O Semesp realizou dia 13 de novembro, em sua sede, palestra com Odilon Marcuzzo Canto, diretor científico e tecnológico da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) com o tema Inovação Tecnológica e Universidade, enfocando a questão da ciência, tecnologia e inovação no papel do sistema de ensino superior e seus desafios no Brasil.
       Para Marcuzzo, o País produz cerca de 1,5% do conhecimento internacional. “Esse número a primeira vista, pode parecer pequeno. Mas, se levarmos em conta que somente o Japão e os Estados Unidos são responsáveis por 75% da produção do conhecimento internacional, nota-se que sobra pouco para os demais países. O 1,5% que o Brasil produz é razoável, além disso, é uma produção de qualidade. Estamos produzindo em áreas consideradas chaves para o desenvolvimento como ciência da computação, engenharia, saúde, biologia, física, química, matemática. Estamos produzindo muito bem cientificamente, mas não estamos transformando o conhecimento em inovação”. O grande desafio nesse sentido, segundo Marcuzzo “é fazer esse conhecimento se transformar em riqueza para o país, em qualidade de vida para a população”.
        “Um dos pontos fundamentais no país é a Educação. Se o país não investir, não educar o seu povo, esta sinfonia do crescimento não acontece”, afirmou. “A Educação como um todo é muito importante. Há alguns anos o Banco Mundial em seus relatórios, insistiu muito na tese de que os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento não deveriam concentrar dinheiro público em educação superior e sim, no ensino fundamental. Isso, felizmente hoje, está superado. Sabe-se que se não houver investimento com um todo, não há Educação. Não se pode fazer Educação por segmento. Pois ela é básica para que a educação fundamental se dê.  Não tem como fazer uma coisa e deixar de fazer a outra”. Tem que atacar o problema como um todo”, concluiu.
       O diretor da Finep referiu-se a um  relatório sobre a economia mundial nos próximos 50 anos, produzido pela Goldman Sachs, uma das consultorias econômicas mais bem cotadas internacionalmente, que prevê que o Brasil, juntamente com Estados Unidos, Brasil, Coréia, Rússia, Índia, Japão e China, poderá se tornar uma grande força no mundo econômico. ”É evidente que uma previsão destas só se cumprirá na medida em que cada um de nós tentarmos fazer o nosso papel, contribuindo para que a economia brasileira cresça”, disse Marcuzzo.
        Para Marcuzzo, “contrariamente ao que foi pregado nos anos 60 e 70, de que era preciso deixar crescer o bolo e depois dividir, hoje a teoria econômica e os exemplos dos países emergentes demonstram que o bolo que não é dividido no início não cresce”. Segundo ele, “a primeira necessidade é criar políticas públicas de divisão do bolo. No Brasil, hoje, os índices nessa parte são terríveis. Somos um dos países mais injustos na distribuição de riquezas. Estamos somente melhores do que cinco países da África Central”.
       O palestrante advertiu para a necessidade de o Brasil assumir o compromisso de criar para si um sistema nacional de inovação. “Inovação é uma idéia que atingiu o mercado. Ela acontece preferencialmente na empresa e não na universidade”. Citando como exemplo os Estados Unidos, que possui um sistema de universidade mais empreendedor do mundo, e onde somente 3% dos registros de patentes provêm de universidades, defendeu que o País tem que direcionar esforços para o estabelecimento de políticas públicas de fixação de pesquisadores nas empresas. “Claro que as pequenas e médias empresas não têm como ter um setor de pesquisa e desenvolvimento. E é aqui entram os institutos tecnológicos e as universidades. Isso é o que se chama de sistema educacional de inovação, o que ainda está incompleto em nosso País. Nós temos que trabalhar esta questão e fazer com que tenhamos políticas públicas adequadas que favoreçam a fixação de pesquisadores nas empresas”, conclui.
        Marcuzzo referiu-se ao papel da Finep, que segundo ele  “tem como premissa promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, centros de pesquisa, governo e entidades do terceiro setor, mobilizando recursos reembolsáveis e não-reembolsáveis, visando o desenvolvimento social do País”.
       Segundo o diretor, “objetivando sempre o aperfeiçoamento e a expansão nacional da ciência, tecnologia e inovação, a Finep observa atentamente as condições da área, identificando os principais obstáculos para o avanço tecnológico do País”. Entre os trabalhos financiados pela Finep, destacou o avião Tucano e as várias atividades da Embraer; a viabilização de projetos da Petrobrás e diversos programas na área do agronegócio da Embrapa.
        “Nós da Finep queremos financiar as instituições que desejam realmente fazer pesquisas e que não visem só o lucro. Mesmo que não possamos repassar recursos para o sistema privado – como seria de se esperar – vejo como possível um cenário que as instituições públicas continuarão recebendo recursos e estreitarão laços com as escolas particulares por meio de programas em conjunto”, conclui Marcuzzo.