Ao longo da 11ª Missão Técnica Internacional do Semesp, que está visitando os países de Singapura e Índia, vamos publicar, diariamente, na seção Lições Aprendidas (#liçõesaprendidas) um resumo com as principais discussões que estão sendo apresentadas nas universidades visitadas.

No segundo dia da missão, em 3 de maio, os participantes da 11ª.  Missão Técnica do Semesp tiveram a oportunidade de acompanhar quatro apresentações na Universidade Nacional de Singapura, cujos principais aprendizados foram:

Confira mais Lições Aprendidas aqui

Apresentação 1

Liderança na Educação Superior: Como preparamos nossos estudantes para se prepararem para o futuro (Leadership in the Higher Education: How do we prepare our graduates to be future-ready)

Prof. S Gopnathan

A apresentação abordou estratégia de formação de professores na Universidade Nacional de Singapura. Para o professor Gopnathan, a infraestrutura, a tecnologia e os demais recursos são importantes para se ter um sistema de educação de excelência, mas é o professor e a qualidade das suas aulas os recursos que fazem a diferença. Segundo ele, “nenhum sistema de educação será melhor que a qualidade dos seus professores. Se os professores forem ruins, o sistema será ruim”.

Portanto, formar bem os professores e mantê-los atualizados e motivados é um elemento fundamental para o sucesso da NUS e do sistema de educação de Singapura.

O professor Gopnatan apresentou um roteiro detalhado das atividades que a universidade desenvolve para garantir a qualidade do corpo docente. O processo envolve:

  1. A identificação do perfil desejado do docente;
  2. O detalhando das competências e preparações necessárias para a docência;
  3. A atração e o recrutamento;
  4. A definição clara das responsabilidades e a garantia da autonomia docente;
  5. O estabelecimento de uma carreira docente (até a aposentadoria);
  6. A política de remuneração e benefícios com foco meritocrático (ligada ao cumprimento de metas), buscando reter talentos;
  7. O monitoramento e avaliação da qualidade docente permanente com critérios claros.

Chama a atenção que abordagem de formação, desenvolvimento e retenção dos talentos docentes da NUS é muito semelhante a de corporações empresariais. Observa-se uma preocupação clara de atrair os melhores profissionais (a universidade recruta grande parte de seus professores no exterior), de monitorar e avaliar permanentemente, de estabelecer relações entre resultados e remuneração e outras tantas estratégias utilizadas no ambiente empresarial na gestão estratégica de  pessoas.

Segundo o professor, um dos desafios que a NUS vem enfrentando é o reeducar pessoas que estão na faixa dos 40 aos 55 anos, e que estão retornando à universidade para desenvolver competências que necessitam para continuar atuando no mercado de trabalho.

Até o momento, o foco da universidade era preparar jovens para entrar no mercado de trabalho e seu corpo docente tinha as qualificações necessárias para lidar com este público.  Com a ampliação do escopo da NUS se voltando também para reeducar profissionais maduros, o corpo docente precisa se preparar para lidar com este novo perfil de alunos, que passa a repartir as salas de aulas com os alunos mais jovens.

Mais uma vez, observa-se a preocupação da NUS em criar uma visão de futuro, identificar oportunidades, elaborar planos para atuar neste futuro, implementa-los e monitora-los utilizando ferramentas gerenciais disponíveis no ambiente corporativo.

Confira a cobertura completa da 11ª.  Missão Técnica do Semesp

Apresentação 2

 Fortalecendo a Educação da TVE Internalizando a Educação: o que podemos aprender da Experiência de Cingapura? (Strengthening TVE Education Internalizing Education: what can we learn from Singapore Experience)

Prof. Anne Pakir

A internacionalização tem um papel estratégico no sistema universitário de Singapura e na estratégia da NUS, contribuindo para retroalimentar a produção acadêmica da instituição.

Segundo a professora Anne, a origem portuária, os poucos recursos naturais, a economia aberta, as competências transacionais dos locais desenvolvidas ao longo dos anos, a sociedade multicultural, multiétnica, multilíngue, multirreligiosa e, mais recentemente, o caráter cosmopolita da cidade, contribuíram para o espírito internacionalista dos cidadãos de Singapura, do sistema de educação local e da universidade.

Além disso, o projeto nacional desenvolvimentista empreendido desde a independência em 1965, focado no desenvolvimento de capital humano, direcionou muitos recursos para a área de educação (2o. maior orçamento do governo), possibilitando que as universidades tivessem suporte financeiro para investir em projetos de internacionalização.

Outro fator que, segundo a professora, contribui para a internacionalização das universidades de Singapura é o fato do país ter adotado o inglês como idioma oficial do seu sistema de educação.  Isto facilita tanto o envio de alunos e pesquisadores para países de língua inglesa, como o recebimento de alunos  oriundos de muitos países.

No caso específico da NUS, na década 90, a universidade implementou um programa estruturado de intercâmbio com estudantes (SPE). Neste período, também são iniciados programas de dupla certificação com universidades internacionais de alta reputação.

De acordo com a professora, os bons resultados que a NUS já vinha obtendo nos rankings internacionais de avaliação lhe dava reputação para estabelecer parcerias com universidades de alto reconhecimento no exterior.

Nos anos 2000, a universidade implementa o programa de NOC (NUS Overseas College), que consistia na implantação de campus virtuais que atingiram 12 cidades no exterior. Os alunos eram enviados para estes  campi para estagiar em startups e organizações inovadoras e para desenvolver atividades acadêmicas em universidades parceiras.

São deste mesmo período a parceria com a Duke University, na escola médica, e a entrada da NUS em redes internacionais de pesquisa (AUN, IARU, APRU, U21).

Na década seguinte, após o ano 2010, os programas de intercâmbio são ampliados e a universidade atinge a meta de 2 mil intercâmbios no ano.

Em 2010, é estabelecida a parceria da Medicina da NUS com o Imperial College de Londres e, no ano seguinte, a parceria YALE-NUS College, com a oferta de cursos da universidade americana Singapura em estrutura dedicada no campus da NUS.

Neste período, também é criado o NOC/ Block 71, que consistia na estruturação de um prédio para acolher os estudantes e pesquisadores que retornavam de seus estágios em startups no exterior. A ideia do projeto era estruturar uma espécie de aceleradora de startups com estes alunos egressos.

Outra iniciativa importante foi o desenvolvimento do programa de viagens de aprendizagem, no qual um grupo de 20 a 30 alunos realiza uma viagem de 2 a 3 semanas, com objetivo de vivenciar experiências internacionais.

Nos últimos anos, o foco da estratégia de internacionalização da NUS continua voltada para a inovação e o empreendedorismo. Além disso, a universidade busca exercer um papel de liderança em redes de pesquisa, aprofundar e diversificar as conexões internacionais que possui e fortalecer sua participação e influência nos países asiáticos.

É importante observar que as estratégias de internacionalização apresentadas são partes integrantes do propósito (Missão, Valores e Visão) da NUS. Além disso, observa-se um grande alinhamento das estratégias de internacionalização com os demais projetos e estratégias apresentados pela universidade, por meio de outros palestrantes.

Independente do gigantismo e das peculiaridades da NUS, várias das experiências apresentadas como a participação em redes de pesquisa, as viagem de aprendizado, a conexão da internacionalização com as redes de startups, os campi virtuais e outras podem ser uma boa referência para as IES brasileiras que precisam se internacionalizar.

Apresentação 3

 Um estudo de caso de Admissão, Resultados e Perspectivas de Emprego no Brasil (A case study of Admission, Outcomes and Employment Prospects in Brazil)

Prof. Andrew Francis Tan

O professor Tan, um americano que leciona na NUS, em Singapura, compartilhou com o grupo sua experiência de realizar uma pesquisa acadêmica no Brasil, na qual ele analisou a implementação do sistema de cotas na UNB, nos anos 2000.

A apresentação do professor mostrou o quão diverso é o universo de docentes e pesquisas da NUS e que temas, que parecem ser  apenas de interesse local, podem ser objetos de pesquisa de universidades diferentes regiões do mundo.

Apresentação 4

Inteligência Artificial, Robótica e suas implicações nas estimativas de trabalho

Prof. Eduardo Aranal

O professor Eduardo, um especialista em pesquisas na área da inteligência artificial, apresentou um cenário sobre como deve ser a evolução destas tecnologias nos próximos anos e qual deve ser o impacto destas mudança no mundo do trabalho, nas políticas públicas e no setor de educação.

Segundo o professor, as pesquisas sobre a 4a. Revolução Industrial indicam desde um cenário pessimista, no qual haveria uma redução de 47% dos empregos, até pesquisas mais animadoras no qual este impacto poderia ser bem menor, da ordem de apenas 9%.

Apesar de não crer no cenário mais catastrófico, o professor estima um mercado de trabalho mais restrito, exigindo novas habilidades e muito mais competitivo. Ele não acredita que a presença da tecnologia signifique a perda automática dos empregos, mas, sim, sua modificação.

O professor analisou os trabalhos que, na sua visão, ganharão com as mudanças (data cientistas, técnicos em robótica, profissionais on-line e outros), os que devem perder (normalmente trabalhos repetitivos, de baixa interação e que podem ser automatizados) e quais devem ser os impactos sobre os Estados e as políticas públicas. Ele destacou também quais as habilidades que devem ser valorizadas no futuro próximo e quais serão os desafios das universidades para desenvolvê-las.

Para o professor, as universidades deverão estar preparadas para não apenas para difundir as novas habilidades, mas precisarão  reinventar seus modelos de negócio, pois estarão focadas num público mais diverso e utilitário de outras tecnologias,  o que exigirá uma customização muito maior da sala de aula do que ocorre hoje.

A principal lição aprendida com a análise do professor foi que, mesmo que o cenário não seja tão devastador para o emprego como alguns analistas têm estimado, o desafio de mudanças para as universidades e outras organizações da área de educação será muito grande.

No caso da NUS, a estrutura de oferta já está sendo repensada para atender não só os jovens que estão se preparando para entrar no mercado, mas os profissionais com 20 ou 30 anos de mercado, que precisarão voltar à universidade para se requalificar. Talvez este seja um desafio importante a ser encarado por todas as instituições de ensino superior que busquem estar no mercado no futuro próximo.