Quinto painel do projeto Diálogos Contemporâneos discutiu a questão da crise dos refugiados, que pode alcançar uma escala estratosférica no futuro

Depois de debater questões como a crise climática, identidade de gênero e diversidade, o papel das lideranças e a crise econômica e o aumento da pobreza, o projeto Diálogos Contemporâneos foi encerrado nesta terça, 8 de março, discutindo a crise dos refugiados, que tem atingido recentemente países como Síria, Congo, Venezuela e agora a Ucrânia. Segundo estimativas, atualmente, cerca de 85 milhões de pessoas estão em situação de refúgio em todo o mundo. As perspectivas são ainda piores, com projeções que indicam que, até 2050, mais de 1 bilhão de pessoas serão refugiadas graças a conflitos armados e a mudanças climáticas.

Para discutir esse tema extremamente importante e atual, e que tem ganhado atenção da mídia em virtude da guerra da Rússia contra a Ucrânia, o projeto Diálogos Contemporâneos, realizado pelo Semesp em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva e o Centro Universitário Facens, trouxe a refugiada Sylvie Mutiene, o documentarista Evgeny Afineevsky e o ativista Fernando Rangel para conversar sobre a questão.

“Essa é uma temática urgente que precisa ser trazida para a academia”, defendeu Vitor Belota, do Centro Universitário Facens, no início do debate. A gerente de marketing do Semesp, Renata Favaron, reforçou a importância de se debater assuntos humanitários para despertar mais consciência e empatia dos estudantes, gerando impacto social para que mudanças necessárias sejam promovidas.

O documentarista Evgeny Afineevsky, indicado ao Oscar pelo filme “Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom”, sobre a luta pelos direitos civis na Ucrânia, começou sua fala destacando que, ao se falar em refugiados, é preciso ter em mente que essas pessoas não estão saindo de seus países em busca de benefícios financeiros, mas sim para sobreviverem fugindo de conflitos armados ou tragédias climáticas. “Na maioria das vezes, a narrativa midiática em relação aos refugiados é equivocada. Isso precisa mudar”, decretou.

Segundo ele, infelizmente, todos nós estamos suscetíveis a vivermos a terrível experiência de nos tornarmos refugiados. “Qualquer país pode ser atingido por enchentes, incêndios e outras tragédias climáticas, por exemplo”, citou. “Então é preciso que os países tenham mais empatia pelas pessoas refugiadas, elas precisam não só de abrigo, mas de ajuda para serem reinseridas na sociedade”, disse Evgeny.

“Eu só queria salvar a vida dos meus filhos”

“Desde que saí do meu país, tenho uma outra perspectiva de vida”, contou Sylvie Mutiene, refugiada da República Democrática do Congo que vive no Brasil há sete anos. Formada em Direito em sua país natal, Sylvie teve que trabalhar como faxineira no Brasil para sustentar sua família. Atualmente, ela trabalha como Analista de Logística em uma empresa em Sorocoba, interior de São Paulo. “Eu levava uma vida boa no Congo, com emprego e casa. Meu marido também tinha um trabalho fixo”, lembrou ela. “Toda minha vida mudou por uma causa que não era minha, e hoje eu sou uma outra Sylvie”.

Com o marido preso e depois de sofrer violência de militares, Sylvie decidiu sair de sua casa e veio para o Brasil por acaso. “Eu me joguei no mar e vim para o Brasil sem saber para onde estava indo”, disse ela. “Eu só queria salvar a vida dos meus filhos. Ninguém quer sair de sua casa, nós saímos porque fomos obrigados. Quando você sai da sua casa, você não vai viver do mesmo jeito em outro país. É uma realidade muito dura, mas hoje minha situação no Brasil é mais confortável e eu sou uma privilegiada. Muitos outros refugiados do Congo não têm a sorte que tive”, avaliou.

Co-fundador e diretor-executivo do Refúgio 343, Fernando Rangel explicou que a ONG trabalha para receber e acolher pessoas de outros países. “Começamos com uma família e hoje atendemos cerca de 900 famílias que vivem em 190 cidades espalhadas pelo país”, destacou. “Trabalhos com um sistema de reinserção baseado em três pilares: educação, saúde e trabalho”, listou ele reforçando que devemos discutir direitos humanos como deveres humanos, entendendo que nossas responsabilidades devem ser condizentes como nossos privilégios.

Rangel, que decidiu migrar do mundo corporativa para o mundo humanitário, afirmou que o mundo precisa mudar os rumos de suas ações atuais para transformar o planeta em um lugar de paz. “Precisamos escolher uma causa para abraçar, e a questão dos refugiados pode chegar uma escala estratosférica, com projeções de cerca de 1 bilhão de pessoas em situação de deslocamento forçado em 2050”, finalizou.

O projeto
Realizado pelo Semesp, em parceria com o Centro Universitário Newton Paiva e o Centro Universitário Facens, com apoio de mais uma dezena de IES, o Diálogos Contemporâneos foi realizado entre os meses de agosto de 2021 e março de 2022 sempre apresentando discussões sobre pautas globais relevantes e que precisam de soluções urgentes. O objetivo do projeto é ampliar uma visão sistêmica, o pensamento crítico e uma atitude cidadã e colaborativa dos estudantes universitários, desenvolvendo o senso crítico para as questões dentro das IES e, consequentemente, da sociedade. Todos os painéis do projeto estão disponíveis aqui.