Fonte: Jornal DCI

São Paulo – O anúncio da prorrogação dos prazos de renovação de contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) pode dar um novo fôlego para as empresas do setor, avaliam especialistas, mas novas alternativas e reestruturações seguem sendo necessárias.

“Estamos chegando a um ponto em que as coisas estão se assentando, em relação à clareza das regras”, analisa o especialista da consultoria educacional Hoper, Pedro Gomes. “Nas últimas duas semanas, o mercado começou a se acalmar”. Vale lembrar que as empresas listadas em Bolsa, Kroton, Estácio, Anima e Ser Educacional, perderam mais de R$ 6,7 bilhões em valor de mercado desde o começo do ano e que grande parte das incertezas rodeavam o aditamento dos mais de 1,9 milhão de contratos financiados pelo Fies.

Na sexta-feira, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, prorrogou os prazos até 29 de maio e garantiu que todos os contratos vigentes seriam renovados. Já a data limite para adesões não sofreu alterações e se encerra na quinta-feira (30). Entretanto, a trava imposta pelo MEC que impedia a possibilidade de financiamento dos cursos reajustados acima de 6,41% em relação ao semestre letivo anterior segue como obstáculo. “Não existe uma postura oficial em relação à trava”, declara o consultor de financiamentos do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Alexandre Mori. “As faculdades estão adotando vários procedimentos. Algumas cobram a diferença, outras dão bolsas especiais para os alunos do Fies”, completa Mori. Ele citou a criação de fundos de financiamento próprios para evitar a evasão.

Mudança no planejamento

Pegas de surpresa pelas alterações ocasionadas pelo ajuste fiscal, que restringiu substancialmente o número de incursões através do programa, os players do setor estão sendo obrigados a rever o planejamento feito no ano passado. Um caso emblemático é o do grupo educacional Anima: a empresa anunciou na quarta-feira (22) o cancelamento da aquisição da Whitney Brasil, sacramentada uma semana antes da reestruturação no Fies imposta pelo governo.

O negócio, avaliado em R$ 1,1 bilhão, foi anulado em detrimento das mudanças de conjuntura e Anima pagará multa de R$ 46 milhões ao grupo americano. “O programa tomou uma proporção tão grande que tornou as faculdades reféns. Ou ela aderia, ou perdia o aluno”, declarou Mori. “Esse ano, elas achavam que o Fies manteria a política. Agora vão ter de se reestruturar.”

Aspectos do programa ainda deverão ser revistos. O número de adesões, até então definido pela procura de vagas, deve passar a ser fixado pelo governo e a instituição antes do processo. “O Fies não voltará aos parâmetros de 2014, quando mais de 700 mil contratos foram aprovados”, conjectura Gomes. “As novas adesões não devem passar os 300 mil nos próximos anos.”