou gradativamente e a participação, atingiu 16,5% em 2012. Confirma-se, assim, a tendência de crescente importância das instituições privadas na escolaridade de nossos jovens. Ao todo, o Brasil registrou 49,8 milhões de alunos matriculados em estabelecimentos do ensino básico e educação infantil.

No ensino superior, as instituições privadas têm participação ainda mais expressiva. No último censo relativo a esse grau, realizado em 2013 pelo Inep, o país tinha 7.305.977 de estudantes matriculados na graduação. Desse total, 71% ou 5.373.450, estavam vinculados a universidades ou faculdades particulares.

Assim, paralelamente ao esforço para a melhoria da qualidade da escola pública, é importante que se criem condições para que se criem condições para que as instituições privadas possam cumprir de modo mais abrangente e cada vez melhor a missão que lhes cabe. Nesse sentido, é importante remover empecilhos tributários e burocráticos e lhes dar mais segurança jurídica, bem como instituir medidas de estímulo à sua atuação e ao ensino em geral.

Mecanismo eficiente para isso é o anteprojeto de lei, encaminhado a senadores em Brasília pelo Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif), que propõe a criação de incentivos fiscais a pessoas físicas e jurídicas que façam doações à área da educação. Poderíamos chamar a proposta de Lei Rounet do setor. O objetivo é captar e direcionar recursos a políticas de ampliação de investimentos, melhoria da qualidade e das redes de escolas, públicas e privadas. Com ações dessa natureza, conseguiremos cumprir a recomendação da OCDE, transformando o ensino na mais eficiente plataforma para o nosso desenvolvimento.