Invasão na USP já dura 30 dias; professores e funcionários também continuarão em greve

Decisão foi tomada um dia depois de o governador José Serra (PSDB) publicar decreto assegurando a autonomia universitária

Um dia após o governador José Serra (PSDB-SP) ter publicado um decreto no qual diz que está assegurada a autonomia das universidades, estudantes, docentes e funcionários da USP decidiram ontem manter a greve que atinge parcialmente a instituição. Em assembléia que reuniu entre 800 e 1.000 pessoas (segundo os grevistas) à noite, os estudantes aprovaram também a manutenção da invasão do prédio da reitoria, que completa 30 dias hoje. A USP tem 80.589 alunos.

Serra publicou anteontem um decreto declaratório na tentativa de pôr fim à greve nas universidades públicas paulistas. A medida foi bem recebida por membros da academia antes críticos ao governo e pelos estudantes. Mesmo assim, ainda não houve avanço. Os estudantes, na assembléia, disseram que só o novo decreto não é suficiente. Eles, segundo Carlos Gimenes, do comitê de comunicação dos alunos, querem a revogação dos decretos e a criação de uma comissão para rediscutir o estatuto da USP.

Os alunos vão se reunir com a reitora da USP, Suely Vilela, na segunda. Os servidores anunciaram que pretendem fechar os portões do campus na terça. Além do protesto contra os decretos para o ensino superior -que, segundo os grevistas, ferem a autonomia das universidades-, cada categoria tem uma pauta própria. Na de professores e funcionários há pedido de reajuste salarial. Na dos estudantes, há outros 16 pontos, que incluem melhorias no campus e democratização da universidade.

“Consideramos que houve avanço com relação aos decretos, mas ainda não houve tempo para aprofundarmos a análise. E também temos outras reivindicações”, disse o presidente da Adusp (associação dos docentes), Cesar Minto. Segundo a Adusp, a assembléia contou com 168 dos 5.222 professores da universidade. “Além de lutarmos contra os decretos, também exigimos mais verbas para a educação, o que não foi atendido”, disse o diretor do Sintusp (sindicato dos servidores) Aníbal Cavali. A assembléia dos funcionários não contabiliza os presentes.

O secretário de Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, foi procurado pelo terceiro dia consecutivo, mas não respondeu aos recados. Em ocasiões anteriores, Pinotti afirmou que o governo nunca pretendeu interferir na autonomia e que a crise começou por mal-entendidos. Sobre recursos para as universidades, o secretário afirma que não há possibilidade de aumentá-los neste momento, pois outras áreas poderiam ser prejudicadas. Juntas, USP, Unesp e Unicamp recebem 9,57% do ICMS (principal imposto paulista).

O Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) voltou a oferecer ontem reajuste de 3,37% aos funcionários e professores da USP, Unicamp e Unesp. Essa proposta já tinha sido recusada. Os sindicatos que representam as duas categorias nas três instituições reivindicam reajuste de 3,15% e incorporação de R$ 200 ao salário.

O piso dos funcionários é de R$ 800. Já o sindicato dos docentes usa como base a categoria de professores doutores em dedicação exclusiva, categoria mais numerosa da universidade, que ganha R$ 5.560. A reunião ocorreu na Unicamp. Ao final do encontro, o reitor da Unicamp e presidente do Cruesp, José Tadeu Jorge, disse que o orçamento da instituição não permite a concessão dos R$ 200 pedidos por professores e funcionários.

“O reajuste que propusemos recompõe o poder aquisitivo dos salários de um ano atrás.Não temos como concordar com o aumento de R$ 200 porque isso eleva o comprometimento do nosso orçamento”, disse o reitor.