Mudanças no financiamento estudantil dos Estados Unidos anunciadas recentemente privilegiam estudantes carentes

Por Beatriz Rey, de Syracuse (NY)

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O tema do financiamento estudantil também está na agenda política dos Estados Unidos. No final do ano passado, o presidente Barack Obama divulgou os detalhes de uma proposta anunciada em agosto de 2013 que avaliará as instituições de ensino superior, eventualmente atrelando os resultados dessa avaliação à concessão de financiamento estudantil pelo governo federal. No início deste ano, Obama complementou as novas medidas incluindo o financiamento, em parceria com os estados do país, dos cursos nos community colleges para estudantes que apresentem desempenho acadêmico satisfatório. As propostas foram apresentadas diante de um problema crônico do sistema de ensino superior norte-americano, que se torna cada vez mais evidente aos olhos dos formuladores de políticas públicas: o alto número de alunos egressos de universidades e faculdades que se formam endividados.

Dados do The Project on Student Debt (Projeto sobre Dívida Estudantil), ligado ao Institute For College Access & Success (Instituto para Acesso e Sucesso Universitário) indicam que, em 2012, 71% dos estudantes que se formaram em cursos de quatro anos de duração contraíram dívida relacionada a financiamento estudantil. Em números absolutos, foram 1,3 milhão de alunos endividados, o que representa um aumento de 44% em relação a 2004, quando registrou-se a existência de 900 mil alunos endividados. O valor médio da dívida de estudantes que estavam prestes a se formar também subiu 25% entre 2008 e 2012, passando de US$ 23.450 para US$ 29.400. Os dados não dizem respeito somente ao financiamento estudantil oferecido pelo governo federal, mas incluem também empréstimos feitos por organizações do setor privado (aproximadamente um terço da dívida dos recém-formados de 2012 era composta por empréstimos desse tipo).

Qualidade em avaliação

Ainda não há clareza por parte do governo federal sobre qual fórmula de cálculo será usada na avaliação das instituições de ensino superior. O anúncio feito pela Casa Branca em dezembro de 2014 especificou que elas seriam classificadas como “boas”, “ruins”, ou “um meio-termo entre boas e ruins”. Porém, quando fez o anúncio da proposta em 2013, o presidente Barack Obama mencionou que seriam avaliados critérios como acessibilidade em geral e para estudantes de baixa renda, desempenho acadêmico dos alunos, e indicadores relacionados à facilidade encontrada pelos alunos para encontrar empregos e pagar as dívidas de crédito estudantil.

Desde fevereiro de 2013, o governo federal disponibiliza os chamados “college scorecards”, uma ferramenta on-line que busca ajudar estudantes e suas famílias a tomar decisões mais informadas sobre qual universidade cursar. Os “scorecards” são uma espécie de boletim que trazem dados de custo, taxa de graduação, taxa de inadimplência dos alunos que possuem empréstimos estudantil, valor médio emprestado por estudantes matriculados na instituição, e informações sobre os tipos de empregos encontrados por ex-alunos da instituição.

De acordo com Jeff Lieberson, da Association of Public and Land-Grant Universities (APLU, Associação de Universidades Públicas), os boletins apresentam um problema que pode também afetar a nova proposta de Obama: a baixa qualidade dos dados. A taxa de graduação usada pelo governo, por exemplo, contabiliza apenas alunos recém-matriculados que estudam em período integral. Se o estudante estuda meio período ou pede transferência para outra instituição, não é contabilizado.

Além de maior precisão dos dados já coletados, a APLU sugere a construção de outras métricas, como o custo médio da universidade ou faculdade por nível de renda. “Seria útil para os alunos e as suas famílias saber o custo de uma instituição para uma família com renda de US$ 40 mil e outra com renda de US$ 100 mil anuais”, explica.

Com relação à aferição de qualidade, Lieberson afirma que a APLU é contra a proposta de ter o governo federal ranqueando instituições de ensino superior. “Um ranking feito pelo governo não necessariamente levará em conta diferentes aspectos que são importantes para o estudante”, diz.

A medição da qualidade das instituições pelo governo também é criticada por Barmak Nassirian, da American Association of State Colleges and Universities (AASCU, Associação Norte-Americana de Universidades e Faculdades Estaduais). Para ele, a produção de um ranking está fora do escopo de atuação do governo. Além disso, Nassirian teme que o ranking opere de maneira desfavorável aos estudantes de baixa renda. “Quando um aluno deixa a universidade ou não consegue arrumar emprego depois que se forma, é muito difícil dizer se a culpa é da instituição ou do aluno. E há um problema de autosseleção: universidades como Harvard ou Yale já atraem os melhores estudantes”, afirma.

 

Curso financiado
Os pormenores da segunda proposta de Obama – a que oferece financiamento público a dois anos de community college – não são totalmente conhecidos. O que se sabe é que o programa, que também tem como objetivo atacar o problema da crescente desigualdade de renda no país, seria custeado pelo governo federal e pelos estados na proporção de três para um. Poderiam participar alunos que estudam em período integral ou meio período e que mantêm uma média de C+ em sua trajetória acadêmica. Caso todos os estados optem por participar da política, a Casa Branca estima quase nove milhões de alunos seriam beneficiados com uma economia média de US$ 3.800 por aluno.