Luis Alcoforado traçou uma trajetória histórica do papel da universidade ao longo dos anos até a sociedade digital

No período da tarde desta quinta, 26, o 21º FNESP apresentou um painel que discutiu o valor da educação para a sociedade 4.0, destacando a importância de seu papel transformador para a formação de pessoas e cidadãos éticos em uma sociedade cada vez mais digital e sem fronteiras. Participaram do painel o professor da Universidade de Coimbra, Luis Alcoforado, e o representante do Bando Mundial Francisco Marmolejo.

Luis Alcorafado começou o painel fazendo uma trajetória histórica do papel da universidade na sociedade ao longo. “A universidade teve como primeira missão e função social difundir a verdade e evitar a difusão do erro por meio da formação de profissionais e especialistas”, discorreu. “Nesse momento, a universidade foi relevante para um progresso econômico e material e, no século XX, atingiu o seu maior triunfo ao focar nas questões do ensino e da pesquisa”.

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Para o pesquisador, atualmente, uma das grandes questões que as universidades enfrentam é em relação à sua própria identidade. “Universidade para quê?”, questionou Alcoforado respondendo em seguida que está no cerne das instituições de ensino superior a construção do conhecimento e a reflexão crítica do mundo. “As universidades vivem uma constante tensão em relação à construção de suas identidades, seja referente ao ensino ou a pesquisa, a uma proposta mais cultural ou de formação profissional e em seu próprio público-alvo, uma universidade para todos ou destinada a poucos e os melhores”, avaliou.

Falando sobre o papel da universidade na era digital, Alcoforado refletiu sobre como a nova economia, as tecnologias e o conhecimento humano estão relacionados na definição dessa nova função. “Antes de mais nada, precisamos sistematizar o que é essa sociedade digital”, avaliou. “Ela é definida pelo valor das tecnologias, que assumem uma centralidade absoluta nas mais diversas dimensões de nossas vidas, tendo consciência de que elas dependem do conhecimento humano. Devemos então repensar esse conhecimento humano pensando nos valores da tecnologia”.

Para Alcoforado, um dos papéis da universidade atualmente é então buscar uma nova forma de entender a construção do conhecimento humano, tendo ela cinco grandes desafios. “Estabelecer uma confiança para o desenvolvimento da educação continuada; dar atenção tantos aos currículos formais quanto à reconstrução dos ambientes de aprendizagem; desenvolver nos estudantes a consciência de que não somos apenas cognitivos ou emocionais, mas um misto de ambos; buscar uma síntese e hierarquização dos saberes; e estabelecer uma contínua aproximação entre a comunidade e a universidade”, listou.

Francisco Marmolejo, do Banco Mundial, provocou os gestores e líderes educacionais a estarem cientes sobre as novas tecnologias e como elas podem ser utilizadas para a melhora do ensino superior

Impacto da tecnologia na educação 

Dando continuidade ao primeiro painel da tarde do dia 26, Franciso Marmolejo, do Banco Mundial, provocou os gestores educacionais presentes ao FNESP a estarem cientes das transformações tecnológicas. “Vocês não precisam ser especialistas, mas têm o dever de estar a par das novas tecnologias e como elas podem ser utilizadas pelas instituições de ensino”, decretou. “Os líderes precisam pensar fora da caixa e além do convencional, refletindo sobre o passado e o presente para pensar o que vai acontecer com o mundo e, consequentemente, com a educação superior”.

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Segundo Marmolejo, é muita ingenuidade dos gestores e líderes educacionais acharem que a educação está isolada e não será transformada pela Revolução 4.0. “Essa nova realidade é turbulenta e fascinante, então é preciso que aprendamos a olhá-la com lentes diferentes e atenção especial às mudanças que têm pressionado a educação superior a ser diferente do que é atualmente”, pontuou. “Temos que ser humildes e reconhecer que as universidades também devem mudar e que o futuro é um terreno fértil para a melhoria da educação superior. Se a universidade não mudar, ela perderá sua credibilidade e protagonismo”, adiantou.

Diante de um novo contexto tecnológico que tem mudado como vivemos e nos comportamos, será que a universidade ainda é relevante e continuará existindo? Segundo Marmojelo sim, mas haverá uma mudança de foco. “A questão não é mais informação, mas a capacidade de análise e utilização desse conhecimento”, afirmou. “Essa será a transformação mais importante para as universidades. Ensinamos uma coisa e a vida demanda outra, isso precisa mudar”.

Repensar como pensamos e distribuirmos o conhecimento. Para Marmolejo, essa é uma grande oportunidade para o ensino superior que quer manter-se relevante. “As universidades têm então uma função: firmar um compromisso para que a tecnologia seja utilizada de forma responsável e que crie oportunidades para todos. As universidades devem abraçar a flexibilidade pensando em governança, garantia de qualidade, empregabilidade etc”.

Para Marmolejo, com a compressão do tempo e a massificação da tecnologia, as universidades deverão preparar seus alunos não para mudar de emprego, mas sim de profissão. “Esses estudantes precisarão ter a capacidade de se adaptar a ambientes em constante transformação e que exigirão uma combinação de habilidade que ainda nem mesmo existem”, afirmou. “A capacidade de análise e do processo racional sobre informações de forma simultânea em tempo real abrirá um mundo de possibilidades infinitas, uma gama de dimensões que ainda nem mesmo conhecemos. No futuro, o grande problema será a falta de capacidade para usar a tecnologia de maneira inovadora. A próxima revolução será a dos conceitos”, profetizou.