O Semesp apresentou para a imprensa, durante o 24º FNESP, a pesquisa inédita Risco de “apagão” de professores no Brasil. Com ampla repercussão em veículos de comunicação de todo o país, a pesquisa do Instituto Semesp aponta que o déficit de professores em todas as etapas da educação básica pode chegar a 235 mil em 2040.

De acordo com o estudo, o número de calouros em cursos de licenciatura apresentou uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 4,4% entre 2010 e 2020. A partir de 2016, os ingressos em cursos EAD ultrapassaram os ingressos em cursos presenciais e, em 2020, esse número chegou a 73,2% dos novos alunos. Já o número de ingressantes em cursos presenciais de licenciatura diminuiu 37,6% na última década.

Porém o número de egressos/formados em cursos de licenciatura apresentou um crescimento de apenas 4,3%. Esse resultado é por conta da alta evasão em EAD, principalmente nos cursos de licenciatura. Em média, um a cada três alunos ingressantes na modalidade EAD não termina a graduação.

Em relação ao total, a porcentagem de participação de ingressantes com até 29 anos em cursos de licenciatura também apresentou uma queda de 9,8 pontos percentuais na última década, passando de 62,8% em 2010, para 53,0%, em 2020.

O crescimento de ingressantes em licenciaturas, de 2010 a 2020, foi bem inferior ao crescimento registrado nos demais cursos. Em 10 anos, o número de calouros em licenciaturas cresceu 53,8%, porém, nos demais cursos, o crescimento foi de 76,0%. Além disso, o número de ingressantes com até 29 anos em licenciaturas cresceu apenas 29,7%, enquanto nos demais cursos esse número chegou a 49,8% na mesma faixa etária. Já entre os calouros em licenciaturas com mais de 29 anos, o aumento foi de 94,4%.

Para a presidente do Semesp, Lúcia Teixeira, “esse crescimento de estudantes acima dos 29 anos se dá, em sua maioria, por pessoas que já trabalham na educação. Isso acontece em razão da lei que obriga o professor em exercício a ter formação mínima na área de pedagogia ou em licenciaturas para o magistério na educação básica”, explica.

Considerando a taxa atual de 20,3 pessoas com idade entre 03 e 17 anos para cada docente em exercício na educação básica, em 2040, serão necessários 1,97 milhão de professores para atender a demanda de alunos na mesma proporção de hoje. No entanto, mantendo as mesmas taxas de crescimento de 2021, estima-se que o número de professores diminuirá 20,7% até 2040. Dessa forma, o número de professores em atividade nesse ano será de 1,74 milhão. Logo, considerando a demanda e a oferta, o déficit de docentes na Educação Básica em 2040 deve chegar a 235 mil.

Outro dado importante está relacionado à área do conhecimento na qual esse docente pretende atuar. Entre 2016 e 2020, o curso de licenciatura com maior número de concluintes foi Pedagogia. Já o curso de Formação de Professor em Educação Especial foi o que apresentou maior aumento percentual nesse período. A situação de defasagem é alarmante quando se trata do número de egressos em cursos de Formação de Professor de Biologia, Química, Educação Física e Letras.

Conforme mostram os números de ingressantes e concluintes em cursos de licenciatura separados por faixa etária de acordo com o questionário socioeconômico do ENADE 2021, esse maior desinteresse por cursos de licenciatura, principalmente para as formações específicas, também é acentuado entre os mais jovens. Além disso, 58% responderam que já têm experiência na área de docência.

Outro ponto da pesquisa indica o envelhecimento do corpo docente nos últimos anos, com destaque para o número crescente de profissionais prestes a deixar o cargo. Além do desinteresse dos jovens em ingressar em licenciatura, o número de professores jovens em início de carreira (com até 24 anos) caiu quase pela metade (42,4%) de 2009 a 2021, passando de 116 mil para 67 mil professores com até 24 anos. Enquanto o número de professores com 50 anos ou mais e, possivelmente na iminência de se aposentar nos próximos anos, tem aumentado significativamente, chegando a subir 109% no mesmo período.

“Com base nessa pesquisa, fica claro que o principal problema do Brasil não está relacionado à formação de docentes na modalidade EAD porque os dados mostram que na verdade não estamos formando novos professores. Os jovens não demonstram interesse pela carreira de professor”, reforça o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.

A pesquisa mostra que o desinteresse do jovem em seguir a carreira de professor está relacionado a diversos problemas, entre eles o processo de precarização dessa profissão, como a baixa remuneração e a falta de reconhecimento de sua importância perante à sociedade. Em 2020, um professor do Ensino Médio no Brasil recebia, em média, um salário de R$ 5,4 mil mensais, representando cerca de 82% da média geral da renda mensal das pessoas empregadas com ensino superior completo (R$ 6,5 mil).

Somado a essas questões, há o abandono da profissão devido às condições de trabalho precárias, como infraestrutura ruim de algumas escolas, falta de equipamentos e materiais de apoio, violência na sala de aula e problemas de saúde, agravados com a pandemia de Covid-19.

A pesquisa revela que os docentes também deixam de lecionar por falta de infraestrutura adequada das escolas para o ensino. O Brasil contava, em 2021, com aproximadamente 180 mil escolas de educação básica em funcionamento, sendo 77% públicas (maioria municipais) e 23% privadas. Considerando apenas as escolas públicas (138 mil), pelo menos 3,8% não possuíam sequer banheiro, 2,6% não tinham abastecimento de água (5,8% sem acesso à água potável), 2,5% não possuíam energia elétrica e 5,5% não tinham esgotamento sanitário.  Além disso, 21,6% das escolas não tinham acesso à internet e 39,9% não possuíam sala de professores.

Outro aspecto bastante relevante da pesquisa trata da saúde dos professores, em especial, a saúde mental, que já estava no limite e foi agravada com a pandemia de Covid-19. Essa classe de trabalhadores é uma das que mais sofre do chamado burnout, síndrome de esgotamento físico e mental, que tem sido apontada por diversas pesquisas como a principal causa de afastamento de professores. Em 2021, menos da metade desses profissionais (47%) avaliou sua saúde mental como boa ou excelente, mais de 34% continuaram reclamando do estresse prolongado e 72% disseram não ter acesso a apoio psicológico para cuidar da saúde mental.