Para o CEO da Kroton, atenção à maior camada da população é uma escolha em nome do desenvolvimento como um todo

Rodrigo Galindo

177_17A face executiva da futura maior instituição de educação de ensino superior do mundo será jovem. Seu primeiro diretor-presidente, Rodrigo Galindo, nasceu em 1976, tem fala assertiva e não economiza disposição para explicar seus planos e relatar como foi um dos momentos de maior impacto para o segmento de educação, do ponto de vista de gestão.

Apesar da pouca idade, experiência lhe sobra. Filho de uma família de educadores, Galindo deu seus primeiros passos no mundo do trabalho em ambientes educacionais, aos 13 anos. “Fazia fotocópias”, conta. De lá para cá, sua ascensão profissional não parou. Ocupou cargos de administração em uma das instituições de ensino do pai, Altamiro Galindo, em Cuiabá (a Universidade de Cuiabá, hoje parte do grupo Kroton). Formou-se como bacharel em direito e mestre em educação e chegou a CEO do Grupo Kroton Educacional. “Nasci como educador numa família de educadores. Tive de aprender a ser executivo”, diz.

Agora, prestes a se tornar uma das principais vozes do setor de educação no país, será uma das peças-chave para garantir qualidade educacional oferecida a tantos brasileiros, por comandar o gigantismo desse novo grupo educacional. “O que a gente nunca pode é colocar o resultado financeiro à frente dos resultados acadêmicos”, enfatiza ao garantir que essa nova instituição é de educação e não outra coisa. “É uma companhia, porque está no mercado de capitais. É também uma empresa, por ser atividade empresarial. Mas, acima de tudo, é uma instituição de educação”, assevera.

Ensino Superior: Qual é o sentimento em ser o futuro CEO da maior instituição de ensino educacional do mundo?
Rodrigo Galindo: O de responsabilidade. Um milhão de alunos depositarão nessa nova instituição o objetivo de mudar suas vidas. Temos a responsabilidade de contribuir da melhor forma para que atinjam esse objetivo.

O que significa educar tantos alunos?
Fizemos uma escolha, a de oferecer e democratizar a educação para muitas pessoas. A qualidade de um projeto educacional como esse tem dois elementos centrais: valorização do professor e tecnologia. Sem o professor incluído como centro do processo de ensino e aprendizagem, junto com o aluno, não conseguiremos entregar qualidade de ensino. E a tecnologia aplicada à educação, que nossa escala exige, é fundamental.

Como essa nova instituição impactará o mercado educacional?
Essa fusão não é ameaça. Não gera prejuízo às pequenas instituições de nicho ou grupos regionais. Há mercados específicos para cada um e continuarão existindo.

O que muda para a Kroton com a fusão?
É uma união de iguais. Temos talentos em ambas as companhias. Porém, constituímos uma operação muito maior, muito melhor. Somamos forças. Temos projetos educacionais de altíssima qualidade. As boas práticas vão ser concentradas. No final, os beneficiados serão nossos alunos, o futuro do país. Teremos mais investimentos para o desenvolvimento de conteúdo, cada vez mais consistente; para o desenvolvimento de projetos educacionais mais sólidos; para trazer tecnologia educacional de forma mais intensa.

O que motivou a fusão?
Fazia sentido estratégico. É bom para as instituições, alunos, acionistas, para o Brasil. A consequência disso é que se criou a maior instituição de ensino superior do mundo, que deve ser motivo de orgulho nacional, porque mostra a capacidade do país em construir instituições sólidas. Mas em nenhum momento o fato de ser a maior conduziu a decisão.

É conflituoso às instituições de ensino ter seu capital aberto e ao mesmo tempo manter compromisso pedagógico? 
De forma alguma. Superamos, há 10, 15 anos, o dilema de que a educação não pode gerar resultados financeiros. Porém, nunca podemos colocar o resultado financeiro à frente dos resultados acadêmicos. Isso não é uma opção, mesmo com visão estritamente empresarial. Além do lucro, nossos investidores estão preocupados com a geração de valor sustentável ao longo do tempo. Só vamos conseguir gerar valor sustentável se tivermos ensino de qualidade.

Como será a ampliação da operação da nova instituição? 
Ainda não temos plano estratégico definido, mas temos decisão conceitual. Por um ano e meio, após aprovação do Cade, não devemos fazer aquisições. Nesse período, voltaremos nossos olhos para extrair as  melhores práticas da união.

À frente da nova instituição, o que o senhor espera do Ministério da Educação?
Estabilidade para desenvolvermos projetos educacionais e podermos investir cada vez mais em qualidade de educação. O marco regulatório tem se mostrado mais estável. Já tivemos momentos de instabilidade, mas hoje é estável, conhecemos a regra do jogo. Estamos num bom caminho.

Na prática, o que significa essa estabilidade?
Significa não ter mudanças regulatórias sistemáticas. Ter regras claras para avaliação de cursos, credenciamento, indicadores regulatórios. Esse tipo de questão gera impacto às instituições quando há muitas mudanças. Temos indicadores regulatórios que poderiam ser aperfeiçoados, já que são importantes e relevantes ao Brasil, um dos países mais desenvolvidos em indicadores oficiais no mundo.

É difícil ter uma instituição e manter tudo o que o governo pede?
Sim, mas boa parte das exigências é necessária. Há ajustes a serem feitos e o governo tem de estar aberto para corrigir distorções, mas, no geral, para qualquer país ter qualidade de educação são necessários indicadores regulatórios. O governo está no caminho certo. O modelo regulatório não deve ser desconstruído. Ele deve ser aperfeiçoado. É um processo de evolução.