Pesquisa mostra que a EAD está presente em quase 30% das universidades corporativas do Brasil e indica potencial de crescimento da modalidade

por Rodolfo C. Bonventti

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Uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA) aponta que existem quase 600 empresas de diversos portes que mantêm universidades corporativas em estruturas físicas próprias, em sistemas de educação a distância ou em parceria com outras instituições de ensino de todo o país. Das 60 empresas instaladas no Brasil que possuem universidades corporativas e responderam ao questionário, 72% delas têm programas educacionais totalmente presenciais, enquanto 28% trabalham EAD, mas todas elas reconheceram o potencial do ensino a distância para alavancar a formação continuada nos próximos anos.

O levantamento mostra ainda que é constante o interesse das empresas em investir em universidades corporativas, pois acreditam que é por meio da formação de seus colaboradores que conquistam um melhor nível de competitividade. E é justamente aí que entra a força da educação a distância.

De acordo com a professora Marisa Éboli, coordenadora da 2ª Pesquisa Nacional de Práticas e Resultados da Educação Corporativa 2012, hoje a EAD está presente desde a concepção de uma universidade corporativa. “Quando se pensa em universidade corporativa hoje, a questão do ensino a distância é fundamental. Nos Estados Unidos, por exemplo, se compartilha não só conhecimento como espaço físico, portanto o conceito de universidade corporativa não requer um espaço físico, mas todo um processo de conhecimento e de desenvolvimento de pessoas mais competentes que vão dar sustentação para a estratégia das empresas, e que pode acontecer nas parcerias com outras instituições de ensino ou na opção por cursos somente a distância”, reflete.

Na opinião da professora, a parceria com instituições acadêmicas é uma opção cada vez mais viável e fundamental para as empresas quando se fala em gestão de conhecimento. “O princípio dessa parceria está muito presente nos dias de hoje, mas é preciso que as organizações estejam atentas para não delegar toda a responsabilidade para os seus parceiros”, recomenda. De acordo com Marisa, o que deve reger uma parceria educacional é a noção da corresponsabilidade entre a organização contratante e as instituições de ensino parceiras.

A pesquisa também constatou que há um crescente movimento que indica a formação de um grupo de organizações parceiras, em que se enquadram as instituições de ensino superior, cada vez mais preparado para o compartilhamento da gestão do ensino. A ideia é que as parcerias sejam aprimoradas para que o perfil de formação dos colaboradores esteja cada vez mais perto do demandado pelo mercado. As parcerias de empresas com instituições de ensino e escolas de negócios também levam à opção dos chamados cursos in company na modalidade a distância.

Na verdade, o conceito hoje vai muito além do quadrado de uma sala de aula e se aplica ao saber em situações reais de trabalho ou do mercado. Sendo assim, os cursos podem ser apenas virtuais com módulos de ensino a distância, mais fáceis de serem conciliados com as agendas dos colaboradores, e disponíveis em plataformas virtuais.

Áreas de destaque
A educação corporativa é a ponte entre o desenvolvimento de talentos e as estratégias de negócio das empresas e, por isso mesmo, são as áreas de maior desenvolvimento técnico que se transformaram nos principais nichos das universidades corporativas. Segundo uma pesquisa recente da Consultoria Michael Page, a rápida evolução de certos segmentos do mercado criou a necessidade de uma constante capacitação dos profissionais que atuam nesses nichos. E é justamente nesse cenário que as universidades corporativas evoluem cada vez mais. A mesma pesquisa mostrou que as áreas de Engenharia, Tecnologia da Informação, Vendas, Finanças, Marketing e Corretagem de Imóveis são hoje os nichos mais procurados nessa busca por aperfeiçoamento profissional e transmissão de conhecimentos.

Um exemplo desse esforço é a Oracle University, que desde 2010 busca formar e certificar profissionais de TI. Em um nicho que não para de crescer e que se tornou um dos maiores empregadores do mundo, a Oracle investe em formar uma mão de obra qualificada em Java, que é hoje uma das tecnologias mais procuradas e utilizadas pelas empresas que atuam no segmento de TI. Essa formação constante e cada vez mais crescente é realizada a partir de parcerias com universidades e instituições de ensino técnicas do mercado.

Abre-se, portanto, um novo momento que deve ser aproveitado pelas instituições, ou seja, o de assumirem o papel de parceiras educacionais na formação de mão de obra qualificada e com o perfil de competências necessário para os novos nichos de mercado que vêm surgindo, ou mesmo para antigos nichos que precisam ser totalmente adaptados a uma nova rea­lidade. Cabe também às instituições parceiras a promoção de uma gestão de conhecimento mais setorial e, portanto, muito mais próxima da prestação de serviços ideal para a sociedade.

Parceria de sucesso
As universidades corporativas chegaram ao Brasil na década de 1990, mas tiveram o seu boom no início dos anos 2000. Elas são vistas pelas empresas como um complemento estratégico do gerenciamento, do aprendizado e do desenvolvimento das competências dos seus colaboradores. “As empresas começaram a perceber que precisam de programas de formação específicos que não encontravam nas instituições de ensino superior para qualificar, especializar e compartilhar conhecimentos com os seus colaboradores”, conta o presidente da seccional da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) no Rio de Janeiro e diretor de RH da Turbomeca América Latina, Paulo Sardinha.