Capítulo Especial

10ª edição / 2020

Capítulo Especial

Perfil dos Alunos de Graduação

Quem é o estudante brasileiro que está matriculado no ensino superior? Como esses estudantes estão representados em termos de faixa etária, raça, gênero, faixa de renda familiar, por exemplo? Eles preferem a modalidade presencial ou o ensino a distância? Estudam nos períodos diurno ou noturno? Já trabalham? Eles estão cursando uma graduação pela primeira vez? São essas e outras perguntas que serviram de tópico central para o capítulo especial da 10ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil.

Por meio de vários dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Semesp compilou uma série de gráficos e tabelas que apresentam um panorama de quem são esses mais de 8,4 milhões de estudantes, uma fotografia importante do atual ensino superior no Brasil.

16,7% dos estudantes que frequentaram a escola em 2019 estavam em um curso de graduação

Gênero

57% das matrículas do ensino superior brasileiro são ocupadas por estudantes do sexo feminino

As mulheres são maioria no ensino superior brasileiro. De acordo com o Censo da Educação Superior do Inep, elas ocupam 57% das vagas do país. Não importa a modalidade (presencial ou EAD), turno (noturno ou diurno) ou rede (pública ou privada), as mulheres ocupam um maior número de vagas na graduação do que os homens.

Nos cursos de Licenciatura, por exemplo, elas ocupam 71,3% das vagas. Nos cursos de Bacharelado, esse número é de 54,9%. Nos cursos da área de Saúde e Bem-Estar, elas são 72,1% dos estudantes. Elas também são maioria na área de Ciências Sociais, Jornalismo e Informação.

Entre os 20 cursos com maior número de alunos, as mulheres são predominantes em Pedagogia (92,5%), Serviço Social (89,9%), Nutrição (84,1%), Enfermagem (83,8%), Psicologia (79,9%), Fisioterapia (78,3%), entre vários outros. Entre as exceções estão os cursos de Sistemas de Informação e Engenharia Mecânica, com apenas 13,8% e 10,2% de estudantes mulheres, respectivamente.

Em relação ao comparativo de 2010 para 2018 no que tange às modalidades, chama a atenção um aumento de alunos homens no EAD, o que se justifica com o aumento de cursos que passaram a ser ofertados na modalidade, diminuindo o percentual de concentração nos cursos de Pedagogia, cuja maioria é de estudantes do sexo feminino.

Alunos no Ensino Superior

Fonte: Instituto Semesp

Um dado importante é que, apesar de serem maioria no ensino superior, as mulheres com ensino superior completo ainda ganham menos do que os homens. De acordo com os dados da Pnad Contínua, o rendimento bruto médio dos empregados do sexo masculino com ensino superior completo é de aproximadamente 4,5 mil reais mensais, enquanto entre as mulheres essa renda é de apenas 2,9 mil reais mensais. A título de exemplo, cerca de 29,5% dos empregados do sexo masculino com ensino superior completo ganham cinco salários mínimos ou mais enquanto apenas 13,7% das mulheres recebem rendimentos nessa faixa.

Fonte: Instituto Semesp

Cor / Raça

Infelizmente, o ensino superior brasileiro é excludente e, apesar das políticas de cotas terem funcionado para minimizar o problema, a questão do acesso às populações da raça/cor preta e parda ainda está longe de ser resolvida. Apenas 14,7% dos jovens entre 18 e 24 anos que se autodeclaram pretos e 11,7% dos que se autodeclaram pardos estão matriculados em uma graduação.

No comparativo entre 2010 e 2018, no entanto, é possível perceber uma evolução no quesito diversidade dos estudantes.

Na rede pública, essa evolução é atribuída às políticas de cotas, enquanto na rede privada a programas de financiamento estudantil como o FIES. Uma questão que deve ser considerada é como essa evolução se manterá ao longo dos próximos anos com o declínio do FIES, por exemplo. Outra avaliação possível dos gráficos é que, ainda que as políticas de cotas tenham contribuído para uma evolução da diversidade de raças e cores entre os estudantes, a massa de pessoas excluídas, como as da raça preta e cor parda, ainda está em sua maioria matriculada nas IES da rede privada.

Fonte: Instituto Semesp

*Obs: O gráfico leva em consideração os grupos de cor ou raça determinados pelo IBGE,
desconsiderando os dados referentes aos estudantes que não declararam raça ou cor
e aqueles que não dispõem da informação em seus formulários.

Fonte: Instituto Semesp

Comparativo com a população total na faixa etária 19 a 24 anos por cor/raça

Fonte: Instituto Semesp

O gráfico mostra que, se o Brasil quiser melhorar sua taxa de escolarização líquida (que mede o total de jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior em relação ao total da população da mesma faixa etária), atualmente em 17,9%, o país precisa desenvolver políticas públicas de inclusão voltadas para os jovens da raça/cor preta e parda, os dois grupos que sofrem maior exclusão.

Faixa Etária

Os gráficos apontam que as modalidades presencial
e EAD têm públicos diferentes. Enquanto o jovem,
predominantemente, quer fazer o ensino presencial,
o tradicional modelo de EAD atrai um público mais velho,
que não teve acesso ao ensino superior durante a juventude.

Fonte: Instituto Semesp

Turno do Curso

O turno noturno predomina na rede privada, apontando
que parte dos estudantes precisa trabalhar para pagar as
mensalidades do ensino superior. O turno vespertino
é o menos frequentado, tanto nas redes privada
quanto pública. Já no EAD, o percentual de alunos
é maior nas IES privadas.

Fonte: Instituto Semesp

Já cursou outra graduação anteriormente

O turno noturno predomina na rede privada, apontando
que parte dos estudantes precisa trabalhar para pagar as
mensalidades do ensino superior. O turno vespertino é o
menos frequentado, tanto nas redes privada quanto pública.
Já no EAD, o percentual de alunos é maior nas IES privadas.

Fonte: Instituto Semesp

Procedência do Aluno

A modalidade EAD, na qual os conteúdos são em grande
parte gravados e reaproveitados em larga escala, o que
permite uma redução de custos, tem sido uma ferramenta
de acesso importante para que a grande maioria das
pessoas de renda mais baixa curse uma graduação.

Fonte: Instituto Semesp

Condição no Domicílio

O gráfico mostra a responsabilidade do aluno que frequenta
o ensino superior no domicílio onde reside. Na rede privada,
por exemplo, praticamente um a cada cinco estudantes é a
pessoa responsável, o chefe da família, o que demonstra que
a rede privada é o principal canal de acesso ao ensino
superior da população mais carente.

Fonte: Instituto Semesp

Empregabilidade e Rendimento do Aluno

Trabalho

Fonte: Instituto Semesp

O perfil dos estudantes do ensino superior brasileiro mostra mais uma contradição do país: as pessoas que estudam em escolas privadas precisam trabalhar porque precisam de renda para pagar as mensalidades; enquanto que as pessoas de famílias com maior poder aquisitivo acessam o ensino superior pela rede pública e gratuito, daí não precisam trabalhar.

Setor do Trabalho

Fonte: Instituto Semesp

Estudantes com maior acesso e melhor renda entram na universidade pública e depois, por terem mais tempo, preparo e apoio da família, têm maiores chances de ingressarem em concursos públicos. Em geral, as pessoas de classes de renda maiores conseguem estudar nas universidade públicas, não pagam mensalidade durante o curso e, posteriormente, ocupam os melhores empregos oferecidos pelo estado.

Carteira Assinada

Fonte: Instituto Semesp

Obs: O gráfico mostra o percentual de alunos da graduação que exerciam atividade remunerada com carteira assinada.

Carga Horária de Trabalho

Fonte: Instituto Semesp

Além do percentual de trabalhadores que estuda na rede
pública ser menor, esses estudantes ainda trabalham com
uma carga horária menor, muitas vezes justificado pelo
fato dos cursos serem ofertados em período integral.

Área de Atividade da Empresa que Trabalha

Fonte: Instituto Semesp

As áreas da Educação e Saúde são as que mais empregam
pessoas com diploma de nível superior. Isso acaba se
refletindo também nas próprias matrículas.

Faixa de Renda do Aluno

Uma das explicações para o rendimento médio um pouco superior
dos estudantes da rede privada em relação à rede pública é que
esses alunos possuem trabalhos com carga horária maior.
Enquanto os estudantes da rede privada realmente precisam
trabalhar para se sustentar e, inclusive, pagar as mensalidades,
os alunos das IES públicas, geralmente, trabalham para ganhar experiência.
A maioria dos alunos que frequenta um curso de graduação
recebeu, pela atividade remunerada exercida em 2019,
até 2 salários mínimos mensais, um percentual de 72,0%.

Fonte: Instituto Semesp

Faixa de Renda x Modalidade

Fonte: Instituto Semesp

A renda do EAD é um pouco maior porque esses
estudantes são, geralmente, pessoas mais velhas já
inseridas no mercado de trabalho, com mais experiência
ou até mesmo já fazendo uma segunda graduação.

Faixa de Renda x Modalidade

Fonte: Instituto Semesp

Quanto maior o grau de escolaridade, maior o rendimento. O gráfico aponta que há aumento do rendimento dos alunos conforme aumento do seu nível de escolaridade. Por exemplo, um aluno que está cursando o ensino superior e trabalha recebe um rendimento maior do que aqueles que trabalham e estão cursando o ensino médio ou fundamental.
Como houve um aumento do acesso ao ensino superior nos últimos anos, a diferença de rendimento entre os profissionais com graduação e aqueles apenas com ensino médio é menor do que os com ensino superior completo em relação aos demais níveis de especialização. Quanto mais especializada a mão de obra, maior o seu rendimento.

Rendimento dos Alunos no Ensino Superior (em Reais)

Fonte: Instituto Semesp

Estimativa do Rendimento Comprometido com a Mensalidade no Ensino Superior Privado (em Reais)

Fonte: Instituto Semesp

Faixa de Renda por Classe Social

Os critérios de seleção das classes de renda foram definidos pelo Instituto Semesp, não seguindo um recorte oficial. Para esse estudo em específico, foi considerado o rendimento domiciliar per capita, isto é, a soma de todos os rendimentos do domicílio dividido pelo número de pessoas residentes nesse domicílio. Lembrando que entraram nesse cálculo apenas os domicílios onde havia pelo menos uma pessoa frequentando o ensino superior.
Os dados mostram que o movimento de inclusão, principalmente entre aqueles com faixa de renda entre um e três salários mínimos nos últimos anos, foi diminuindo e parando de crescer, mesmo com o crescimento do EAD. O principal motivo foi o efeito do declínio do programa de financiamento estudantil FIES.

Faixa de Renda Domiciliar per capita

Fonte: Instituto Semesp

Obs.: Estimativa calculada com base no número de alunos matriculados conforme Censo da Educação Superior INEP

Faixa de Renda por Modalidade

Fonte: Instituto Semesp

Obs.: Estimativa calculada com base no número de alunos matriculados conforme Censo da Educação Superior INEP 2018

Faixa de Renda por Rede

Fonte: Instituto Semesp

Obs.: Estimativa calculada com base no número de alunos matriculados conforme Censo da Educação Superior INEP 2018

Taxa de Escolarização Líquida

Quanto maior a classe social, maior a condição de cursar o ensino superior: 61,9% dos jovens de 18 a 24 anos da
classe A (que possuem renda domiciliar de mais de oito salários mínimos) frequentam o ensino superior,
enquanto que apenas 10,5% dos jovens da classe E (com renda domiciliar de até meio salário mínimo)
acessam uma graduação. Três a cada quatro alunos de 18 a 24 anos da classe C que frequentam o ensino
superior estão matriculados em uma IES privada.

% Alunos de 18 a 24 Anos no Ensino Superior em relação à População na Mesma Faixa Etária – 2018

Fonte: Instituto Semesp

Evolução da Taxa de Escolarização Líquida 

Fonte: Instituto Semesp

Apesar de a população jovem ter se mantido praticamente estável no período de 2012 a 2018, houve aumento na inclusão dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior.
As classes D e E (com faixas de renda com até um salário mínimo) aumentaram a participação no ensino superior no período de 2012 a 2018, considerando a idade de 18 a 24 anos, que serve de base para o cálculo da taxa de escolarização líquida. Nesse período, o aumento foi de mais de 800 mil alunos matriculados que estão nessas faixas de renda. Ao mesmo tempo, o número total de pessoas no Brasil com idade entre 18 a 24 anos vem caindo, exceto para a classe E.

Obs.: Estimativa calculada com base no número de alunos matriculados conforme Censo da Educação Superior INEP

Comparativo dos Jovens e dos Alunos de Graduação de 18 a 24 Anos

Fonte: Instituto Semesp

Se o acesso ao ensino superior fosse democrático, os gráficos manteriam a mesma proporção. A diferença entre as duas colunas reflete o grau de desigualdade social do país.