O mercado, com todas as implicações políticas, econômicas, sociais, trabalhistas e culturais, é o foco principal – ou pelo menos é preponderante – dos dirigentes de faculdades e universidades que tiveram bons conceitos no último Exame de Desempenho de Estudantes (Enade), realizado pelo Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC). As que tiveram péssimos conceitos terão que se rever pedagogicamente para buscar melhores colocações no ranking universitário regional e nacional. As entrevistas e declarações dos administradores universitários, reitores e dirigentes em geral das universidades não fazem segredos de que o objetivo maior das instituições superiores é a preparação técnica dos estudantes para atuar no competitivo mercado de trabalho. Um mercado que, hoje, é submetido às normas e aos procedimentos de uma globalização que exige mão-de-obra qualificada para as mais diferentes profissões desse mercado nacional e internacional. Tudo isso é baseado nas leis de ensino, que preceituam a qualificação para o mundo do trabalho sem descurar, evidentemente, da formação profissional em que deverá se fundamentar a preparação para a cidadania.

Não se viu pelo Brasil afora, com raras exceções, ações eufóricas sobre os resultados do Enade por meio do marketing educacional. Pelo contrário, as instituições receberam cautelosamente os resultados dos exames e deverão buscar avaliações internas para trabalhar seus objetivos em função dos seus egressos que tentam conseguir trabalho nas empresas públicas ou privadas ou para reverem suas metodologias em currículos mais adequados ao conhecimento contemporâneo. Mas todos os envolvidos direta ou indiretamente com os problemas da educação brasileira sabem, a começar pelo ambiente de casa, que a educação não contribui como deveria para impulsionar o desenvolvimento profissional das pessoas e do País.

A sociedade reconhece que a educação básica – fundamental e médio – é fraca e medíocre, que a educação superior no nível da graduação é de uma olímpica carência de ciência e de tecnologia, que a cultura em seu sentido amplo não faz parte de programas e currículos. Reconhece ainda que os profissionais brasileiros se ressentem de um parágrafo bem escrito e de uma boa argumentação, que as licenciaturas precisam passar por atualização e os profissionais sentem necessidade de uma educação continuada para acompanhar o desenvolvimento do País. Os resultados do Enade, destinado aos universitários da graduação, e do Enem, destinado aos estudantes de ensino médio, são compatíveis com o desempenho dos estudantes, dos professores e das instituições que trabalham com esses níveis de competência pedagógica.

Não há, à vista, resultados díspares e discrepantes que inviabilizem essas avaliações do MEC que têm, pelo seu caráter nacional, prós e contras sem que seus críticos possam ignorar qualquer tipo de avaliação dentro ou fora das instituições, principalmente de seus egressos. Percebe-se a dificuldade de aceitar as avaliações educacionais por se tratar de um País que não tolera ser avaliado em seus princípios e objetivos e que não cultiva uma cultura de avaliações como dispositivo norteador de retificar o que está errado, de criar outras opções ou de buscar soluções, ainda que se considere que são instituições empresariais e sujeitas, portanto, a rigorosos controles de qualidade que têm no consumidor o destinatário de uma ação educacional.

No atual estágio da educação, na perspectiva de cenários de mercado, de consumo, de políticas econômicas, as universidades precisam das avaliações não como tabelas de jogos, mas como compromisso social e político dos bons profissionais revestidos da necessária cidadania participativa.