Fundamental para sustentar a inovação, especialistas mostram como maximizar a captação de recursos, envolvendo alunos, sociedade e boas parcerias

por Filipe Jahn

Representantes do Semesp e da Fiesp estiveram presentes na apresentação dos resultados da pesquisa promovida em parceria pelas duas organizações

A atividade empreendedora nunca nasce isoladamente, está associada a parcerias e levantamento de recursos para financiar a busca pela inovação e a construção do novo empreendimento. Um relato das melhores práticas para ampliar o financiamento das instituições, expandir e diversificar receitas também esteve presente nas sessões do 14º Fnesp. O evento teve a presença de Kevin J. Foyle, vice-presidente de desenvolvimento da Universidade Rice, do Texas (EUA), Andrew Watt, CEO da Associação dos Profissionais do Fundraising (APF), de Vancouver (Canadá), e Custódio Pereira, diretor-geral da Associação Santa Marcelina.

Ainda que com exemplos diferentes, as três vozes ecoaram o mesmo mantra de uma administração institucional menos dependente do financiamento governamental através de parcerias e um espírito empreendedor. Os três especialistas também foram uníssonos na busca pelo engajamento e investimento de ex-alunos e simpatizantes da instituição.

Andrew Watt citou os exemplos das universidades de Oxford e Cambridge, que por meio de ações integradas com consultores, advogados e outros colaboradores conseguiram arrecadar em oito anos o equivalente a 2,5 bilhões de dólares e 3,5 bilhões de dólares, respectivamente. “Mais de 20% dessas duas receitas vieram de pessoas que nunca frequentaram essas instituições, mas que tinham interesse em abrir o contato”, diz Andrew.

Já na Universidade Rice a receita anual de 551 milhões de dólares se deve basicamente ao departamento de captação de recursos. Kevin Foyle explicou que o setor trabalha, entre outras ações, com metas de doações que vão de US$ 11 mil a US$ 24 mil por aluno (na média). Para tanto, o custo médio da ação é de 10 centavos para cada dólar arrecadado. “Mas essa despesa não é a única razão do retorno”, revela o vice-presidente.

A instituição promove campanhas para os diversos investidores em potencial e os profissionais do departamento de recursos também atuam em um nível mais humano, mostrando que o objetivo é transformar estudantes extraordinários em grandes líderes.

No Brasil, porém, a cultura de captação de recursos ainda é incipiente. Para Custódio Pereira, a maioria dos gestores por aqui sabe quantos alunos têm, mas provavelmente não sabe quantos já se formaram ou conhece a trajetória deles. Como a palavra de ordem é inovação, para empreender novas formas de conseguir recursos Custódio sugere que o ideal é criar um departamento específico, mesmo que pequeno, para entrar em contato com ex-alunos, simpatizantes e a comunidade próxima para criar um banco de dados e assim incentivar o envolvimento.

Os fins e o meio
Um dos cases de sucesso em empreendedorismo e inovação apresentado durante o Fnesp foi o da Universidade de Warwick. Fundada em 1965 na Inglaterra, a instituição é relativamente nova se comparada a outras do mesmo país. No entanto, seus números impressionam. A universidade ocupa o 58º lugar no mais recente ranking QS e a 3ª posição entre organizações com menos de cinquenta anos. Com 23.400 alunos, a universidade tem mais de trinta centros acadêmicos, cinquenta centros de pesquisa, com uma receita que em 2012 atinge volumosos US$ 670 milhões.

Koen Lamberts, vice-presidente da instituição, explicou que apesar de uma visão pragmática em termos de financiamento, Warwick conseguiu destaque por montar uma estratégia de expansão baseada em três fatores: a busca incansável pela excelência acadêmica, independência financeira do governo e coragem para enfrentar desafios.

A independência financeira foi obtida por meio de atividades comerciais desenvolvidas pela própria instituição, como sites de recrutamento e agência de empregos para estudantes, pontos de venda de varejo, centros para treinamento e conferências. Outro grande exemplo é o Warwick Manufacturing Group. Fundado em 1980, o braço da universidade realiza pesquisas em parcerias com a indústria e serviu para consolidar relações com mais de mil empresas globais, como aeroespacial, automotiva e de seguro de saúde. “Isso nos garante milhões de dólares anualmente, que gastamos como bem entendemos”, comemora o vice-presidente.

Toda essa verba faz com que apenas 20% da receita da universidade seja proveniente do governo, o que faz dela a terceira instituição na Inglaterra com menos dependência do Estado, empatada com a Universidade de Cambridge e atrás da London School of Economics e da Universidade de Oxford.

Mas para estabelecer essa cultura empresarial, a instituição teve de promover, há cerca de 25 anos, uma intensa reforma interna, na legislação e na administração, resultado de cortes nos financiamentos governamentais. O que parecia ser um prejuízo se tornou a solução. “Passamos a procurar oportunidades de negócios com agressividade. Não esperamos chegar, investimos muito em informação e consultoria”, comenta Koen Lamberts.

Caminho iluminado
Para fortalecer a relação entre instituições de ensino e empresas, o Semesp em parceria com a Fiesp promoveu a realização de uma pesquisa inédita. Feita entre abril e junho deste ano na região de Campinas (SP), com a participação de instituições de ensino superior, líderes empresariais e egressos de cursos, o levantamento serve de base para o desenvolvimento de programas e projetos de qualificação dos cursos superiores. A análise da pesquisa foi apresentada no 14º Fnesp por Marcos Simonetti, diretor da Toledo Associados, empresa responsável pela sua realização. Segundo ele, muitas instituições não possuem ações para a colocação de alunos no mercado, ainda que auxiliem na empregabilidade. Quase não há intercâmbio de conhecimento com empresas, mesmo que todas as partes tenham interesse em uma relação mais profunda. As empresas, especialmente as de médio porte, indicam dificuldades para achar e lidar com os novos profissionais. Mas muitas delas não têm programas de estágio e trabalham apenas com reposição de vaga. Os recém-formados têm atitude, comprometimento e conhecimento técnico. As principais falhas deles, na visão das empresas, são falta de flexibilidade, visão estratégica e gestão de pessoas. “É preciso inserir na formação aspectos estratégicos e de comportamento”, afirmou Simonetti. Para Demétrios Zacarias, diretor da Fiesp, a aproximação desses setores é fundamental para manter as empresas e o país competitivos.