“O futuro se constrói, e a universidade do futuro será aquela que vocês irão construir. Qual o tipo de IES que vocês querem ser?”, perguntou Francisco Marmolejo durante o primeiro dia da quarta edição do seminário O Futuro do Ensino Superior, nesta quinta-feira, 17. Realizado pelo Semesp pela primeira vez de forma online, o evento tem como objetivo apontar caminhos e propor ações para que as instituições de ensino enfrentem possíveis cenários de futuro.

“O Semesp está sempre a frente do seu tempo propondo soluções para nossas IES”, afirmou o Hermes Figueiredo, presidente da entidade durante a abertura do seminário. “Esse evento nasceu há quatro anos e tomou uma relevância muito grande ao discutir questões de inovação e possibilidades de ações, além de mostrar cenários possíveis para o ensino superior”, acrescentou Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp. O diretor de Inovação e Redes da entidade, Fábio Reis, destacou a qualidade das discussões e listou uma série de questões relacionadas ao futuro do ensino superior: flexibilização dos currículos, formação por competência, ensino híbrido, aprendizagem baseada em desafios, transformação digital, etc.

Líder de educação superior da Qatar Foundation, Francisco Marmolejo esteve no centro das atenções no primeiro dia do seminário. Segundo ele, as IES podem seguir dois caminhos para enfrentar o futuro do ensino superior: fazer as coisas da mesma maneira e esperar resultados diferentes ou realmente se atrever a mudar. “Falar sobre o futuro é aventurar-se por vários cenários e especular sobre coisas que podem ou não acontecer”, afirmou Marmolejo. “Quando pensamos no futuro no ensino superior, devemos nos assustar com o presente, principalmente depois que a pandemia modificou todos os cenário da educação”, continuou.

Em um cenário global extremamente complexo em que a própria relevância da educação superior está em risco, Marmolejo afirmou que as instituições de ensino superior precisam avaliar suas forças e fraquezas e estudar as ameaças e oportunidades do setor para, a partir daí, planejar a forma como elas se posicionarão em relação ao futuro. “O cenário atual é desafiador e não sabemos como as mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas vão influenciar a educação superior”, alertou ele apontando seis temas críticos para a educação superior: equidade no acesso ao ensino, a relevância deste para a sociedade, governança, inovação, sustentabilidade financeira e a questão da internacionalização, ponto bastante afetado com a pandemia.

A pandemia, inclusive, tem ensinado lições importantes para a educação superior. Entre elas, Marmolejo citou que as IES perceberam que possuem um planejamento insuficiente, com entorno operacional frágil e lideranças que não estão preparadas para tempos de crise. “Essa crise tem deixado as deficiências e as limitações do ensino superior mais expostas, servindo para que a sociedade e o próprio setor comecem a questionar as premissas tradicionais da educação superior”, avaliou ele.

“A internacionalização se refere apenas à mobilidade dos alunos? Os ranking são realmente importantes? O quão defasada e pesada é nossa carga acadêmica? Pra que serve a educação, estamos realmente preparando nossos alunos para o mercado de trabalho, para a vida e uma cidadania responsável?”, perguntou Marmolejo antes de apontar uma série de desafios que as IES já estão enfrentando: minimizar o déficit de aprendizagem com a transição emergencial do ensino presencial para o remoto, minimizar a desigualdade em razão da falta de acesso à tecnologia e encontrar novas formas de avaliação, por exemplo.

Marmolejo finalizou sua palestra apontando alguns caminhos para que as IES se tornem mais inovadoras e fiquem mais alinhadas com o futuro da educação. “As universidade apostarão em um ensino híbrido baseado na aprendizagem prática e multidisciplinar. Elas também trabalharão em redes e farão parcerias com outros setores do mercado”, adiantou.

Após a palestra de Francisco Marmolejo, os participantes do seminário participaram de uma dinâmica comandada pelo Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Fundação Getúlio Vargas para discutir futuros possíveis para além do ensino emergencial.

Educação 4.0

Na sexta, 18, Pauld Feldman, CEO da Jisc, organização que atua no Reino Unido oferecendo soluções educacionais e de pesquisa, abriu o segundo dia do seminário O Futuro do Ensino Superior com uma palestra sobre educação e pesquisa 4.0. Segundo Feldman, a tecnologia 4.0 irá causar uma grande transformação na educação superior, mudando o ensino e o aprendizado. “A chamada Educação 4.0 impacta temas como a transformação das formas de ensino, o aprendizado personalizado e novas modos de avaliação”, explicou ele.

“Nós avaliamos que haverá uma grande transformação na forma como os estudantes aprendem. O uso da Inteligência Artificial, por exemplo, permitirá que eles desenvolvam habilidades de modo extremamente personalizado, de acordo com suas aptidões e necessidades”, continuou Feldman. Outras tecnologias como robótica, Bid Data e realidade aumentada também irão impactar o ensino superior possibilitando que os estudantes sejam mais independentes e percorram uma jornada de aprendizagem mais efetiva e personalizada.

Para Feldman, é importante que as instituições de ensino se perguntem se elas estão ensinando para o mercado de trabalho de hoje ou do futuro. “A tecnologia está mudando como trabalhamos, então não faz sentido achar que ela não influenciará a educação”, avaliou ele. “As universidades precisam então desenvolver em seus alunos habilidades e tarefas em que os seres humanos são melhores que a tecnologia, como atividades que envolvem criatividade e interação social”.

Após a palestra de Paul Feldman, os participantes do seminário se dividiram em grupos para discutir quatro diferentes temas: “Ensino baseado em dados: uma boa ideia?”; “Como Machine Learning e Biohacking podem impulsionar a transformação da educação”; “UTech – Currículo 100% baseado em projetos”; e “Um novo olhar para o modelo de negócio educacional”. No final do evento, a doutora em Direito Constitucional e Coordenadora do EducaInova Hub Educacional, Dâmares Ferreira; o doutor em Ciências da Comunicação e Designer de ecossistemas inovadores na educação, José Moran; e o diretor de Inovação Acadêmica e Redes de Cooperação do Semesp, Fábio Reis, participaram de um debate sobre os temas discutidos ao longo do evento.