A cada dia torna-se mais preocupante a falta de razoabilidade e consistência das propostas que pedem a redução generalizada das mensalidades dos cursos de ensino superior privado em todo o país.

Os alunos e suas famílias precisam saber que enquanto as instituições educacionais buscam evitar a proliferação da Covid-19 entre seus alunos professores e funcionários por meio da suspensão das atividades presenciais seus gastos não estão sendo reduzidos. Simplesmente porque nesse período não está havendo nenhuma flexibilização nas disciplinas, nem tampouco substituição nos cursos presenciais por aulas na modalidade EAD.

As IES adotaram medidas para garantir a manutenção da estrutura e da qualidade dos cursos, que estão sendo ministrados de forma remota, com aulas adaptadas para ambientes tecnológicos virtuais, utilizando a mesma estrutura das aulas presenciais e a mesma dedicação integral dos professores. Para suportar a transmissão virtual da mesma aula que era oferecida presencialmente, as instituições estão sendo obrigadas a aumentar suas despesas, com a instalação de novos equipamentos tecnológicos e a aquisição de licenças de uso de novas ferramentas digitais.

Visite o site da campanha O Valor da Educação

O discurso leviano e inconsequente sobre a necessidade de redução unilateral do valor das mensalidades omite que as instituições de ensino superior têm se mostrado sensíveis às dificuldades enfrentadas pelos alunos, e vêm acompanhando caso a caso a situação dos estudantes que enfrentam dificuldades para manter o pagamento das mensalidades, por conta do seu afastamento compulsório das atividades profissionais durante a pandemia. Neste momento de incertezas, as IES vêm buscando apoiá-los com programas de auxílio emergenciais, fazendo todo o possível para que ninguém seja obrigado a se afastar da instituição, e com isso tem beneficiado um grande contingente de alunos.

Por esse motivo, afirmamos que as consequências de um movimento desse tipo são irreparáveis. A maior parte dos recursos obtidos pelas instituições de ensino superior destina-se às suas folhas de pagamentos. Uma eventual redução generalizada nos valores das mensalidades provocará, simplesmente, a quebra do setor, não apenas colocando em risco os empregos de mais de 390 mil professores e funcionários técnico-administrativos das instituições, como também a oferta de acesso ao ensino superior para mais de 6 milhões de estudantes brasileiros, além de impedir que as instituições de ensino continuem a atender os alunos mais necessitados com seus programas emergenciais.

As pessoas também precisam saber que, além dos custos para manter toda a estrutura montada para ministrar as aulas atualmente, quando a curva de contaminação da pandemia tiver baixado as despesas das instituições no retorno às aulas presenciais deverão aumentar exponencialmente. A retomada das atividades, como já está ocorrendo em alguns países da Europa, obrigará as IES a adotar medidas que aumentarão ainda mais seus custos, para garantir que a frequência às aulas presenciais obedeça ao necessário distanciamento social e minimize o risco de contágio.

O retorno às aulas presenciais será realizado sob medidas especiais de proteção, que vão exigir das IES a reorganização de horários e de espaços, e a readequação das instalações e da sua infraestrutura, além de outras providências gravosas às instituições.

Para garantir o distanciamento entre os alunos, por exemplo, as salas de aula serão obrigadas a receber a cada dia apenas um percentual do número de estudantes, que serão organizados em grupos com horários e intervalos próprios. E as instituições precisarão despender ainda mais recursos para garantir:

• Uso obrigatório de máscaras;

• Lavagem das mãos ao entrar e sair da instituição;

• Dispensadores com álcool gel 70% em todas as salas;

• Reconfiguração das áreas de convivência para permitir o distanciamento social e minimizar o risco de contágio;

• Criação de fluxos unidirecionais, usando sinalização visual para impedir que os alunos se aglomerem; •

Oferta de copos descartáveis nos bebedouros, ou sua desativação;

• Multiplicação das atividades de limpeza e higiene de todas as instalações, com contratação de maior número de funcionários, uso massivo de desinfetantes e outras substâncias antissépticas, e disponibilização de equipamentos de proteção individuais.

Um estudo realizado pelo Instituto Semesp, com 1.257 instituições de todo o país, revela que mais de 21% das IES poderão não ter condições de pagar a folha de pagamento do mês de maio e 39% amargarão prejuízo superior a 20% da receita líquida em 2020, por conta do aumento da evasão e da inadimplência no atual período. O mais preocupante no estudo é a indicação de que, diante de uma redução horizontal de 30% das mensalidades, cerca de 30% das instituições terão de fechar as portas ainda no ano de 2020.

Portanto, o Semesp considera fundamental tentar impedir o contrassenso e a irresponsabilidade que seria a redução horizontal das mensalidades.

Neste momento em que o país e o mundo inteiro necessitam de solidariedade e colaboração, precisamos ter bom senso e seriedade, se não quisermos que o Brasil aumente a sua defasagem educacional, enquanto as instituições de ensino da maioria dos países seguirão adiante.

Baixe aqui as peças da campanha O Valor da Educação