De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil tem pouco mais de 2 milhões de matrículas no ensino médio. Já taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos chega a 27,3%. Os números mostram o paradoxo da realidade brasileira: altos índices de desemprego e baixa adesão à formação técnica e profissional, um das caminhos para uma inserção mais rápida no mercado de trabalho.

O tema da formação técnica e profissional como estratégia para o desenvolvimento econômico do país foi discutido durante o segundo episódio da série de webinares Políticas Públicas: Dinâmica e Organização do Ensino Superior, realizado pelo Semesp nesta quarta, 2. Participaram do debate a diretora-presidente do Fórum Nacional das Mantenedoras de Instituições de EPT – BrasilTEC, Cleunice M. Rehem; a diretora de Políticas e Regulação da Educação Profissional e Tecnológica – SETEC, Marilza Machado Gomes Regattieri; e o CEO da TAFE Directors Australia (TDA), Craig Robertson; além do presidente em exercício da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação CES/CNE, Joaquim Jose Soares Neto.

Cleunice M. Rehem iniciou o webinar trazendo uma série de dados sobre a realidade da formação técnica e profissional no Brasil, destacando que o país explora muito pouco o potencial da educação técnica. “Esse é um tema instigante para o nosso país, uma importante estratégia de desenvolvimento econômico que tem ainda um impacto social em nosso capital humano”, decretou. “A educação técnica proporciona uma maior empregabilidade por meio de uma inserção mais rápida dos jovens no mercado de trabalho, aumentando a produtividade e o próprio desenvolvimento econômico do país”.

Segundo Cleunice, o Brasil tem hoje cerca de 12 milhões de jovens entre 18 e 24 anos que não estudam e não trabalham. “Eles são potenciais alunos do ensino técnico”, afirmou, apontando que, para isso, é preciso um maior investimento do governo na educação técnica, que ainda sofre com falta de financiamentos e mesmo reconhecimento e valorização da sociedade.

“Pesquisas apontam que  52% das empresas se mostram preocupadas com a falta de mão-de-obra técnica ligada a questões tecnológicas. Outras 61% afirmam ter dificuldades para encontrar profissionais técnicos”, citou Cleunice. “Essas são boas razões para que o país invista maciçamente na formação técnica, contribuindo com os avanços necessários para a formação desses jovens e desenvolvimento de nossa economia”, finalizou.

Confira documento Diretrizes de Política Pública para o Ensino Superior Brasileiro

Marilza Machado Gomes Regattieri também lamentou que as empresas não consigam identificar profissionais qualificados para desempenhar determinadas demandas necessárias e afirmou que a formação técnica e profissional é uma solução para esse mercado com mudanças de demandas cada vez mais rápidas. “A formação tecnológica é uma saída para a questão dos avanços tecnológicos dentro desse contexto de novas oportunidades de funções e tarefas, de novas competências profissionais necessárias”, avaliou.

Segundo ela, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) está desenvolvendo o projeto Novos Caminhos para buscar um alinhamento maior entre a educação técnica e o setor produtivo a partir de uma flexibilidade curricular e uma ampliação da oferta de cursos técnicos profissionalizantes. “Nosso objetivo é preparar os profissionais para ocupar uma função, aumentando a qualidade da oferta e promovendo um maior interesse dos jovens pela educação profissional”, afirmou. “Nosso lema é Educação Profissional e Tecnológica gerando mais oportunidades de emprego, renda e novas tecnologias”.

Craig Robertson, CEO da TAFE Directors Australia (TDA), organização australiana responsável por promover nacional e internacionalmente o papel crítico que a educação técnica e profissional desempenham no ensino superior e no desenvolvimento do país, finalizou as apresentações do segundo episódio da série contando um pouco sobre como a ideia de formação vocacional transformou a educação na Austrália. Um em cada quatro australianos faz atualmente cursos na modalidade de formação técnica (VET – Vocational Education and Training) e cerca de 34% da população economicamente ativa possui algum tipo de certificação técnica ou profissionalizante.

“A inclusão de um modelo de educação vocacional na política do país, com certificações estruturadas a partir de uma matriz de competências, permitiu a oferta de uma trajetória articulada entre a educação técnica e profissional e de ensino superior, beneficiando um expressivo contingente de trabalhadores, formando-os com as habilidades exigidas pela economia moderna e oferecendo-lhes um treinamento prático de alta qualidade associado com o conhecimento especializado voltado para carreiras acadêmicas”, defendeu.

Confira segundo episódio na íntegra

Realizado pelo Semesp, em parceria com a Embaixada da Austrália e Conselho Nacional de Educação (CNE), a série de webinares discutirá nos próximos episódios avaliação do sistema de ensino superior e inovação acadêmica. O objetivo é discutir políticas públicas fundamentais para que o ensino superior enfrente o cenário da pandemia e da pós-pandemia. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui.