Grupo recebe o apoio de partidos como PSTU E PSOL e também de movimentos radicais e de extrema-esquerda.

Os estudantes que invadiram o prédio da reitoria da USP há 14 dias completaram ontem 24 horas de desobediência à decisão judicial que os obriga a deixar as instalações. Os alunos dizem que a reitora Suely Vilela, para evitar o desgaste de pôr a Polícia Militar dentro da universidade, não chamará a PM para cumprir a ordem de desocupação. Os estudantes decidiram resistir à decisão judicial em assembléia realizada anteontem. Mas entidades estudantis — como UNE e o DCE da universidade —, que não participam da ocupação, aconselharam os alunos a deixar o prédio. O secretário de Educação Superior, José Aristodemo Pinotti, disse ontem esperar que os alunos desocupem a reitoria pacificamente.

PSOL e PSTU apóiam ocupação da reitoria

Em um vídeos sobre a ocupação, feito pêlos próprios alunos e que pode ser acessado no site YouTube, há cenas em que alguns deles jogam bola em um salão da reitoria e dormem sobre o balcão da recepção. O grupo de invasores tem o apoio de PSOL, PSTU e grupos políticos de extrema-esquerda que se identificam com siglas como a Liga da Quarta Internacional Socialista do Brasil.

O deputado Carlos Gianazzi (PSOL), que apoia a invasão, negou que tenha influenciado o grupo, embora tenha freqüentado o local invadido:

— Ali tem vários movimentos, anarquistas, punks… A maioria é anarquista. Fui até hostilizado por ser parlamentar. A liderança é colegiada.

Ontem, Gianazzi esteve com os estudantes e com cerca de 300 funcionários e professores, na Assembléia Legislativa. Lá, eles pediram o atendimento de suas reivindicações. Eles querem que o governador José Serra (PSDB) desista do decreto que cria a Secretaria estadual de Educação Superior, o que, segundo os manifestantes, acabaria com a autonomia das universidades paulistas (USP, Unesp e Unicamp), sobretudo na gestão financeira e no desempenho acadêmico. Pinotti negou essa intenção e disse que os recursos orçamentários para as universidades serão mantidos. O objetivo do estado é justamente dar transparência aos gastos da USP, diz o governo.

Desde o início do ano, alunos, funcionários e professores de universidades paulistas tentam pressionar Serra a rever o decreto. O GLOBO teve acesso a um ofício do secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Machado Costa, ao presidente do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), José Tadeu Jorgeu, no qual o governo se compromete a garantir a autonomia universitária.

Governo paulista garante que autonomia será mantida

O documento foi enviado ontem a Tadeu Jorge, que é reitor da Unicamp. “Reafirmo a decisão do governo de definir, em entendimento com os reitores, um regime adequado de remanejamento de dotações orçamentárias que atenda às peculiaridades de sua organização e funcionamento sob a égide da autonomia consagrada na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”, diz o secretário.

Para os reitores, segundo o Cruesp, o ofício é um sinal de que, embora tenham de dar conhecimento ao governo dos remanejamentos orçamentários a partir de agora, as universidades poderão manter sua autonomia para gastar seus recursos. Para os alunos, no entanto, a autonomia não está garantida. A ocupação da USP foi engrossada ontem com funcionários da universidade que, em greve, decidiram acampar no primeiro andar da reitoria.