Aceleradas nesse início de século, as mudanças na estrutura do ensino superior impactam a vida e o trabalho dos professores universitários

Salete Silva

Embora possa parecer coisa dos novos tempos, a importância do uso de metodologias ativas no ensino é uma ideia antiga. “John Dewey, educador norte-americano da primeira metade do século 20, um dos precursores do movimento conhecido como Escolanovismo, já definiu a centralidade da atividade do aluno no processo de aprendizagem”, lembra Maria Aparecida Felix do Amaral, do Núcleo de Assessoria Pedagógica (NAP) do Centro Universitário Salesiano (Unisal). Segundo ela, a aplicação dessa metodologia vai ainda mais longe. A questão remonta a Sócrates, com seu método dialógico de problematização e produção de conhecimento com a participação ativa do educando, ou discípulo: a Maiêutica Socrática.

“O ensino superior no Brasil tem enfatizado, como condição básica para o exercício docente, o domínio de conhecimentos e experiências profissionais”, lembra Maria Aparecida. “Quem sabe, sabe ensinar”, diz, enquanto reconhece que essa afirmativa já não responde mais às exigências das salas de aula de hoje. Ela conta que chegou a enfrentar uma resistência inicial dos professores às novas metodologias, mas que foi rapidamente superada.

A mudança de postura é resultado de uma década de estudo e reflexão para chegar à cultura inovadora, que trouxe uma nova atitude do professor em sala de aula e no domínio de estratégias de ensino ativas. Esse processo culminou no Unisal com a criação do Laboratório de Metodologias Inovadoras (LMI).

A Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) também trabalha no treinamento de seu corpo docente, estimulando que os professores desenvolvam novas ações. Além disso, também oferece indicações de atividades inovadoras para cada disciplina.

Agregar para colaborar

Envolver o corpo docente, segundo Paula Carvalho Pereda, coordenadora da Faculdade de Administração da Faap, embora não seja tarefa tão simples, é fundamental para o sucesso da metodologia. Na Faap, a boa receptividade dos professores aos novos métodos pode ser verificada pelo aumento do acesso aos softwares de interação com os alunos. “Além disso, os professores demonstraram maior entusiasmo e passaram a apresentar com mais frequência sugestões de trabalho à coordenação”, afirma.

De acordo com Virginia Jamieson, da Desire2Learn, nos Estados Unidos a preparação dos professores ocorre num processo contínuo para que haja boa receptividade às tecnologias ativas, como a FlipClass, por exemplo. “O docente precisa do apoio de outros educadores e de feedback de seus alunos para fazer a transição”, afirma

Mudar o conceito de transmissão de conhecimento entre os educadores é o grande desafio do ensino superior para atender à expectativas de alunos e mercadológicas. O papel das faculdades, segundo Wagner Sanchez, diretor acadêmico da Fiap, é entregar ao mercado de trabalho um profissional recém-formado mais próximo possível das necessidades das empresas.