Ao longo da 11ª Missão Técnica Internacional do Semesp, que está visitando os países de Singapura e Índia, vamos publicar, diariamente, na seção #LiçõesAprendidas um resumo com as principais discussões que estão sendo apresentadas nas universidades visitadas.

No primeiro dia da missão, em 2 de maio, o tema central foi a capacitação executiva para líderes do Ensino Superior (“Recalibrating Higher Education: Insights from Singapore”/ “Recalibrando a Educação Superior: Apontamentos de Singapura”), ministrado pelos docentes e dirigentes da NUS para os participantes da 11a. Missão Técnica do Semesp.

Confira as quatro apresentações e os principais aprendizados com cada um dos professores da National University of Singapore (NUS), a primeira IES visitada em Singapura:

Apresentação 1. Visão Geral da Elaboração de Políticas Educacionais em Singapura: com referência especial às universidades

Prof. S Gopnathan – Professor Lee Kuan Yew School of Public Policy  – NUS and Partner, Singapore Education Consulting Group.

Singapura é um pais muito peculiar, pois apesar de ser muito pequeno (700 km2),  de ter uma população de apenas cinco milhões de habitantes e de não possuir reservas naturais ou outro tipo de recurso valioso (petróleo, produção  agrícolas etc.), tornou-se referência pela qualidade da sua educação, tendo listadas nos rankings de ensino superior duas de suas universidades listadas como as 12 melhores do mundo.

Segundo o Professor Gopnathan, o resultado é produto de escolhas realizadas pelo país ao longo do tempo, de uma burocracia pública eficiente, uma cultura de muito respeito às leis e muito planejamento estratégico, execução e controle rigoroso das metas de políticas públicas de educação.

O país possui apenas seis universidades, todas públicas, e o sistema é financiado pelo Estado. Apesar de públicas, as universidades de Singapura cobram anuidades de seus alunos, pois, pela cultura local, o que é oferecido gratuitamente não é valorizado. Porém, existem subsídios para os alunos que necessitam de apoio financeiro  para estudar.

O foco da educação superior do país é a alta qualidade, de forma que o governo vem resistindo a pressão da sociedade de ampliar o número de vagas nas universidades. O percentual de estudantes na faixa de 18 a 24 anos nas universidades de Singapura é relativamente baixo.  Em 2017, eram 35%,  e a previsão para 2020 é de 40%.  Ou seja, de modo geral, o ensino é bastante elitista, voltado para um segmento resiliente a enfrentar as duras exigências de performance das universidades locais.

Por outro lado, o ensino universitário é complementado por um robusto sistema de educação vocacional ( TVET) que abrange  os outros 65% dos jovens, distribuídos pelo ensino técnico e Politécnico (modalidade que tem lógica e duração semelhantes às formações superiores de três anos do acordo de Bolonha).

Outra característica do  sistema é criar caminhos para que os alunos que fizeram o ensino técnico e o politécnico consigam acessar a universidade num segundo momento. Mantendo assim a possibilidade destes alunos se graduarem mesmo que bem mais tarde.

O sistema universitário tem forte coordenação do Ministério da Educação, que define os investimentos, a direção e as metas do ensino e da pesquisa das universidades.

Apesar do controle público, a gestão tem uma lógica de governança muito semelhante ao das grandes corporações privadas, com visões de futuro e planos estratégicos desdobrados em objetivos e metas bem definidas e muita cobrança por resultados.

Os gestores das universidades são escolhidos aos moldes dos executivos das corporações privadas e podem, inclusive, ser recrutados em universidades internacionais. Eles se comprometem com entregas de resultados e são recompensados quando atingem os resultados definidos, podendo, também, ser dispensados quando não os entregam.

O foco do ensino e da pesquisa são as áreas de exatas, as ciências da saúde, de tecnologia e outras relacionadas à inovação e com alto impacto na economia de Singapura.

A lógica do sistema é a meritocracia, oferecendo oportunidades a todos no ensino básico, mas restringindo o acesso ao ensino superior aos melhores qualificados. Segundo o professor Gopnathan, esta foi uma escolha realizada nos anos 50: ter no país uma educação superior de alta qualidade e de classe mundial.

A Educação é um ativo chave para a economia local, e os ministros da educação, normalmente, são fortes candidatos a posições de maior destaque na política nacional.

Apresentação 2. Fortalecendo a Educação Vocacional

N Varaprasad – Professor  Lee Kuan Yew Scohool of Public Policy  – NUS and Partner, Singapore Education Consulting Group.

O destaque da apresentação foi a importância do ensino vocacional no sistema de educação e na economia de Singapura. Esta modalidade de cursos, que abrange a maior parte das formações no país, precisava ser algo atraente para os jovens, e não uma formação de segunda classe para os que não conseguiram chegar à universidade.

O professor destacou um conjunto de premissas para tornar estes cursos mais qualificados e atraentes:

  1. Formação básica robusta ( “impossível desenvolver habilidades sem conhecimento”);
  2. Professores com formação técnica (pelo menos cinco anos de experiência na área) e formação pedagógica (que pode ser desenvolvida nos recrutados);
  3. Alunos motivados (aconselhamento de carreira, etc..)
  4. Ambiente de ensino autêntico para a aprendizagem do tema;
  5. Qualificações reconhecidas pelo mercado;
  6. Infraestrutura semelhantes ao das universidades (atividades esportivas, ambiente de convivência etc.)
  7. Possibilidade de dar continuidade dos estudos na universidade;
  8. Diversidade de gêneros (cursos para homens e mulheres).

O esforço de atrair os estudantes para estes programas envolve, inclusive, campanhas publicitárias visando aumentar o valor destas profissões junto aos jovens e suas famílias.

Segundo o professor, o grande desafio do momento para este setor é pensar nas habilidades necessárias para o trabalho do futuro. Neste sentido, um dos enfoques que estão sendo adotados é o desenvolvimento de competências empreendedoras que permitam aos profissionais se inserir de diferentes formas de trabalho na nova economia.

As lições da Singapura para o ensino vocacional podem ser bastante úteis para repensarmos nossos cursos de tecnólogos.

Apresentação 3. Educação e sua contribuição o para o Civismo

Prof. Keneth Paul Tan

O professor Tan compartilhou com o grupo sua experiência de implementação  de um programa que desenvolve na universidade voltado a engajar os alunos a se tornarem bons membros da sociedade civil, educando-os para a justiça social e os valores democráticos.

Utilizando técnicas de elaboração de mapas mentais, método socrático de discussão e desenvolvimento de estudos de caso com base em situações reais da comunidade local, o professor mobiliza os alunos ao pensamento crítico e ao aprimoramento de soft skills (tolerância, empatia, respeito, confiança et.).

O programa desenvolve debates sobre temas complexos em sala de aula, buscando criar para os alunos um ambiente seguro, inclusivo e de racionalidade que permita uma discussão estruturada e a proposição de soluções.

O programa chama atenção pois, apesar da política de educação do país ser orientada ao desenvolvimento nacional e da visão da universidade ser fortemente orientada a resultados (metas, rankings etc), busca-se atingir resultados pouco tangíveis em relação às métricas perseguidas, mas que podem trazer boas contribuições para a formação dos estudantes como cidadãos.

Este programa oferece uma bom caminho para IES que procuram desenvolver habilidades relacionais e outras soft skills em seus alunos.

Apresentação 4 Educação ao Longo da Vida

Prof. Susanna Leong

A professora Susanna apresentou a nova visão da Universidade em relação ao ex- alunos.  A NUS passa a tratar a comunidade de alunos e ex-alunos como “alunos para toda a vida”.

A ideia central é que a universidade deixe de estar focada apenas em fornecer capacitação pré-emprego e passe a pensar também nos alunos já formados, mudando seu modelo de negócio para a oferta de educação continuada.

Segundo a professora, as mudanças da tecnologia e do mundo do trabalho estão tornando muitos ex-alunos profissionais que precisam aprender novamente várias coisas, e a universidade deve se preparar para atende-los .

Segundo ela, na NUS, assim como nas demais universidades, a educação continuada é uma atividade periférica, voltada apenas a alguns nichos. A ideia é pensar que, daqui para frente, a educação continuada deve ser o core da universidade e, para isto, deve se preparar para ofertar programas não só para os matriculados em seus cursos de graduação e pós-graduação, mas também para toda a comunidade de ex-alunos.

Aproveitando uma oportunidade de um programa do governo que subsidia o investimento em capacitação profissional, a universidade está reformulando suas disciplinas e cursos para atrair  um outro universo de potenciais estudantes. Para isto, está promovendo uma série de adequações em metodologias de ensino, capacitação docente e outras atividades mudando seu escopo de atuação.

Este é um outro apontamento interessante da NUS para as nossas IES; com certeza, os egressos de nossas IES também devem estar precisando se capacitar em muitas coisas.