Entrevista: Cecília Gaeta

“Várias das dificuldades que o docente encontra surgem porque não lhe foi dado durante sua formação a oportunidade de aprender a ser professor no ensino superior”

Assim como em qualquer outra etapa da educação, o desenvolvimento do ensino superior passa, impreterivelmente, pela qualidade de seus professores. No entanto, se há diversas opções de formação para o ciclo básico, ainda não há oferta de cursos que atendam a demanda para docentes do nível superior. Na opinião de Cecília Gaeta, coordenadora do curso de pós-graduação em docência do ensino superior do Centro Universitário Senac, esse profissional precisa ter qualificações específicas para que a instituição consiga formar o profissional desejado atualmente pelo mercado. Em entrevista para o site da revista Ensino Superior, Cecília fala mais sobre o assunto:

O que diferencia um bom professor da educação superior?

Ele compreende a complexidade do processo de ensinar e aprender e coloca-se como um profissional da educação superior. Reconhece e procura desenvolver, em um processo contínuo, suas competências nas dimensões: cognitiva, pedagógica e profissional. Em outras palavras, o bom professor é um profissional que desenvolve conjuntamente o “saber”, o “saber fazer” e no “saber ser”. Além disso, espera-se que esse docente tenha preocupação com o “aprender” do aluno. O aluno e o professor são, em conjunto, ativos participantes do processo de construção de conhecimento e desenvolvimento de competências.

Do ponto de vista pedagógico, como esse profissional pode atender as necessidades da geração que está entrando em um curso superior hoje?

É necessário levar em consideração não apenas o perfil dos alunos, o que por si só já um grande desafio, mas também as demandas de formação profissional do atual mercado de trabalho, muito mais exigente no que se refere ao domínio de conhecimentos específicos. Quanto mais nos preocuparmos em identificar e entender quem são, o que sabem e o que querem esses alunos, mais pistas teremos para analisar e organizar ações significativas. Possuiremos mais elementos para imprimir ritmos de aprendizagens de acordo com o perfil da turma, escolher estratégias que atendam suas características e, assim, proporcionar espaços de aprendizagem que desafiem e motivem os alunos.

Como ele pode oferecer uma boa aula quando há na mesma sala alunos com repertórios muito desiguais?

Em primeiro lugar, reconhecendo que não é fácil lidar com a diversidade. Em sala de aula, o professor encontrará variação social, econômica e cultural, diferenciação dos saberes e competências, além de divergência de motivações e expectativas profissionais. Para conseguir motivar nesse contexto cada vez mais heterogêneo, o docente deve planejar objetivos claros, factíveis, selecionando temas relevantes conforme as necessidades profissionais, dinamizando e inovando metodologias para proporcionar um papel ativo aos estudantes nas situações de sala de aula. Os alunos devem ser incentivados a trocar experiências e informações, resolver questões em conjunto, a refletir e compreender o significado e a utilidade daquilo que estão aprendendo. E devem receber feedbacks, para analisar seus erros e acertos.