É fácil sustentar a inovação com base nos avanços tecnológicos, mas para isso é preciso abrir os olhos para o novo e ter coragem de ousar

por Luciene Leszczynski

José Cordeiro, do Millenium Project, inspirou os gestores a fazer parte de um novo mundo que está a caminho, permeado pelo aparato tecnológico

Estabelecer uma cultura empreendedora na formação de pessoas permitindo que desenvolvam a capacidade de inovar e dar forma às suas realizações é o segredo compartilhado por muitas instituições que adotaram o caminho do empreendedorismo na gestão e como forma de ensinar. Alguns exemplos de sucesso foram apresentados no 14º Fnesp, ocorrido em São Paulo no final de setembro, com a presença de especialistas nacionais e internacionais que debateram a implantação dessa nova cultura nas instituições de ensino e como forma de melhorar os resultados acadêmicos e administrativos.

Singularidade tecnológica

Entusiasta das tecnologias, José Cordeiro, membro do Millenium Project, inspirou os gestores do ensino superior particular na conferência de abertura do fórum a fazer parte de um novo mundo. Equipamentos que leem a mente das pessoas, robôs que podem tomar decisões acertadas e a cura para todas as doenças, incluindo o envelhecimento, são apenas algumas das inovações previstas para um futuro nem tão distante.

Futurologista assumido, Cordeiro, que é pesquisador visitante no Instituto de Economias em Desenvolvimento, em Tóquio, no Japão, defende a era da singularidade tecnológica, prevista para se iniciar em 2045, segundo estudos realizados pela Nasa e Google. O especialista conta que, de acordo com as pesquisas, o momento é marcado pela era em que os computadores superarão a capacidade do cérebro humano. O conceito foi desenvolvido no MIT com base na Lei de Moore, que em 1965 já previa a duplicação da potência dos computadores a cada dois anos e a queda dos preços na mesma velocidade.

Enquanto a tecnologia é desenfreadamente desenvolvida nos diversos institutos e centros de pesquisa do mundo, progressivamente envolve a sociedade do conhecimento, transformando as formas e objetivos da formação. “A revolução hoje é a do conhecimento. Não existem mais limites. E a tecnologia é o fator que possibilita a mudança”, assegura Cordeiro.

Estar aberto a novas possibilidades, se permitir imaginar um mundo novo, visualizar e seguir objetivos e partir para a ação é a receita dada por José Cordeiro para se preparar para um mundo de possibilidades. “É preciso aceitar que a mudança é a única coisa realmente constante”, sustenta o professor sem pestanejar.

Ele comenta que há quatro maneiras de ver o futuro: a passiva, que assiste sentada o futuro se aproximar; a reativa, que só funciona quando a coisa aperta; a pré-ativa, que dispara antes de estar preparada; e a proativa, que cria o seu próprio futuro, visualiza cenários e prospecta os melhores caminhos.

Inovação na prática

Exemplos de como inovar e empreender na gestão acadêmica foram trazidos pelos representantes da Universidade Tiradentes (Unit) e do grupo Estácio. A trajetória das instituições ilustra como a determinação e a valorização do trabalho colaborativo são peças fundamentais na máquina que fomenta e dissemina a construção do conhecimento.

Empregado de uma fábrica de tecelagem, em 1962, Jouberto Uchoa de Mendonça, fundador do Grupo Educacional Unit, faz história ao pôr em prática o seu sonho de educação com a criação do colégio Tiradentes, em Aracaju (SE). A pequena unidade que atendia alunos de ensino básico ganhou corpo com o empenho do idealizador e a ajuda de colaboradores e amigos.

Mas era só o começo de uma gestão determinada a cumprir o seu papel. Em 1972, foi construída a primeira sede própria, que passou a oferecer graduação e, em 1994, o salto para virar universidade foi consequência do compromisso com a qualidade, missão sempre presente nos sonhos de Mendonça. O grupo mantém um centro de fisioterapia para atendimento de pessoas das camadas mais baixas da população, único do estado de Sergipe, e atendimento odontológico.

A criação do instituto de tecnologia e pesquisa da Unit, em 1998, é outro orgulho dessa gestão que mais tarde encontrou na governança corporativa a fórmula para uma administração competente, séria e engajada nos objetivos de expansão sem esquecer seu compromisso para com a qualidade. Em 2006, a história de Mendonça passou a ser contada em outro estado, Alagoas, com a criação da faculdade Tiradentes de Maceió, considerada em 2011 a melhor do estado entre públicas e privadas, de acordo com o gestor.

Partir para ação

Qualquer semelhança da trajetória da Unit com os caminhos adotados pela Estácio de Sá para se constituir como um dos maiores grupos educacionais do país não é coincidência. Ainda que de perfis diferentes, foi a coragem de encarar o desafio do viés empreendedor que permitiu a ambas as instituições dar continuidade aos seus projetos.

Após passar por um período de aperto, ocasionado pelo crescimento ostensivo no final da década de 2000, a Estácio resolveu fazer a lição de casa e deu início a um processo de mudança com o objetivo de melhorar o ensino. De acordo com Rogério Melzi, presidente do grupo, a mudança começou a ser pensada em observância aos conceitos que fazem a universidade importante no século 21.

Todo trabalho foi desenvolvido de maneira coletiva, com a participação dos cerca de 7,5 mil professores, presentes nos 19 estados em que o grupo mantém estabelecimentos, e mediado por plataformas digitais. Melzi conta que atualmente os currículos implantados são resultado dessa discussão, que envolveu todos os pares e respeitou especificidades regionais.

Com os curículos renovados, outra inovação surgiu nas salas de aula da Estácio: a implantação do uso dos tablets. A tecnologia que permite substituir os calhamaços impressos de conteúdo distribuídos aos alunos pelo equipamento eletrônico foi adaptada ao público e aos planos da instituição.

Mas apesar de toda uma estrutura tecnológica necessária para adequar o ensino superior às necessidades de futuro, Rogério Melzi não descarta a intensa participação das pessoas para a construção do projeto. “Nosso lema é ter gente ensinando gente”, afirma. Para ele, mesmo com o avanço das plataformas digitais a relação pessoal e o espaço físico da instituição não serão descartados.

Saber fazer

Com uma infraestrutura diferenciada, para receber os estudantes de hoje, o Centro Universitário Senac São Paulo é uma das instituições que internalizou a cultura empreendedora na sua maneira de ensinar. Para Flávia Feitosa, diretora de pós-graduação e extensão do Senac, primeiro é preciso entender que o mundo realmente está mudando e que os estudantes buscam um novo conceito sustentável de empregabilidade.

“A preocupação com o empreendedorismo está na raiz do Senac. Os alunos hoje estão mais preocupados com a sustentabilidade, com o meio ambiente, em fazer diferente utilizando os inúmeros recursos tecnológicos existentes”, sentencia a diretora.

3 passos para o empreendedorismo
Para ficar mais clara a determinação do Senac em trabalhar os princípios do empreendedorismo e inovação, a instituição criou as linhas formativas, consideradas marcas da instituição e que poderão ser seguidas pelo aluno durante toda a vida:1.A linha investigativa, que instiga a curiosidade científica e mobiliza para uma atividade proativa.2. A linha do empreendedorismo e da vivência profissional, que permite ao estudante experimentar a realidade da profissão, trabalhando a possibilidade de romper paradigmas, de criar algo novo.3. A linha ética e da cidadania, preocupada em formar pessoas conscientes do impacto da criação no seu entorno, que pensem em prol da melhoria de sua comunidade, região e planeta.