A pandemia da Covid-19 provocou uma série de mudanças na rotina da educação. No ensino superior, as IES privadas tiverem que se adaptar e transformar as aulas presenciais em aulas remotas. Mas essa adaptação implica em uma série de outras mudanças que afetarão os processos de avaliação dos alunos e, consequentemente, das próprias IES.

A partir dessa questão, o Semesp realizou nesta quinta-feira, 12 de agosto, o webinar “Diálogos com o INEP: Sistema de avaliação do ensino superior”, que discutiu as necessidades de adequação dos instrumentos de avaliação, avaliação nos cursos presenciais e EAD, as realizações do Enem e do Enade, entre outros, em razão da pandemia de Covid-19.

O webinar foi mediado pelo diretor de Inovação Acadêmica do Semesp, Fábio Reis, e contou as participações do diretor Jurídico do Semesp, José Roberto Covac, do diretor de Avaliação da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Moaci Carneiro, e dos coordenadores gerais do Inep, Sueli Macêdo Silveira, Suzi Vargas, Fernanda Marsaro dos Santos e Ulysses Teixeira.

O diretor Jurídico do Semesp, José Roberto Covac, deu início ao webinar citando alguns pontos que tem gerado preocupação entre as IES, como as realizações do Enem. “O Enem é vinculado ao financiamento estudantil, e isso pode prejudicar as IES de setor privado em relação aos novos ingressantes”, pontuou. “Outra questão foi a alteração sem planejamento dos projetos pedagógicos em virtude da necessidade de adoção do ensino remoto. De que forma isso vai alterar as avaliações do Inep?”, questionou ele, apontando ainda a preocupação em relação à realização das visitas in-loco. “É preciso que o Inep considere o fato das IES estarem vivenciando uma experiência peculiar”, citou.

Confira o webinar na íntegra

Ensino híbrido

O diretor de Avaliação da Educação Superior do Inep, Moaci Carneiro, explicou que o contexto da pandemia tem afetado e impactado o ensino superior de vários formas, dentro de uma perspectiva econômica, legal, de gestão e adoção de políticas. “Estamos vivendo ainda o início de uma nova gestão do Ministério da Educação”, lembrou. “São muitas questões que precisam ser levadas em consideração, a adoção do ensino remoto e a experimentação de novos modelos acadêmicos, as mudanças dos indicadores de avaliação, a não possibilidade da realização de visitas in-loco, além do impacto que as mudanças do Enem e do Enade terão no calendário letivo”, citou.

Segundo Carneiro, mesmo com todo esse novo cenário, as IES precisam manter sua missão em relação à educação superior e se readequar aos novos alinhamentos organizacionais, funcionando de acordo com os balizamentos legais existentes. “Os pressupostos em relação à educação permanecem, e o sistema nacional de avaliação não vai sofrer afrouxamentos, mas sim ocasionais adequações”, decretou.

Sobre as formas de avaliação do ensino remoto, Moaci Carneiro questionou o que há de novo na modalidade, apontando que as mudanças estão na exterioridade dos formatos de oferecimento da educação. “Há uma extensão e aprofundamento da metodologia com preparação dos professores e uma necessidade de produção de mudanças a partir de um contexto tecnológico que vincula a aprendizagem aos recursos das tecnologias digitais”, afirmou.

“É preciso tomar cuidado, no entanto, com a expressão ‘ensino híbrido’ porque ela não existe do ponto de vista regulatório. Mas é preciso que as IES entendam também os avanços dos processos de aprendizagem que as tecnologias digitais trazem à esfera da educação”, avaliou Carneiro. “Elas retiram o foco da geografia da sala de aula e do professor a responsabilidade exclusiva pela aprendizagem do aluno, posicionando os estudantes em outra dinâmica que modifica os processos cognitivos do que é conhecimento. Por isso mesmo, é preciso cuidado antes da definição de indicadores de avaliação que contemplem formatos de organização das escolas, dinâmicas de sala de aula, formação dos professores, etc.”.

De acordo com Carneiro, antes que o Inep possa retrabalhar instrumentos de avaliação e desenvolver indicadores compatíveis com essa nova realidade, é necessário que o corpo de normativos sinalizem aquilo que as IES podem e devem fazer em relação à nova metodologia.

Enade e avaliação

De acordo com a coordenadora geral do Inep, Fernanda Marsaro dos Santos, o órgão está em constante processo de escuta ativa com os entidades representativas do ensino superior para avaliar e entender os impactos que a pandemia tem causado nas condições de oferta do ensino superior. Durante o webinar, Marsaro enfatizou que o Enade 2020 não foi cancelado, mas sim adiado para 2021. “Todas as áreas que deveriam ser avaliadas em 2020 serão avaliadas em 2021, ainda não sabemos se junto ou separadamente das áreas a serem avaliadas em 2021. Os indicadores não serão alterados, o que muda é apenas a data da aplicação do exame, ainda a ser definida”, adiantou.

Fernanda afirmou que o Inep estava mantendo um diálogo intenso sobre o desenvolvimento de novos indicadores para o ensino superior. “O Inep está ciente que é preciso propor novos indicadores que captem a diversidade do ensino superior, avaliando de forma diferente graus acadêmicos, modalidade de ensino e mesmo os tipos de IES, faculdades, centro universitários e universidades. Mas ainda não há data definitiva para a divulgação desses novos indicadores”, disse. “Nesse momento, diante de uma diversidade de cenários muito grande, nossa preocupação é diminuir os impactos da pandemia lá na frente”.

Em relação às avaliações in-loco, a coordenadora Sueli Macêdo Silveira afirmou que compete ao Inep a realização, planejamento e execução da visita às IES, mas não cabe ao órgão desonerar a realização das mesmas, uma competência regulatória da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação (Seres). “Atualmente, estamos estudando os fluxos de visitas e analisando as possibilidades disponíveis para que as IES tenham garantia de continuidade de funcionamento e de ofertas com a regularidade que o sistema requer e a qualidade que os alunos merecem”, pontuou. “Em paralelo, estamos trabalhando em protocolos de segurança para a realização das visitas in-loco”