O Ministério da Educação tem se esforçado para provar que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) vai garantir a melhoria da qualidade acadêmica e a qualificação da gestão universitária. Educadores do setor privado alertam, no entanto, que o governo vai ter dificuldades em melhorar a qualidade da educação superior no país se não intervir no ensino básico.

O nível de conhecimento com que os alunos concluintes do Ensino Médio chegam à Universidade vem preocupando cada vez mais os responsáveis pela coordenação pedagógica das instituições do ensino superior. “São deficiências de conteúdo em disciplinas básicas como Português e Matemática, aliadas a outros fatores que impedem o aproveitamento do curso pelo aluno e prejudicam o cumprimento do que foi programado para o ano letivo pelas instituições”, explica  Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP).

Os processos seletivos deveriam funcionar como um filtro, mas isso não acontece na prática. O número de estudantes que atravessam essa barreira sem as condições necessárias para acompanhar o curso superior oscila entre 10% e 30% dos aprovados. Algumas instituições adotam critérios próprios – como notas de corte no processo seletivo – para reduzir o número de novos alunos com dificuldades. Ainda assim, são obrigadas a executar verdadeira ginástica para acomodar os novos contingentes de alunos com dificuldades, promovendo cursinhos internos, dinâmicas de grupo, aulas especiais aos sábados, palestras, reciclagens, plantões de dúvida e aulas de reforço, segundo a peculiaridade de cada curso.

A diversidade dos ingressantes no curso superior é outra variável que afeta diretamente o aproveitamento acadêmico. Segundo Figueiredo, são vários fatores que contribuem para a heterogeneidade, independentemente da formação escolar em si. “Há alunos que trabalham e outros que apenas estudam. Alguns podem custear os próprios estudos, outros não. Há os que precisam efetuar longos deslocamentos para chegar à escola (é comum no Interior viagens de uma cidade a outra), e assim por diante”.

Esse panorama tende a se agravar com a chegada à Universidade, das primeiras levas de alunos que em sua passagem pelo Ensino Fundamental foram vítimas do processo de promoção automática. Para o professor Figueiredo, todo o esforço intelectual do estudante e os investimentos que o setor privado realiza pode não ser totalmente aproveitados pelos estudantes com deficiências na formação básica. “É preciso que ações planejadas no ensino básico sejam colocas em prática para atingirmos qualquer melhoria nos resultados da graduação, que para minha perplexidade, é um tema que o MEC deixou de contemplar na sua proposta de Reforma Universitária”.

 Algumas iniciativas 

As instituições de ensino superior particular do Estado de São Paulo têm enfrentado essa situação com criatividade. A Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), adota um conjunto de medidas pedagógicas, curriculares ou não, que propiciam um melhor desenvolvimento das habilidades e da consciência crítica do estudante, tais como palestras com especialistas convidados, atividades práticas de campo, projetos comunitários etc.

A Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) também realiza uma série de ações de apoio aos alunos. Uma delas é exclusivamente voltada para os ingressantes beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI).

Já a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) procura diminuir a defasagem de conteúdo básico dos seus alunos do primeiro ao último ano, através da sua grade curricular, de atividades culturais e extra-curriculares, dando ênfase aos conhecimentos básicos como português, filosofia e economia.