O filósofo Luiz Felipe Pondé citou como aspectos do processo educacional atual a burocracia, o marketing e a saúde mental do estudante

Luiz Felipe Pondé, filósofo, escritor e ensaísta, mestre em Filosofia pela Universidade de Paris, doutor pela FFLCH da USP e pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv, fez a conferência de abertura do 24º FNESP, com o tema “Educação para transformar gerações”. Em sua exposição, destacando sua condição de professor e a experiência de coordenador de ensino em instituições acadêmicas, Pondé destacou três aspectos desse processo.

O primeiro aspecto, segundo o filósofo, é a burocracia. Referindo-se à atividade de coordenação em uma IES, Pondé afirmou que “o coordenador educacional é esmagado pela burocracia, e mal tem tempo para pensar em qualidade ou nos conteúdos dos cursos”. Ele descreveu esse profissional como “um misto de gerente de processos e gestor de conteúdos, que passa mais tempo servindo à burocracia, e essa situação não permite que ele veja o estudante como o principal objetivo da atividade fim da instituição educacional”. Segundo o filósofo, especialmente na pós-graduação, “a palavra aluno é a que menos aparece nos relatórios”.

O palestrante destacou o marketing como o segundo aspecto a ser considerado em relação ao objetivo de colocar o estudante e suas necessidades como prioridades para proporcionar um aprendizado de qualidade. “É um risco pensar no estudante pelas atividades do marketing. Seu efeito no estudante é gerar uma condição irreal, na medida em que a pandemia gerou insights tecnológicos que obrigaram as IES a enfrentar o desafio de reorganizar a sua oferta de educação, indo para o virtual para conseguir um número maior de alunos, mas é no presencial que está a base da transmissão de conhecimento e da experiência acadêmica”, afirmou.

Luiz Felipe Pondé lembrou que essa situação de exposição permanente à tecnologia, especialmente a exposição pública através das redes sociais inerente às atividades virtuais, impacta o estudante e resulta no terceiro aspecto do processo educacional na atualidade, que é a saúde mental dos alunos.

“A entrada da saúde mental na educação é o terceiro aspecto dessa equação”, afirmou o filósofo. Segundo Pondé, ela obriga as IES a manter parcerias com instituições e profissionais especializados em psicologia e psiquiatria, “e desse modo a medicalização da educação passou a ser uma commodity que está precificada, mas representa uma contradição”, afirmou. Referindo-se ao aumento dos atestados médicos que afirmam que os alunos não mostram condições de acompanhar aulas presenciais por falta de condições psicológicas, ele disse que “isso impacta diretamente a vida dos jovens, que estão mais frágeis, mais intolerantes –  exceto em relação ao comportamento de gênero – e têm dificuldade de participar de uma discussão interessante na sala de aula sem que isso provoque impactos afetivos”.

Segundo o palestrante, “a polêmica entre a atividade acadêmica e a tecnologia é identificar qual é o objetivo da educação superior e qual é o jovem que nos interessa como instituição”. Citando um debate no jornal El País entre um especialista em tecnologia educacional e um professor da Universidade Harvard, Pondé registrou que, para o representante da IES norte-americana,  “a tecnologia pode ampliar o seu nicho de alunos e resolver os seus problemas de sustentabilidade, mas o que interessa a uma instituição acadêmica é o que o estudante seja também um ser humano capaz de enfrentar e entender a realidade do mundo sem paranoias e sem medo”.