Reunião será nesta manhã; jurista Dalmo Dallari, que apóia reivindicação dos alunos, critica vínculo deles com sindicato

 

Pode terminar hoje a greve dos professores da Universidade de São Paulo (USP), que começou no dia 23 de maio. Eles se juntaram à paralisação de estudantes e funcionários da universidade. Na semana passada, foi votado um indicativo de suspensão da greve, que pode se concretizar em uma nova reunião marcada para esta manhã. Os reitores ofereceram reajuste salarial de 3,37% à categoria.

Já os estudantes, que permanecem acampados há 39 dias na reitoria da USP, farão mais uma assembléia amanhã, às 18 horas, em frente ao prédio ocupado.

ORIGEM DA OCUPAÇÃO

Em entrevista ao Estado, o jurista e professor de Direito da USP Dalmo de Abreu Dallari fez críticas aos alunos que ocupam a reitoria da universidade. Para Dallari, a vinculação dos estudantes com partidos políticos de extrema esquerda, como mostrou reportagem do Estado ontem, “descaracteriza o movimento, que deixou de ser estudantil para transformar-se numa questão sindical”. Na opinião do professor, o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp) tem prejudicado os alunos.

Desde o início da ocupação, Dallari tem se posicionado a favor das reivindicações dos alunos, sobretudo no que se refere à questão da autonomia da universidade, que teria sido prejudicada pela edição de decretos do governador José Serra (PSDB). Para o jurista, a criação da Secretaria de Ensino Superior, incluída em um dos decretos, seria até mesmo inconstitucional.

Reportagem do Estado veiculada ontem mostrou que a tomada do prédio da reitoria foi planejada e sustentada por partidos políticos como PCO, PSTU e PSOL, além da central Conlutas. Dez minutos depois da ocupação do prédio da reitoria, no dia 3 de maio, Claudionor Brandão, ex-diretor do Sintusp, chegou para instruir os invasores. Desde então, cada dia da ocupação tem começado com uma reunião, no sindicato, de representantes dos partidos políticos e da Conlutas. No interior do prédio da reitoria, as operações são conduzidas por cerca de 30 líderes estudantis que controlam centros acadêmicos da universidade.

Segundo o vice-presidente da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), Francisco Miraglia, a ocupação da reitoria pelos estudantes dava a impressão de um gesto espontâneo. Mas, para ele, a vinculação do movimento com partidos de esquerda “não surpreende”.
Para Dallari, o impasse que se seguiu à ocupação da reitoria já prejudica o semestre letivo. Ele propõe que a reitora da USP, Suely Vilela, monte uma comissão para conduzir as negociações com os alunos. “A universidade precisa acenar com a possibilidade de restabelecer novas discussões.”
Os alunos que ocupam a reitoria foram procurados ontem, mas até o fechamento desta edição não tinham se manifestado.