Com a estabilização de outros tipos de crédito, como o de veículos e o imobiliário, e o amadurecimento do mercado a tendência é partir para o financiamento estudantil, aposta o diretor da Ideal Invest

por Luciene Leszczynski

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Ao invés de simplesmente considerar o Fies um concorrente direto, o diretor executivo da Ideal Invest, Carlos Furlan, responsável pelo PraValer, prefere ver o benefício como um aliado para a expansão do crédito universitário no país. De acordo com ele, o crescimento do Fies deu maior visibilidade para o uso de financiamento para custear o ensino superior e possibilitou uma mudança na cultura das instituições de ensino.

No entanto, o diretor considera que é preciso ampliar ainda mais o conhecimento a respeito do uso do crédito para atingir a quantidade de estudantes que está fora de uma faculdade por problemas financeiros. Para isso, acompanhando a reformulação estratégica da empresa, o PraValer lançou recentemente um novo site, com o intuito de ampliar as informações sobre os tipos de financiamento do ensino superior, incluindo, além do crédito privado, o Fies e outras formas de bolsas e descontos oferecidas pelas instituições de ensino.

Na entrevista a seguir, o diretor analisa o mercado de financiamento estudantil no Brasil, que, segundo ele, deve apostar no setor privado para ampliar os benefícios do crédito universitário e levar mais estudantes ao ensino superior. “Devemos ter daqui a alguns anos, quando o setor chegar a dez milhões de alunos, pelo menos uns 30% de estudantes com algum tipo de financiamento”, prevê.

Ensino Superior: O PraValer já chegou a 40 milhões de estudantes e o Fies firmou recentemente o milionésimo contrato. Como você analisa esses números?
Carlos Furlan: Temos no país, mais ou menos, 45 milhões de pessoas de 18 a 35 anos e apenas 6,7 milhões numa faculdade. O primeiro dado aqui é a baixíssima penetração de pessoas com idade universitária no ensino superior, cerca de 15%. Por outro lado, chama a atenção o número de pessoas que se inscreveram no Enem esse ano, mais de sete milhões, mas só dois milhões vão se matricular numa faculdade no ano que vem, os outros cinco milhões ficarão de fora por problemas financeiros. E isso não é um chute, pois 60% dos inscritos no exame não pagaram a taxa de inscrição, uma prerrogativa para quem não tem renda ou vem de escola pública. Ou seja, quase dois terços do total dos estudantes que pleiteiam uma vaga na faculdade têm problema financeiro para pagar um curso superior.

Mas o número de contratos de crédito é baixo se comparado ao de alunos no ensino superior, e mais ainda em relação à quantidade de pessoas fora dele. A que você atribui essa baixa atratividade do financiamento de estudantes no Brasil?
O primeiro motivo para a demora no aumento no número de créditos é a taxa de penetração do ensino superior. Só a partir dos anos 2000, quando se tem o crescimento no número de faculdades, é que cresce o número de alunos, então se tem um atraso no ingresso no ensino superior. Segundo, demorou muito tempo para o setor entender como um todo que o financiamento era uma das principais, senão a principal veia de crescimento do setor. Essa cultura de financiamento foi se criando nas instituições e não se tem mais dúvida com relação a isso. Agora precisamos vencer a próxima barreira que é a dos alunos.

E como chegar aos alunos?
Ainda falta conhecimento, porque a gente fala de Fies, mas quando conversamos com as pessoas na rua, elas não sabem exatamente como funciona. Outra barreira é o medo, porque o aluno típico hoje do PraValer, por exemplo, é o primeiro da família a fazer a faculdade e se assusta com a ideia de tomar uma dívida para estudar. A próxima geração já vai ser mais fácil. Então temos uma questão aqui que é cultural e de conhecimento. A partir de então o crescimento do financiamento vai passar a ser exponencial. Devemos ter daqui a alguns anos quando o setor chegar a dez milhões de alunos, que é a meta do governo, pelo menos uns 30% de estudantes com algum tipo de crédito. E aí o financiamento público sozinho não vai ser suficiente para custear esse contingente, por isso vai precisar de uma combinação de financiamento público e privado.

Na última análise setorial realizada pela Hoper, a previsão é de que o financiamento estudantil tenha fôlego para o crescimento das matrículas até 2014, depois a tendência é estabilizar. Você concorda com essa previsão?
O setor privado, a começar por nós, já está se preparando para o crescimento que virá. Não tenho dúvida de que a gente vai precisar de um bom volume de recursos para atender uma quantidade de alunos muito maior do que hoje. Mas não consigo dizer que o Fies vai resistir até uma data específica. É claro que se tratando de uma política pública é preciso levar em consideração uma série de fatores, como uma possível troca de governo, alterações de prioridade na pasta da Educação etc. Mas é difícil precisar quando isso pode mudar. O que eu vejo é que o financiamento público sozinho, seja a partir de 2015 ou 2016, não vai ser suficiente para atender à necessidade de recursos para os alunos.

Por que os bancos privados não investem nesse mercado hoje?
Porque não é um mercado consolidado e para os bancos é muito pequeno ainda. Além disso, têm muito suco para tirar de outros créditos, como por exemplo o imobiliário.

Se houvesse mais opções de crédito estudantil também não haveria maior adesão de estudantes?
Na medida em que outros bancos aderirem ou que o setor privado de financiamento estudantil fique maior, isso também ajuda a disseminar o conhecimento sobre o crédito. Muita gente pergunta se o Fies prejudica o PraValer e eu respondo, mais ou menos. Claro que um aluno que hoje a gente atenderia pode acabar indo para o Fies, mas ele também cumpriu um importante papel de disseminar a informação sobre financiamento estudantil que a gente sozinho não conseguiria. Se por um lado ele está competindo, por outro cria o segmento. Ao se ter mais bancos atuando nesse mercado, aumenta o conhecimento sobre o produto e cresce a adesão. Além disso, a união de forças de vários grupos de financiamento pode avançar em melhorias para esse mercado, gerando inclusive custo mais baixo para o aluno, a partir da redução de impostos que hoje é aplicada a outros setores de investimentos.

Além da questão do acesso, o que a maior disponibilidade de financiamento estudantil pode mudar no ensino superior?
A qualidade vai ser o nome do jogo no ensino superior, pois quando você tem financiamento disponível nada mais impede o aluno de fazer uma faculdade de diferente nível de qualidade. Daqui a alguns anos, quanto mais financiamento disponível, também maior vai ser o tíquete médio do ensino superior. Uma coisa importante a ressaltar é que financiamento não salva curso. Você pode ter o financiamento que for, mas se o curso for num horário ruim, que não motiva ninguém ou não emprega, não vai adiantar ter crédito.

Qual a expectativa de conversão de matrículas com o novo site?
O site é resultado do novo posicionamento do PraValer, que foi o primeiro crédito privado em larga escala iniciado em 2006. Até hoje são 40 mil alunos beneficiados com o crédito do PraValer, mas o nosso site atrai quase quatro milhões de visitantes por ano. Se até então a gente atraía cerca de quatro milhões de visitantes por ano, oferecendo apenas uma forma de pagamento, que é o crédito privado, ao oferecer mais opções naturalmente a tendência é de aumento, porque outros potenciais candidatos vão acessar o mesmo canal. Além disso fizemos parceria com alguns geradores de leads, sites que têm grande circulação de público de 16, 18 até 30 anos, para direcionar mais interessados para o nosso portal, então isso deve potencializar o número de visitantes. Eu espero que no médio prazo haja um crescimento de 40% a 50% no volume de acessos. Mas não é só a captação, tem também um trabalho de conversão daquele cara que tem dificuldade com o pagamento. Quando emperra em alguma parte da matrícula, entramos em contato para ajudá-lo e direcioná-lo para o caminho mais adequado. Nosso papel é entender o perfil do aluno e oferecer o melhor produto.