Especialistas indicam como se posicionar em relação à criação de conteúdo digital, produto cada vez mais em evidência no mercado educacional devido à crescente popularização dos tablets

por Felipe Falleti


Quando se deu o início da popularização dos computadores, no começo de 1990, os gestores das instituições de ensino hão de lembrar do contorcionismo financeiro que se precisou fazer para montar laboratórios de informática, licenciar softwares e criar soluções digitais de ensino. Na época, não havia um especialista que contestasse a importância dos computadores no meio universitário. Uma década depois, o boom dos notebooks e, logo depois, dos netbooks (menores e mais portáteis que seus antecessores) fizeram instituições reverem seus planos em relação às novas plataformas digitais. Agora, mais uma vez, a criação e disseminação dos tablets, dispositivos ainda mais portáteis e adequados ao uso educacional, quebra a cabeça de gestores a respeito da sua implantação e uso nas instituições de ensino superior.

Na opinião de Silvio Oliveira, pesquisador de mídias digitais, tentar prever qual será o próximo gadget a reunir material didático é uma tarefa inglória, mas as instituições de ensino que criarem soluções capazes de se adaptar a qualquer novo hardware que apareça devem levar vantagem sobre as demais. “Hoje, todo o mercado discute como o iPad poderá ser aproveitado na sala de aula e já há uma indústria de aplicativos educacionais para explorar as possibilidades desse tablet”, reflete Oliveira. Ele lembra, no entanto, que em poucos anos o dispositivo da Apple pode perder sua hegemonia no segmento dos tablets para um sistema operacional mais aberto, como o Android. “Ou simplesmente deixar de existir porque vão inventar algum novo dispositivo mais eficiente, como um computador de baixo custo que pode projetar imagens na mesa ou na parede ou ainda um gadget com tela dobrável que possa ser guardado dentro da carteira”, sugere.

Desde 2011, instituições como a Universidade Estácio de Sá, Centro Universitário Uniseb COC e a Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior (Fappes) adotaram modelos de educação baseados em tablets para distribuir material didático. O projeto mais ambicioso é realizado pela Estácio, que prevê investir até o final deste ano R$ 40 milhões para distribuir as “pranchetas digitais” com o sistema Android a seus alunos e oferecer material didático de todos seus cursos em formato ePUB ou PDF, extensões digitais mais comuns para leitura de textos digitalizados.

Como adiantou a revista Ensino Superior em reportagem na edição 151 em abril do ano passado, os benefícios imediatos da adoção de tablets pelas as instituições de ensino são livrar os alunos do peso (físico) dos grandes livros didáticos e encontrar uma forma simples e rápida de disseminar o material didático. Além disso, o modelo permite, por exemplo, negociar licenças de publicação em larga escala com as editoras e baixar o custo dos livros, que passam a vir em formato digital. Outra vantagem é poder distribuir um livro para todos os alunos de uma só vez, por meio de download, ao invés de obrigar que cada aluno, individualmente, vá até uma livraria para comprar o material didático.

Novo produto

O movimento das instituições de ensino superior, no entanto, ainda é tímido se comparado ao potencial dos tablets. No início deste ano, por exemplo, a Apple apresentou, em Nova York, a segunda versão de sua plataforma de livros digitais, a iBooks. A aplicação oferece uma espécie de “tutorial de desenvolvimento” para editores de livros didáticos e instituições de ensino criarem conteúdos educacionais explorando todo o potencial multimídia e de conectividade do tablet.

Na apresentação do iBooks 2, o ex-vice-presidente americano Al Gore, entusiasta do uso da tecnologia na educação, demonstrou alguns recursos da aplicação. Ao ler uma apostila digital de biologia, por exemplo, o usuário pode clicar sobre fotos coloridas para ampliá-las, checar mapas do corpo humano em três dimensões, assistir a
vídeos e ainda responder a enquetes on-line ao final de cada lição, medindo o quanto apreendeu do novo conteúdo.

Na avaliação de Kate Chan, pesquisadora do Laboratório de Tecnologias Digitais da USP, em São Paulo, apesar de um avanço, a adoção dos tablets como livros digitais nas instituições de ensino ainda representa um pequeno passo no progresso da educação. “São vários os estudos que mostram que a tecnologia, sozinha, pode fazer muito pouco pela educação. É seu uso casado com projetos didáticos bem estruturados e com a orientação de professores qualificados que permitirá acelerar o processo de aprendizado por meio de ferramentas digitais”, afirma.

Na avaliação da pesquisadora, a formação dos novos profissionais deve contemplar a capacidade para relacionar informações disponibilizadas em diversos meios. “Como o conhecimento estará disponível em rede, o estudante deve ser treinado desde a faculdade a fazer pesquisas, checar informações e cruzar os conteúdos que aprendeu na sala de aula com o disponibilizado na internet.”

Nesse contexto, o uso dos tablets para consulta de materiais didáticos que explorem a conexão com a internet é apontado como o próximo passo. Grandes editoras de livros e apostilas educacionais, como Ática, Scipione, Saraiva e Livraria Cultura tentam preencher este espaço, porém a passos lentos, tentando equilibrar o valor do investimento com a possibilidade de retorno financeiro.

Para Mauro Widman, coordenador de e-books da Livraria Cultura, o cenário para o livro eletrônico no Brasil é animador, mas ainda apresenta obstáculos para sua adoção em massa nas universidades. “Hoje, 1% do nosso faturamento vem de formatos digitais, mas a tendência é chegar a 5%, mesmo patamar dos Estados Unidos nos próximos anos”, diz Widman. As dificuldades para a expansão dos e-books estão no alto custo dos tablets e nas restrições contratuais entre autores e editoras.

Segundo Widman, muitos livros foram publicados com contratos de direitos autorais liberando apenas a publicação em papel. Logo, é preciso um trabalho burocrático para obter autorização dos autores para a publicação digital. Depois, é preciso digitalizar a obra, o que inclui investimentos elevados por parte das editoras. Com estes obstáculos, é um mito pensar que o dinheiro que a escola (ou aluno) investe no tablet será totalmente compensado com a economia que ele fará com livros.

Valor agregado

De qualquer forma, a digitalização dos materiais didáticos é um processo inexorável, o que assegurará ganhos de escala a quem investir nestas tecnologias. Para Silvio Oliveira, esse movimento poderá representar uma grande oportunidade de negócio para as instituições de ensino, que podem não só reduzir os custos dos materiais didáticos, como tornarem-se players deste mercado. “A instituição que criar um projeto incrível para as aulas de enfermagem ou física, por exemplo, poderá vendê-lo no mercado a outras instituições ou até mesmo para órgãos públicos, que devem iniciar experiências com tablets até 2014”, diz o pesquisador.

A proposta do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) é que até 2014 o Ministério da Educação implemente soluções baseadas no uso de tablets em colégios de ensino médio e universidades públicas. Inicialmente, a iniciativa terá caráter experimental, mas o potencial de adoção da plataforma pelo ensino público é imenso.

O caminho de digitalização das apostilas, livros e materiais didáticos é longo e não se sabe exatamente em qual formato eles serão consumidos pelos alunos no futuro. Está posto, porém, que o papel dará lugar a algum tipo de conteúdo digital, disponível em rede para diversas plataformas. E será impossível às instituições resistirem a esse processo.

 

 

Ajuda na telinha

A indústria de aplicativos para tablets e smartphones já é uma realidade no mercado mundial. Os programas podem ser utilizados seja para aprender mais sobre alguma área específica, organizar planilhas de estudo, agenda, assistir a palestras sobre temas de interesse, entre outras funcionalidades. Confira alguns apps muito bem adaptados à área educacional.

iStudiez Pro
Exclusivo para dispositivos da Apple. O software permite fazer anotações, registrar contatos, marcar nomes de livros e postar prazos. Uma das vantagens do app é receber avisos das datas de compromissos educacionais. Como o aplicativo reúne todas as informações acadêmicas numa só plataforma, que pode ser sincronizada na nuvem por meio do iCloud, o estudante pode aprender mais em menos tempo. Possui versão gratuita com recursos limitados. A paga custa US$ 0,99.

 

 

Evernote

 Disponível em praticamente todas as plataformas, o principal atrativo do app é o recurso para anotações. Também permite registrar aulas em áudio, além de armazenar contatos e imagens. Um de seus recursos mais interessantes é o que fotografa capas de livro e emite uma notificação com informações da obra. O app também explora os recursos de geolocalização para lembrar você sobre onde e quando você conheceu um professor, tirou uma fotografia ou fez determinada anotação sobre uma palestra ou programa de TV. Possui versão gratuita e pacotes pagos que custam até US$ 5 por mês por serviços premium.


TED Talks
Disponível para Android e iOS, o TED Talks agrega palestras ministradas por grandes experts de diferentes áreas. Mais de 1,2 mil videocasts ficam disponíveis para acesso via streaming. É possível escolher entre visualizar o vídeo de uma palestra ou somente escutar o áudio. Um recurso social permite também compartilhar seus TED Talks preferidos para seus contatos no Facebook, LinkedIn e Twitter. O app é altamente recomendável pela qualidade das palestras, ministradas por chefes de Estado, especialistas de renomadas universidades como Harvard e Stanford e empreenderes inovadores. Gratuito.

 

 

Kindle
Desenvolvido para quase todas as plataformas, inclusive quem em vez do smartphone tem um e-reader da Amazon, o Kindle. O software leva mais de 4 milhões de títulos digitais disponíveis na biblioteca virtual da empresa. Uma das vantagens do app é poder fazer downloads gratuitos dos primeiros capítulos dos livros disponíveis no site, Amazon.com, para leitura prévia. Quem quiser ler uma obra importada, não precisará esperar meses, apenas fazer o download do livro. E até o fim do ano o Kindle deve oferecer cerca de 5 mil títulos em língua portuguesa. Uma gigantesca biblioteca a tiracolo. Grátis.


Marketissimo
Qual é sua estratégia de mídia social? Você tem uma proposta convincente? O Marketissimo é um aplicativo que, como o próprio nome sugere, foi desenvolvido para apoiar ações de marketing e auxiliar profissionais que pesquisam e estudam este campo da comunicação. O app é rico em cases de ações de marketing e apresenta guias de melhores práticas para quem está planejando uma campanha. A maior parte do conteúdo do app, no entanto, é focada em análises de marketing digital, como ações em redes sociais, SEO (Serch Engine Optimization) e e-commerce. Logo, quem tem interesse em pesquisas e métodos offline de marketing pode se sentir um pouco desapontado. Possui versão somente para iPad e iPhone. Grátis.