Agricultor urbano, defensor da ética tecnológico, mentor para desenvolvimento do conhecimento, curador de memória pessoal e conservacionista de identidade nacional. Já ouviu falar dessas profissões? Não? Tudo bem. Você não ouviu porque elas ainda nem sequer existem. Mas elas podem vir a existir por causa da chamada 4ª Revolução Industrial.
Quais são as profissões do futuro? Com essa pergunta em mente, 20º FNESP – Fórum do Ensino Superior Particular Brasileiro encerrou o primeiro dia de palestras refletindo sobre essa questão fundamental para entender os rumos da educação superior. A editora do The Chronicle of Higher Education, Liz McMillen, e o diretor Executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, subiram ao palco do evento para discutiram os novos paradigmas que as IES estão enfrentando e as medidas que elas deverão tomar para manter a competitividade e garantir a sustentabilidade diante de um cenário cada vez mais próximo.
Para Liz McMillen, a forma como as IES irão preparar os estudantes para esses trabalhos que ainda nem existem é um dos temas mais preciosos e preocupantes da área da educação atualmente. “Os trabalhos e as habilidades que o mercado exige estão mudando, e isso é um desafio para o ensino superior. A pergunta é: será que as instituições estão fazendo o suficiente enfrentar essa nova realidade e entregar alunos preparados para o futuro?”.
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Para tentar responder a questão, McMillen discorreu sobre o atual cenário do ensino superior nos Estados Unidos, destacando o aumento dos custos das faculdades, do endividamento dos alunos e do nível de desemprego e subemprego entre os universitários, fatores que têm refletido negativamente na imagem das universidades. “Esse é um momento de desafio para o ensino superior”, decretou.
De acordo com a editora do The Chronicle of Higher Education, outro fator relevante e que precisa ser debatido é que as personalidades dos profissionais no futuro serão adaptáveis e as habilidades, comuns a todas as áreas. Ela destacou competências fundamentais como gestão de pessoas, criatividade, pensamento crítico e resoluções de problemas complexos, como indispensáveis nesse novo ambiente que está se construindo frente às altas taxas de urbanização, desigualdade crescente e envelhecimento da população.
“Mais de 35% dos empregos no futuro vão demandar essas habilidades e 65% exigirão algum tipo de educação e capacitação além da aprendizagem do ensino médio,” contou. Liz questionou o que essas informações significam efetivamente para as faculdades e universidades, já que o ritmo das mudanças na economia e da força de trabalho ultrapassa a capacidade de adaptação dessas instituições.
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Entre algumas soluções, ela propôs o aumento do número de cursos a distância, a configuração de novos tipos de metodologias e certificações acadêmicas, o surgimento de cursos voltados para a população adulta, o fortalecimento de parcerias entre faculdades e empregadores e uma educação cuja base é a competência e não a carga-horária, por exemplo. “Para enfrentar esse cenário de mudanças, a educação precisa ser pensada como um processo contínuo e não como algo apenas momentâneo e pontual na vida de uma pessoa”, concluiu.
Previsões sobre as profissões do futuro
Aproveitando a discussão, durante a última sessão do primeiro dia do evento, foi lançada a mais recente edição do Mapa do Ensino Superior, documento compilado pela Assessoria Econômica do Semesp que apresenta um panorama completo da educação superior brasileira tomando como base relatórios e estudos publicados e uma ampla pesquisa do mercado de trabalho no Brasil e no mundo, com uso da metodologia Big Data Analytics.
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O diretor Executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, falou sobre a importância do Mapa como documento de análise e destacou novidades dessa edição, como dados sobre migração de cursos, valor das mensalidades, evolução dos polos EAD, empregabilidade e uma das sessões mais esperadas e discutidas, uma previsão de algumas das profissões do futuro.
“Será que estamos acompanhando a evolução do mundo moderno, as novas tecnologias e as possibilidades da Inteligência Artificial?”, perguntou Rodrigo sobre o tema central do evento. Como resposta, Capelato citou como exemplo a evolução dos cursos mais procurados na IES. “Direito, Pedagogia e Administração estão no topo do ranking desde o início dos anos 2000 até hoje”, disse. “Essa é uma informação que precisa ser pensada e avaliada”.
Ainda sobre as profissões do futuro, Rodrigo disse que as informações do Mapa foram compiladas a partir da análise de relatórios de várias entidades e consultorias, destacando que os dados funcionam como uma previsão futurológica do que está por vir. Como exemplos de possíveis profissões, ele descreveu cargos que ainda não existem: agricultor urbano, defensor da ética tecnológico, mentor para desenvolvimento do conhecimento, curador de memória pessoal e conservacionista de identidade nacional.
“Parece coisa de ficção científica o que estou falando? Parece que estamos muito longe disso?”, perguntou Capelato. “Não, essas mudanças já estão acontecendo e as IES não estão atendendo essas demandas. Isso é uma oportunidade enorme, mas temos que correr atrás dela”, avaliou.
O 20º FNESP será realizado até esta sexta, 28, no WTC em São Paulo, continuando os debates sobre o tema “Desafios da 4ª Revolução Industrial para o Ensino Superior”. O evento visa estabelecer como as IES podem enfrentar questões como o valor do diploma, as novas profissões e a tecnologia nessa nova era por meio de palestras de especialistas nacionais e internacionais.