*Texto de Helen Novaes, a diretora de Comunicação Institucional da ESAMC Uberlândia

Cultura empreendedora, startups, relação empresa/IES em Singapura: Com um plano estratégico educacional marcadamente definido por diretrizes governamentais, as universidades têm papel fundamental para manter a competitividade global de Singapura.

Cultura Empreendedora

A cultura empreendedora de Singapura nasceu, certamente, já com as diretrizes iniciais que o governo definiu após sua independência em 1963. A antiga aldeia de pescadores tornou-se cidade-estado e ainda não completou 60 anos, mas já é um Tigre Asiático e, de acordo com o que observamos na recente Missão Técnica Internacional do Semesp, Singapura quer manter seu status de um dos países mais competitivos do planeta.

Citado como o melhor lugar do mundo para se fazer negócios, de acordo com o Banco Mundial Ease of Doing Business (o Brasil está em 109 de 190 países), o projeto educacional traçado pelo país, certamente, contribuiu para essas conquistas. Do total de seis universidades do pequeno país, duas estão nos rankings das 100 melhores universidades do mundo.

Das 100 maiores empresas de tecnologia do mundo, 80 já possuem escritórios em Singapura. Além de empresas de tecnologia como Amazon, Alibaba, Apple, Baidu, Google, Tencent e Facebook, gigantes como Coca-Cola, Kraft e Unilever, empresas de semicondutores como Broadcom, Micron e Qualcomm ou petrolíferas como ExxonMobil e Shell também estão lá. Singapura se tornou o local preferido para empresas americanas e europeias localizarem suas sedes regionais na Ásia. Essa concentração única cria ambiente propício para startups com soluções B2B prosperarem.

O que atraiu tantas empresas para esta pequena ilha? Com uma população fluente em chinês e inglês, instituições públicas sólidas e, praticamente, a ausência de corrupção, a seriedade do Governo de Singapura consegue garantir aos investidores que eles encontrarão o ambiente ideal para estabelecer suas empresas, além de mão de obra qualificada, especialmente nas áreas de tecnologia.

Governo, universidades e empresas compõem um comitê que define diretrizes e prevê as profissões do futuro inserindo-as no programa das escolas de ensino médio. As universidades têm autonomia limitada e devem responder as diretrizes governamentais para pesquisas e produção de conhecimento nas áreas pré-determinadas por este comitê. Verbas e investimentos são garantidos de acordo com os resultados que estas universidades entregam para o governo, empresas e sociedade. Até 2020, o país terá 40% dos jovens em idade universitária frequentando os bancos das universidades que são disputadíssimos e acessíveis apenas aos melhores alunos.

Singapura destina 20% das vagas universitárias do país para jovens talentos que vêm de todo o mundo, além de incentivar o intercâmbio de seus estudantes para as melhores universidades do mundo. Esta é uma estratégia que mantém oxigenado o ambiente acadêmico do país e que traz para dentro de casa o que está acontecendo em termos de pesquisas e inovações mundo a fora. Quando ocorre a produção de patentes, em alguns casos, as universidades podem, inclusive, tornarem-se sócias das empresas.

“Technopreneurship” ou “Techempreendedorismo” é o termo do que o governo fomenta e promove. Classificado como o país mais inovador da Ásia pelo Índice de Inovação Global, o regime de proteção IP de Singapura, considerado um dos melhores do mundo, garante aos empreendedores a segurança de que suas inovações de alto valor serão protegidas.

Relação entre empresas, startups e IES:

Singapura também inovou ao construir um espaço único para reunir todas as startups do país. O “Bloco 71”, que um dia foi um antigo prédio industrial dos anos 70, foi completamente reformado pelo governo. Localizado próximo ao campus da mais importante universidade do país, a National University Singapore -NUS, este prédio de sete andares abriga um ecossistema que atualmente reúne mais de 250 startups em um único local. A proximidade com a universidade facilita e promove a integração dos estudantes com este ambiente inovador por meio de estágios, empregos, pesquisas e a colaboração contínua entre startups e universidade.

Singapura tem priorizado investimentos e dado especial atenção à educação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Ficando em primeiro lugar no Índice Asiático de Transformação Digital 2018 pela Economist Intelligence Unit (EIU).

O governo não hesita em concentrar esforços para promover estas áreas de estudo, inclusive priorizando-as em relação a outras áreas como humanidades. Com 2.2% de taxa de desemprego, o país é um exemplo de gestão e inovação. As empresas pagam em média 17% de impostos e as pessoas menos de 25% para desfrutar dos grandes investimentos do estado.

O governo de Singapura anunciou planos para investir US$19 bilhões (mais de R$75 bilhões) em Pesquisa & Desenvolvimento nos próximos cinco anos – um orçamento maior do que o do Reino Unido e comparável ao dos Estados Unidos. Sob o esquema Startup SG Equity, o governo destinou também centenas de milhões para co-investir com investidores do setor privado em startups de tecnologia sediadas em Singapura. Toda essa estratégia de cultura empreendedora é nitidamente conduzida pelo governo, que articula o sistema através de subsídios e supervisão de resultados de forma firme e constante.

Ciente de sua escassez de recursos naturais e espaço territorial, a estratégia, portanto, é concentrar investimentos no capital humano e tecnológico para manterem-se competitivos e relevantes no cenário global.

Singapura possui uma pequena população, o que pode significar uma desvantagem em números puros, mas com um sistema educacional que promove a competição pelas melhores performances acadêmicas é certo que ali encontrem-se matemáticos de altíssima qualidade. Por certo, este ambiente extremamente competitivo e indiscutivelmente implacável tem causado insatisfação e stress a crianças, jovens e famílias que lutam para conquistar um espaço nas universidades que são mais valorizadas que os cursos técnicos. Entretanto, é com essa forte atuação do governo e com um clima permanente de competitividade que este pequeno país tem nutrido talentos de alta qualidade, sendo, inclusive, citado entre os lugares mais felizes do mundo (observando que a estabilidade econômica leva à satisfação pessoal).

Por fim, o fácil acesso ao capital e mecanismos simples e eficientes para se lançar uma empresa, somado ao fato do custo ser um décimo do de operar no Vale do Silício favorece, especialmente, que startups em estágio inicial ali se instalem.

Com este plano estratégico robusto e duradouro, olhar holístico e capaz de permear todo o sistema desde ensino básico até universidades, empresas e sociedade, Singapura tem consolidado sua posição entre os países mais desenvolvidos do planeta.