Mal as instituições se adaptaram às soluções de computação em nuvem e já surgem as primeiras plataformas de Big Data para melhorar a eficiência dos processos administrativos

por Felipe Falleti

172_24Quando a gestão da Faculdade de Tecnologia Bandeirantes (Bandtec), na capital paulista, trocou as soluções desenvolvidas em casa por serviços de computação em nuvem, a mudança foi celebrada como um salto tecnológico. O modelo tradicional de manter, em uma sala, servidores armazenando e processando dados em aplicações criadas pela área de gestão de TI subitamente passou para uma plataforma em que as máquinas e programas que hospedam os dados da instituição ficam em um data center sob controle de terceiros, especialistas que podem ampliar a capacidade de processamento e armazenamento de dados em minutos e desenvolver novas aplicações que um setor interno não poderia criar sozinho.

A tecnologia, chamada de computação em nuvem, ainda é relativamente nova no Brasil e nem chegou à gestão de todas as instituições de ensino, mas já apresenta evoluções que prometem trazer mais benefícios do que o simples corte de custos e o aumento da produtividade – vantagens repetidas exaustivamente pelos defensores da cloud computing. O segundo passo da nuvem é chamado de Big Data, uma tecnologia que aproveita a grande quantidade (big) de dados (data) gerada pelos sistemas de gestão, inclusive de RH, como folha de pagamentos e serviços de treinamento on-line, para gerar relatórios com informações estratégicas sobre como andam os colaboradores de uma empresa.

De acordo com Carlos Carravetta, diretor da consultoria Humanus, a área de gestão de pessoal é uma das que mais deve se beneficiar com a evolução das soluções em nuvem ao longo dos próximos dois anos. “O departamento de recursos humanos não poderá mais funcionar sem o uso intensivo de tecnologia e os gestores de cada área dependerão de informações precisas sobre sua equipe e atualizadas em tempo real para suportar as demandas de outras áreas da empresa”, afirma.

Novo modelo
Por quase duas décadas, a informatização das empresas se baseou em máquinas (servidores) instaladas fisicamente dentro dos estabelecimentos. Além disso, as soluções de software para gestão de folha de pagamentos, controle de ponto, acompanhamento e treinamentos, por exemplo, dependiam de desenvolvimento feito pela área de TI de cada instituição ou comprados de fornecedores externos no modelo “uma licença para cada computador”.

Com a ascenção das soluções em nuvem, esse modelo até então estabelecido mudou radicalmente. Companhias especialistas em software e infraestrutura passaram a oferecer soluções completas, instaladas em data centers externos e acessíveis por meio de conexões à internet, uma inovação que impactou fortemente as empresas. Em vez de a organização precisar pagar por cada instalação de software, mesmo que o programa fique sem uso em uma máquina ociosa, o novo modelo propõe o pagamento “por usuário e por tempo de uso”. Assim, quem usa muito paga mais. Quem usa pouco um serviço de cloud paga menos.

Da nuvem para cá, uma pequena, média ou grande empresa pode contratar de companhias como IBM, Locaweb ou Totvs toda uma infraestrutura de TI e todos os softwares que pretende usar de forma virtual e expandir ou diminuir seu consumo de um dia para outro. Isso é possível pois, a partir de qualquer PC conectado à internet, um colaborador acessa o programa de folha de pagamentos ou a plataforma de intranet diretamente no data center de seu fornecedor.

“Esse modelo fez as empresas gastarem menos dinheiro com compra de equipamentos, consumindo recursos de um data center terceiro, o que na linguagem dos técnicos de TI é chamado de IaaS, ou ‘infraestrutura como serviço’. Além disso, as companhias puderam ter acesso aos recursos mais avançados de software, com características que lhes custariam muito caro desenvolver internamente. Com a nuvem, uma pequena empresa usa o mesmo software de treinamento on-line que uma grande, por meio de uma plataforma digital comum. Isso nós chamamos de SaaS, ou ‘software as a service’”, explica André Assef, consultor de tecnologia da empresa Desix.

Ganhos na gestão
O benefício primeiro na gestão de instituições como a Bandtec foi sofisticar as soluções de tecnologia, ou seja, de um momento para outro tiveram acesso a softwares mais avançados, suportados por programas de update. De acordo com Mauricio Pimentel, coordenador da faculdade, outro benefício diz respeito ao ganho de mobilidade. Uma vez na nuvem, os sistemas e dados neles contidos podem ser acessados por uma pessoa autorizada a partir de qualquer dispositivo, como o computador do trabalho, mas também o PC de casa e, muitas vezes, a partir de dispositivos móveis, como tablets e smartphones. A mobilidade é especialmente útil para instituições que possuem estabelecimentos em diferentes cidades. Com a nuvem, o gestor pode acessar os sistemas de trabalho a partir de qualquer dispositivo, mesmo em viagem.

Além disso, Pimentel acrescenta que o sistema permite otimizar a mão de obra do setor de tecnologia, permitindo que esses profissionais dediquem mais atenção a outras áreas da instituição.

De acordo com Laércio Cosentino, vice-presidente da desenvolvedora de software Totvs, o RH é o segmento das empresas que mais rapidamente deve aderir às soluções em nuvem nos próximos trimestres. “Ao contratar um serviço do tipo SaaS, o RH pode se concentrar em seu core business, que é fazer a gestão das pessoas, e deixar a tecnologia com um terceiro especializado”, diz.

Segundo a Totvs, que desenvolveu o SaaS RH, uma solução específica para as áreas de recursos humanos, essa tecnologia confere escalabilidade às operações, ou seja, permite contratar mais licenças de software e mais poder de processamento quando isso for necessário (em um período de reestruturação ou durante uma fase de contratações temporárias, por exemplo) e ter custos variáveis, diminuindo os gastos com TI quando houver menos demanda por esses serviços. De acordo com Cosentino, a recém-lançada solução SaaS RH já conta com a adesão de 150 empresas diferentes e mais de 25 mil usuários, um indicativo de como essa tendência é forte para o gestor de pessoas.

Big Data
Uma vez que os dados estão armazenados em um data center com grande capacidade de processamento, não é difícil imaginar que toda essa informação possa ser analisada por serviços inteligentes para descobrir, em tempo real, dados que o gestor levaria semanas para consolidar e gerar relatórios. Uma aplicação curiosa dessa tecnologia foi adotada pelo RH do Google, em Moutain View, na Califórnia (EUA). A empresa criou um fundo de investimentos em que seus funcionários poderiam investir parte de seus salários no mercado de ações.

Após alguns meses, ao analisar o desempenho desses investimentos, o serviço de Big Data apontou que os melhores rendimentos eram obtidos, sempre, por funcionários que se sentavam em uma ala específica do prédio. Então, o RH decidiu mudá-los de lugar, espalhando funcionários com ótimo desempenho na bolsa entre colaboradores com maus rendimentos. O resultado foi um aumento geral no desempenho dos googlers no mercado de ações, uma vez que os “experts” em capitais foram se sentar perto de funcionários menos especialistas e disseminaram seu conhecimento financeiro.

De acordo com Fábio Gandour, cientista-chefe da IBM no Brasil, é provável que nos próximos anos sistemas de Big Data analisem de forma tão poderosa os dados de seus colaboradores que será possível recomendar a um funcionário, por exemplo, o momento mais adequado para ele tirar uma folga ou quando será a data mais proveitosa para o gestor lhe fornecer um feedback. “As perspectivas da análise massiva de dados são promissoras em muitas áreas do conhecimento e, certamente, vão gerar benefícios específicos inclusive para quem atua na gestão de pessoas”, diz Gandour.

Mais próximas do cotidiano das empresas, informações em tempo real sobre adesão aos cursos on-line, desempenho em programas de treinamento e movimentações nos departamentos devem permitir às áreas de RH ter subsídios mais ricos e mais atualizados para desenhar estratégicas de gestão e orientar seus colaboradores. A promessa está na nuvem e não deve demorar a dominar a área de gestão.

 

Quais as vantagens (e desvantagens) de adotar a nuvem
Tendência em consolidação nas pequenas e médias empresas Brasil, a adoção de serviços na nuvem apresenta muitas vantagens, como redução nos custos e aumento da produtividade, mas também possui seus pontos negativos. Veja o que colocar na balança antes de fechar um contrato de cloud computing.Pontos fracos:O processo de migração de dados e programas que rodam localmente (nos servidores internos da instituição) para serviços de nuvem devem ser muito bem planejados, sob pena de perda de informações;

Uma vez na nuvem, todos seus serviços dependerão da conexão à internet. Se ficar sem conexão, não será possível acessar quaisquer dados do sistema;

Se não optar por uma nuvem privativa, os produtos de software como serviço (SaaS) e infraestrutura como serviço (IaaS) poderão ser acessados pelo fornecedor. Nesse caso, é importante que o contrato tenha uma cláusula de confidencialidade.

Pontos fortes:

A tecnologia permite acessar os dados da instituição de qualquer lugar, ampliando a mobilidade do uso das ferramentas de gestão e produtividade;

A tecnologia é uma tendência apoiada por grandes companhias inovadoras, como Google, IBM, Apple, Facebook e Microsoft. Isto indica que novos recursos devem surgir na nuvem ao longo dos próximos anos;

Colocar a estrutura de TI na nuvem permite reduzir os custos com compra de hardware (servidores e infraestrutura de rede) e dar escalabilidade à infraestrutura. Ou seja, se a instituição crescer rápido, basta alugar mais serviços de terceiros, ao invés de investir mais em equipamentos;

Diminui a demanda interna por mão de obra em TI, uma vez que toda infraestrutura fica terceirizada para o fornecedor da solução em nuvem;

Diminui os gastos com licença de software, já que aplicações em nuvem são mais baratas e podem ser acessadas com menor custo por usuário.