Apesar da determinação da justiça de reintegrar a posse do imóvel, manifestantes decidem permanecer na reitoria

 

Alunos da Universidade de São Paulo (USP), que há 13 dias invadiram o prédio da reitoria, se recusavam ontem a deixar o prédio, apesar da decisão do juiz Jayme Martins de Oliveira Neto, da 13º Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que determinou a reintegração de posse. O protesto é contra decisões do governo do estado.

No fim da noite, cerca de 500 alunos, reunidos em assembléia, decidiram manter a ocupação mesmo com a decisão judicial. Em seu despacho, o juiz afirma que poderá ser requisitada força policial, mas recomenda que o despejo seja feito com cautela.

Parte dos funcionários resolve entrar em greve

Embora tenha conseguido da Justiça à ordem para saída dos alunos, a USP sofreu ontem um outro revés: 70% dos 15,5 mil funcionários da instituição deflagraram greve por tempo indeterminado. No fim da noite, os alunos também decidiram entrar em greve.

Na ocupação há duas semanas, os universitários quebraram móveis e computadores e derrubaram portas, segundo a direção da USP. Desde então, eles mantêm barracas de lona na porta do prédio e impede a passagem de quem não for estudante. Assim que receberam a notificação de um oficial de Justiça, no início da noite de ontem, os alunos montaram barricadas no segundo andar do prédio, onde se refugiariam caso fosse usada força policial para despejá-los.

Também os professores da instituição marcaram para o próximo dia 23 assembleia pa­ra decidir se entram ou não em greve para protestar contra o governo estadual.

Secretário diz que estudantes criaram central de mentiras.

Alunos, professores e funcionários da USP se manifestam contra o governador José Serra (PSDB), que no início deste ano assinou decreto que estabelece controle sobre os gastos das universidades estaduais. Segundo os manifestantes, o objetivo do governo seria acabar com a autonomia das universidades. O decreto, assinado em janeiro, formaliza que a USP, a Unesp e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) passam a ter a gestão de recursos sob o comando da Secretaria de Ensino Superior, criada por Serra. O secretário da pasta, José Aristodemo Pinotti, classificou as declarações dos manifestantes como uma central de mentiras.

— Eles dizem que proibimos a contratação de professores, ao mesmo instante que um professor diz que estamos contratando normalmente. Existe uma central de divulgação de mentiras que está levando a uma situação irracional, inclusive mantendo essa coisa que é puramente política de invasão da reitoria da USP — disse Pinotti, reiterando que o governo estadual não pretende cortar o repasse de 9,57% do ICMS para as três universidades estaduais.

— Eles falam do decreto, mas não falam do conteúdo. Gostaria que dissesse qual é o item do decreto que altera a autonomia ou a distribuição de verbas — desafiou Pinotti.

Funcionários e professores farão marcha a Assembléia

A USP deu entrada na Justiça com pedido de reintegração de posse sob alegação de que se trata de um movimento político. O protesto se estendeu ao campus da Unesp em Marília, interior do estado, onde 50 estudantes acampam no saguão do prédio da administração da universidade.

Além de pedirem a extinção do decreto de Serra, eles também reivindicam melhorias nas instalações, contratação de pro­fessores e criação de novas vagas nos alojamentos do campus. Um vídeo divulgado na internet por alunos da USP mostra uma sala de aula, que seria do curso de geografia, inundada e alunos escorregando na rampa de acesso a uma das salas de aula.

— Esse decreto assinado pelo Serra é uma forma de possibilitar que o governo controle a educação no estado. O próprio decreto diz que a criação da Secretária de Ensino Superior vai traçar políticas de ensino universitário — criticou Carlos Gimenez, aluno do curso de ciências sociais responsável pela comunicação com a imprensa.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da USP, Magno Carvalho, disse que cerca de 70% dos 15,5 mil funcionários haviam aderido à paralisação, reivindicando o fim do decreto e também aumento salarial. Hoje cedo, um grupo de funcionários e professores marchará até a Assembleia Legislativa de São Paulo para pressionar os deputados estaduais a reverem o decreto de Serra.