Pesquisa mostra os cursos universitários que possuem maior taxa de retenção. Veja como utilizar as informações a favor da instituição e ampliar os bons resultados para todos os cursos

Por Rodolfo C. Bonventti

Os cursos universitários mais concorridos são também os que possuem maior taxa de retenção nas faculdades do país. A análise de especialistas educacionais, baseada em pesquisa que aponta as graduações campeãs em manter os alunos nas salas de aula até o final do curso, serve de indicativo para que as instituições de ensino superior priorizem o acompanhamento e valorização de determinadas áreas para garantir a heterogeneidade na formação acadêmica.

A pesquisa foi realizada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) com base nos vinte cursos com maior número de concluintes na rede privada. No levantamento, o curso de medicina aparece como campeão disparado mantendo mais de 70% dos alunos do início até o final do curso, enquanto a média de retenção verificada entre as graduações analisadas é de cerca de 43%. Odontologia aparece em segundo lugar, com taxa de 53,4%. A seguir, em termos nacionais, aparecem os cursos de serviço social, enfermagem, gestão de recursos humanos, farmácia e nutrição (veja todos os cursos e taxas no quadro abaixo).

Na opinião do coordenador do curso de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor Lúcio Pereira de Souza, medicina e odontologia se destacam em conseguir a maior retenção entre todos porque os candidatos às vagas têm maior certeza em relação às suas escolhas. “Como boa parte deles só entra no curso após uma segunda ou terceira tentativa via vestibular, eles não abandonam um sonho tão difícil de alcançar”, sugere.

Já na análise do diretor executivo da Rede Metodista de Educação, Sérgio Roschel, têm maior taxa de retenção os cursos com alto grau de empregabilidade e com boas perspectivas de mercado. “Cursos que formam profissionais que têm alta demanda normalmente registram melhores índices de retenção, e o curso de enfermagem é um exemplo disso hoje”, considera Roschel. Ele comenta ainda que a tendência dos alunos é dar pouco valor àqueles cursos que são muito fáceis de entrar, que não oferecem uma boa infraestrutura ou são muito genéricos nos seus currículos, o que faz com que os estudantes desistam com mais facilidade.

É o caso, por exemplo, de alguns cursos na área de humanidades. Segundo a diretora da Faculdade Cásper Líbero, Tereza Cristina Vitali, diferentemente de medicina, que exige do candidato uma decisão mais concentrada, algumas graduações têm currículos de espectro muito amplo, o que acaba confundindo os estudantes mais indecisos sobre a sua futura profissão. “Alguns cursos oferecem inúmeros conhecimentos e muitas possibilidades de atuação que no decorrer do próprio curso acabam dispersando o aluno”, explica Tereza.

Ajuda na escolha
Por outro lado, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) aponta as graduações com maiores índices de evasão nos últimos anos. O curso de processamento da informação aparece com taxa de 36%, marketing com 35%, e ciências da computação com 32%. A mesma pesquisa mostra que entre os cursos campeões de desistência nenhum deles está ligado à área de ciências biológicas. Mas o que leva um determinado curso a reter mais ou menos alunos?
Para Tereza Cristina, os motivos para a evasão estão relacionados a dois fatores principais: a impossibilidade de arcar com as mensalidades e a descoberta de que a carreira escolhida não atende plenamente aos anseios do aluno.

A justificativa vai ao encontro da sugestão do educador e orientador profissional Mauricio Sampaio. Ele indica realizar um trabalho de orientação vocacional antes do vestibular para ajudar os estudantes a fazer uma escolha mais acertada do curso. “É preciso cobrar das escolas um trabalho de orientação vocacional e profissional logo nos primeiros anos do ensino médio. As escolas precisam ser parceiras nesse sentido, promovendo meios e estratégias que contribuam e facilitem a decisão daqueles que serão os futuros profissionais do mercado”, sugere.

Já para Sérgio Roschel, as instituições de ensino superior precisam trabalhar com diagnósticos e ações constantes para a melhoria do processo de pós-ingresso dos estudantes. “Quando falamos em evasão, falamos em não conseguir reter alunos, muitas vezes que acabaram de ingressar nos cursos. Isso significa que temos de estar preparados para recebê-los bem”, comenta. De acordo com ele, essa atração se consegue oferecendo uma grade mais flexível, com a opção de horários alternativos; com um currículo que remeta diretamente à carreira escolhida, com perspectivas e análises do mercado de trabalho; com a realização de avaliações constantes, tanto da instituição como do aluno; com o oferecimento de canais de relacionamento de fácil acesso e com feedback para o aluno etc. “Para estar satisfeito com o curso o aluno precisa também enxergar valor na instituição de ensino que ele escolheu”, acredita Roschel.

Em prática
Oferecer aulas de reforço em algumas disciplinas logo nos primeiros semestres é outra opção interessante na busca por manter os alunos acompanhando o curso, especialmente nas carreiras que envolvem a área de exatas como matemática, engenharia, gestão financeira, ciências contábeis ou física. Essa opção permite dar uma sustentação maior aos novos universitários que saem do ensino médio com o conhecimento defasado.

Outra opção para manter os estudantes interessados no curso superior é promover conversas agendadas de incentivo e sobre o mercado de trabalho com a participação de professores e coordenadores de cursos. Focar o marketing de relacionamento e criar estratégias no campus que desenvolvam um apego emocional de forma que os alunos se sintam bem na universidade, além de promover parcerias com empresas de forte atuação no mercado, que garantam não só oportunidades de empregabilidade aos seus alunos como também o contato com cases de sucesso por meio de palestras com os executivos dessas empresas ou trabalhos de campo, usando essas organizações como fonte, são alternativas para engajar desde cedo os estudantes à profissão que escolheram.

Segundo o diretor do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, Roberto Leal Lobo, a evasão no ensino superior não é um problema que atinge apenas o Brasil, tendo incidência em nível internacional, nos Estados Unidos e em vários países da América Latina e Europa. “Precisamos estar de olhos bem abertos para o problema. As perdas de alunos que iniciam e não terminam seus cursos representam um nível de desperdício social, econômico e acadêmico muito grande, gerando uma fonte de ociosidade alta nas universidades”, lamenta Lobo.

 

Ferramenta auxilia gestores
Além de estratégias e ações que envolvam diretamente o aluno para mantê-lo interessado no curso e, consequentemente, matriculado na instituição de ensino até o final da graduação, os gestores podem lançar mão de ferramentas tecnológicas que auxiliam o controle da trajetória do estudante ao longo do curso. Um sistema desenvolvido pela VR Educação promete ajudar nessa tarefa. Com o uso do cartão de identificação é possível controlar o registro de presença de alunos e professores em sala e acessos a estacionamentos, bibliotecas e laboratórios. O cartão também pode ser recarregado com dinheiro para o pagamento interno em lanchonetes, livrarias, serviços de cópia etc. De acordo com o superintendente de negócios do VR Educação, Rodiney Cardinali, o conjunto de possibilidades da ferramenta permite realizar uma análise preditiva do comportamento e dos interesses do aluno na instituição. “As informações geradas pelo cartão facilitam a prevenção de problemas que possam levar a uma evasão do curso ou da própria universidade”, explica.