É comum ouvirmos nos últimos anos, nos eventos de ensino superior, que é preciso apostar em inovação acadêmica. Palestras, artigos e livros tem tratado do tema. De tanto ouvirmos e lermos sobre o assunto, corremos o risco de  “pegarmos a onda da inovação” de qualquer maneira. Muitos dirigentes de instituições de ensino superior podem acreditar que  seu negócio pode morrer, se não iniciar o mais rápido possível esse processo.

Obviamente que acreditamos na inovação, mas não somos anunciadores do “fim do mundo”.  O mundo não vai acabar nos próximos anos se não inovarmos a qualquer custo. Por outro lado, se não iniciarmos um processo de discussão sobre o tema (o que entendemos por inovação, o que queremos, quando vamos implementá-la e quais são os recursos que temos), inevitavelmente a capacidade competitiva da IES será afetada.  Por isso,  “pegar a onda da inovação” requer maturidade institucional.

A inovação acadêmica deve ser estruturada por um planejamento institucional. Esse processo depende, entre outros fatores,  da liderança, da coragem em realizar mudanças, da vontade política de reorganizar setores acadêmicos e administrativos, quando necessários e da participação das pessoas.

A inovação requer integração sistêmica, onde os setores acadêmicos e administrativos atuam de forma integrada, na mesma direção. Esse é um desafio enorme para os líderes, pois é preciso combater os micropoderes, o corporativismo e o marasmo institucional, em que tudo é feito como sempre foi feito.

Ao defendermos novas atitudes, reorganização de projetos, abandono do que não está dando certo, a expectativa é que ocorra na IES, uma mudança na cultura institucional. Construir a cultura da inovação exige atitude e planejamento, pois a IES tem que saber onde quer chegar.

Obviamente que a inovação pode ocorrer de forma intuitiva e espontânea, caracterizada pela percepção dos líderes, mas a construção de  diretrizes que institucionalizem passo a passo as mudanças é saudável e bem-vinda para evitar surpresas, desperdício de tempo, recursos e fracassos. Reconhecemos que durante os processos de mudança cultural precisamos considerar o imponderável, mas cabe aos líderes diminuírem as possibilidades dos erros.

A inovação pode ser disruptiva, mas é pouco provável que os líderes  façam isso. Participei de um evento da Blackboard (BbWorld2017) sobre tecnologia e educação, em New Orleans, a convite do Grupo A   e o evento tratou de temas que já conhecemos, como uso da plataforma e do big data, perfil e formação de professores, aprendizagem ativa, engajamento e acesso dos estudantes, gamificação, e blenned learning, por exemplo.

Mas, a novidade do BbWorld2017 foi apresentar os novos recursos e as formas de utilização e gestão da plataforma e das informações via big data, as estratégias de  engajamento do estudante através da utilização de ambientes de aprendizagem (plataforma) flexíveis, que permitem acesso fácil e utilização de diversos mecanismos que facilitam a aprendizagem.

Não ouvi falar em fim do professor, mas assisti apresentações que indicam uma mudança no papel do professor (isso já não é uma novidade, ou pelo menos não deve ser) que, sem deixar de ser o educador com conhecimentos específicos e pedagógicos, passa a interagir mais com os estudante através da tecnologia. Os novos recursos didáticos permitem que o professor priorize o aprendizado, especialmente através do engajamento dos estudantes em uma proposta de “ensinagem” (ensino com aprendizagem) hands on, mais maker, que desperte paixão por aprender.

Em um contexto de avanço da educação com uso de tecnologias, os gestores de IES precisam investir em designers de ambientes virtuais e em pessoas que saibam trabalhar com esse sistema. As boas plataformas requerem capacidade de utilização dos recursos disponíveis. Os professores precisam de apoio para o bom uso da tecnologia e para despertarem a paixão pelo aprendizado.

Líderes dispostos a instigarem a cultura da inovação, professores que conhecem os princípios da aprendizagem e das metodologias ativas e que são capacitados e estimulados a utilizarem a tecnologia como recurso para a ensinagem, aliado ao apoio plataformas flexíveis e bem estruturadas, são elementos básicos para uma IES construir uma trajetória que a torne contemporânea e mais competitiva.

Com esses elementos, a IES pode construir um projeto de blended learning e reorganizar seu projeto acadêmico. Acreditamos que o ambiente do ensino superior será mais blended e que as diferenças entre o que ensino on-line e presencial irão pouco a pouco desaparecer, o que exigirá por parte do MEC e dos dirigentes, novas concepções de IES e novos modelos de avaliação das instituições e dos cursos de graduação e de pós-graduação. No Bbworld2017 foi possível conhecer boas experiências de blended learning.      

A partir desses princípios, a IES pode projetar outras mudanças significativas, como implementar um currículo por projetos, investir em Fab Labs, na robótica e na inteligência artificial, por exemplo.

O Semesp organizou recentemente um debate sobre o “Futuro do Ensino Superior”, como o objetivo de apontar para os dirigentes das IES os caminhos que podem ser trilhados nos próximos anos.  O evento contou com a participação do professor Vijay Kumar (MIT) e de Stephanie Kenen (Harvard). Ambos afirmaram que a inovação nasceu da maturidade das IES e do planejamento.

O MIT, por exemplo, criou em 2013 o que o Reitor L. Rafael Reif chamou de “Task Force”, para pensar o “Future of MIT Education”. O objetivo foi propor um ecossistema de pesquisa, aprendizagem e inovação para a instituição. O papel da força tarefa foi projetar o futuro de MIT, na perspectiva da inovação acadêmica. O trabalho desenvolvido é um bom exemplo de inovação estruturada.

Portanto, caro leitor que é gestor, não deixe de promover diálogos institucionais sobre a inovação e de construir um projeto. Não permita a continuidade do “mais do mesmo” sob o risco da instituição tornar-se obsoleta e não “pegue onda da inovação porque assim tem que ser”.

Gestor, converse com as pessoas, escreva um e-mail ou telefone para quem atua na área do ensino superior e que você considera relevante, visite instituições, construa um plano institucional que tenha alicerce na identidade, tenha um ambiente de aprendizagem que instigue a cultura da inovação, invista em uma boa plataforma tecnológica e em uma estrutura de apoio para os professores, valorize as pessoas compromissadas com o projeto institucional.  Se necessário, faça mudanças mais radicais, mas ficar parado não pode ser uma opção.

Fábio Reis, diretor de Inovação e Redes de Cooperação do Semesp.