Aparatos tecnológicos e ferramentas para a publicação, distribuição e acesso de conteúdos acadêmicos e científicos transformaram o conceito de biblioteca universitária. Saiba como gerenciá-la a fim de valorizar a produção da instituição
 

Esqueça as bibliotecas formadas por labirintos de estantes repletas de livros, pesados arquivos de publicações e mesas rodeadas de pessoas concentradas. Todo um mundo de sabedoria e conhecimento meticulosamente organizado e guardado pelas bibliotecas universitárias pode muito bem estar bem aí na sua casa, ou onde você estiver com um dispositivo com acesso a internet.

A realidade virtual, que facilitou o acesso à produção acadêmica e científica, também transformou as bibliotecas e impacta diretamente a relação constituída entre instituições de ensino, conteúdo disponibilizado e os próprios usuários. Essa nova visão de gestão das bibliotecas universitárias no meio digital e como laboratórios de ensino na sociedade da informação foi tema do XVII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU), ocorrido em setembro, na cidade de Gramado (RS). O evento, realizado em colaboração pela UFRGS e pela Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias (CBBU), teve na programação palestras, oficinas e reuniões técnicas com a participação de especialistas nacionais e internacionais, além de feira com editores e distribuidores de conteúdo, serviços e produtos.

Valor agregado
É justamente a nova configuração dos produtos acadêmicos e científicos disponíveis que imprime uma nova ordem às bibliotecas universitárias. Para um melhor aproveitamento desse valioso recurso intelectual que é produzido e adquirido pelas instituições de ensino, Ana Pacios Lozano, da Universidade Carlos III de Madri, na Espanha, destacou a necessidade de incluir a gestão das bibliotecas no planejamento institucional. De acordo com ela, repensar a administração das bibliotecas é uma necessidade pelas novas características que os conteúdos produzidos têm assumido com o avanço da tecnologia. Ela lembra que os acervos de hoje são mais amplos, em diferentes formatos e com novos recursos.

O incremento exponencial da diversidade e a fácil disponibilidade de conteúdo, além dos inúmeros recursos que permitem maior mobilidade aos usuários, são fatores que impactam diretamente a demanda de conteúdo e por consequência sugerem o planejamento do acervo universitário. Um levantamento sobre os locais de acesso à biblioteca eletrônica SciElo apurou que 72% dos estudantes acessam o conteúdo de casa e apenas 11% usam as bibliotecas a partir das universidades. A análise é do Scimago Research Group, apresentada pelo professor Atílio Bustos, da Universidade de Valparaíso, no Chile, durante uma reunião técnica da Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias (CBBU) realizada no seminário.

Para Ana Lozano, planejar a gestão das bibliotecas é reduzir as incertezas e potencializar os investimentos. “É preciso demonstrar às universidades o valor das suas coleções”, destaca. Para um efeito potencializado, o plano estratégico de administração do acervo deve estar alinhado à missão e aos objetivos de cada instituição de ensino. Ana sugere ainda contar com o serviço de outros departamentos da universidade, como o de informática, por exemplo, para amplificar os resultados da ação otimizando recursos.

Mundo em movimento
Ana Lozano lembra que a venda de dispositivos móveis não para de crescer no mundo e repensar as plataformas para o oferecimento de conteúdo pelas bibliotecas pode ser um diferencial. Segundo um recente levantamento da IDC, empresa de pesquisa de mercado especializada em tecnologia, as vendas de dispositivos inteligentes, como computadores, tablets e smartphones, alcançaram os 267,3 milhões de unidades no segundo trimestre de 2012. A vice-diretora do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Carlos III, especialista em gestão, estima que em 2013 o número de dispositivos móveis superará o de computadores pessoais e em 2020 os aplicativos para computadores e dispositivos móveis predominarão no mercado pela facilidade de uso. “Parece lógico que se a universidade participa desse conhecimento aberto, a biblioteca tem algum papel nisso”, ressalta Ana.

Além de fatores relacionados ao acesso, um plano de gestão de uma biblioteca universitária deve levar em conta também a existência de uma coleção cada vez mais híbrida – em papel e eletrônica. Nesse caso, é preciso estar atento para a gestão da coleção eletrônica, que ainda não tem uma legislação consolidada mundialmente. A especialista acrescenta ainda que entre os objetivos estratégicos de gestão de uma biblioteca devem constar ações para melhorar e facilitar o acesso de usuários (em qualquer momento, lugar ou dispositivo) e incrementar o uso do acervo e qualidade do catálogo.

Organizada a política de gestão da coleção, suas diretrizes devem ser compartilhadas com todo o corpo docente e administrativo da instituição a fim de maximizar os seus resultados. O professor Atílio lembra, no entanto, que os recursos disponibilizados pelas bibliotecas universitárias devem estar de acordo com o uso que os professores farão deles em sala de aula. “A ferramenta utilizada deve ser determinada para convergir com o tipo de ensino e metodologia e objetivos de cada curso”, afirma.

Suporte digital
A gestão da informação científica e os repositórios institucionais de acesso foram o tema da palestra do professor Fernando César Lima Leite, da UnB. Segundo ele, três questões primordiais têm exercido influência sobre a dinâmica do sistema de comunicação e fluxo da informação científica em escala global: a preponderância do suporte digital, a estrutura e lógica do sistema de comunicação científica e a transformação das atividades de produção do conhecimento. Ele destaca a importância da comunicação com agilidade no ambiente acadêmico. “A informação científica já nasce digital”, assevera. Daí a necessidade de criação de repositórios digitais, que são sistemas de informação para o gerenciamento de informação científica. Segundo Fernando, a função dos repositórios é servir de via para que a comunicação científica seja melhorada. (*) A jornalista Luciene Leszczynski viajou a convite da Systems Link International.

“Ciência não tem muro”
Durante o Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU) o presidente da Capes, Jorge Guimarães, recebeu uma homenagem pelo seu trabalho desenvolvido à frente do órgão. Promovida pela Systems Link International, empresa que oferece produtos acadêmicos em diferentes áreas, a distinção ressalta a importância do Portal de Periódicos para o reconhecimento da produção científica brasileira. Criado em 2000, com 1.800 publicações disponíveis, hoje o acervo do portal tem cerca de 32 mil títulos. Segundo o professor Jorge, disponibilizar amplo acesso a portais de conteúdo é primordial para a produção acadêmica e científica no mundo de hoje. “Não adianta querer tornar a ciência doméstica. Ciência não tem muro”, destaca.