Com o mercado cada vez mais competitivo e exigente, tanto os profissionais com nível superior que já estão no mercado quanto os que estão se formando precisam planejar suas carreiras e continuar estudando. Algumas poucas companhias, principalmente multinacionais de grande porte, possuem programas que incentivam os funcionários a obter uma formação acadêmica mais sólida, inclusive contratando cursos fechados de mestrados e especializações dentro das empresas. Esta é uma forma inteligente de formar mão-de-obra qualificada e reter os seus talentos. Mas a maioria caminha em sentido oposto e deixa isso por conta do funcionário – ele que vá atrás, cuide da sua formação e pague por ela.

Para aqueles que já conquistaram um diploma universitário, o mercado oferece uma ampla gama de possibilidades para aperfeiçoamento em pós-graduação, como especialização, mestrado, doutorado e MBA (Master in Business Administration). “No Brasil, o MEC dividiu a formação em duas áreas, os cursos lato sensu e o stricto sensu. O primeiro é voltado mais para as especializações do mercado, para quem deseja construir a sua carreira em uma empresa. Já o stricto sensu é mais dirigido para a formação de pesquisadores e acadêmicos. Neste último, os cursos são regularizados e avaliados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão do Ministério da Educação (MEC)”, explica Richard Lucht, diretor acadêmico de Pós-graduação e Mestrado da ESPM-SP.

Os cursos stricto sensu são os mestrados e os doutorados, que dão o título de mestres ou doutores aos formados. Muitos deles trilham a carreira acadêmica, pois o MEC exige que, nas universidades, pelo menos 50% mais um dos professores sejam titulados mestres ou doutores. Mas as empresas também absorvem os profissionais titulados, em menor número, principalmente para as áreas de pesquisa e desenvolvimento. “Os cursos lato sensu são os mais populares e em maior número, uma especialização desenvolvida sob a ótica do mercado, para atender as necessidades das empresas, e não para a área da pesquisa e a produção de conhecimento. No Brasil, os MBAs são considerados cursos lato sensu”, comenta Lucht.

O MBA se tornou uma febre no mundo todo. Este tipo de curso surgiu primeiramente nos EUA, onde tem grau equivalente a um mestrado (master). O formando recebe o título de mestre em administração em negócios. Mas isso não ocorre no Brasil. Quando o MBA chegou por aqui, o MEC não sabia bem como enquadrar o curso, que foi considerado uma especialização, semelhante a uma pós-graduação lato sensu e, portanto, sem direito a um diploma, mas apenas um certificado de conclusão. “Sem a regularização da Capes, qualquer um pode lançar um curso e chamá-lo de MBA, mesmo que ele tenha uma baixa carga horária e não tenha qualidade, e o aluno compra pelo preço apenas para ter um certificado. Não há um ranking dos melhores cursos para orientar os alunos”, diz Mário Pascarelli, coordenador dos cursos de MBA Empresarial da FAAP: “Sou plenamente a favor da Capes passar a regularizar os cursos de MBA e considerá-los stricto sensu, com o mesmo grau de um mestrado”.

Ele conta que, para se diferenciar do mercado e criar uma espécie de selo de qualidade, doze escolas de primeira linha criaram a Anamba – Associação Nacional de MBA (www.anamba.org.br), entre elas a FAAP, FIA, Ibmec-SP, ESPM, Katz, Escola de Administração da UFRGS, FGV/EAESP, FDC, BSP, Coppead-UFRJ, CEDEPE e FISP. “Foi estabelecido um padrão de qualidade, que inclui qual o público-alvo (com nível superior e pelo menos três anos em função de liderança), processo de seleção, conteúdo do curso, carga horária mínima (480 horas), qualificação do corpo docente etc.”, explica Pascarelli.

Além de ser um dos fundadores da Anamba, o Ibmec São Paulo aposta em certificações internacionais para garantir a qualidade dos seus cursos de MBA. “Somos certificados pela AACSB – The Association to Advance Collegiate Schools of Business, uma tradicional entidade norte-americana, da qual mais de 400 escolas de negócios do mundo são associadas, e pela Executive MBA Council. Também estamos concluindo a certificação da AMBA – Association of MBAs. A importância disso é que essas certificações garantem padronizações e qualidade nos processos, de forma que estamos nos mesmos níveis das melhores escolas de negócios do mercado internacional”, garante Fábio de Biazzi, coordenador dos cursos de MBA Executivo e Finanças da Ibmec São Paulo.

Segundo ele, os MBAs têm o objetivo de formar líderes empresariais e por essa razão os cursos, pelo menos os de primeira linha, exigem que o candidato tenha experiência de três a cinco anos em cargo de liderança: “Algumas escolas oferecem cursos de MBAs muito específicos, mas, por natureza, o verdadeiro MBA é generalista, pois ele deve capacitar o executivo a comandar qualquer tipo de empresa. Esse líder deve ter conhecimentos em marketing, gestão, finanças etc.”

Mestres e doutores fazem a diferença hoje no mercado.

Quem diria: com a popularização dos cursos, portar um certificado de MBA já não é suficiente para se garantir no mercado. O mestrado e o doutorado ganham destaques, com nível mais alto de qualificação.

O mercado passou a exigir profissionais mais complexos.

Nos EUA e em diversas partes do mundo, o MBA (Master in Business Administration) tem um grau equivalente ao de mestre, como o próprio nome diz (master). “No Brasil, o mestrado tradicional é mais voltado para quem deseja se aprofundar num tema e seguir a carreira de pesquisador. A formação é mais acadêmica. Na outra ponta, existem as especializações e o MBA, que são cursos mais pragmáticos, voltados para o mercado. Um meio termo é os mestrados profissionais, que une esse aprofundamento acadêmico do mestrado tradicional com o lado pragmático do MBA e das especializações”, comenta Fábio de Biazzi, da Ibmec São Paulo.
O problema é que o mestrado profissional ainda não é tão popular. A Capes reconhece apenas 201 cursos. Segundo a entidade, trata-se de um mestrado que enfatiza estudos e técnicas diretamente voltadas ao desempenho de alto nível de qualificação profissional. Esta ênfase é a única diferença em relação ao mestrado acadêmico e ambos conferem o grau de mestre ao formado, permitindo com isso o exercício de docência. O mestrado profissional foi criado em 1998 pela Capes e tem a finalidade de ser um curso para aqueles que estão atuando profissionalmente. Foi uma exigência do mercado, que passou a exigir profissionais mais complexos, que não estavam sendo atendidos pelos cursos de pós-graduação e especializações.
Para a diretora de pós-graduação e pesquisa da universidade Anhembi Morumbi, Marisa Forghieri, foi-se o tempo em que os cursos stricto sensu, como mestrado e doutorado, eram apenas para quem desejava seguir uma carreira acadêmica: “Hoje, com o mercado de trabalho feroz e competitivo, ter um diferencial é importante. Neste contexto, ter um profissional com mestrado passa a ser interessante para as empresas, pois é alguém com espírito crítico e que poderá dar respostas a questões novas”.
Ela explica que diferença entre mestrado acadêmico e mestrado profissional está na proposta e no perfil do corpo docente: “Enquanto que no mestrado acadêmico os professores precisam ter trabalhos científicos publicados, no mestrado profissional eles devem ter patentes registradas. Nos dois casos, o objetivo é a pesquisa e a produção de conhecimentos, mas no mestrado profissional, em que não há bolsa de estudos, isso seria voltado mais para suprir as necessidades do mercado. A diferença realmente é tênue”.
Alberto Luiz Albertini, coordenador dos programas de pós-graduação stricto sensu da FGV-EAESP (Fundação Getúlio Vargas – Escola de Administração de Empresas de São Paulo) afirma que houve uma popularização dos cursos de MBAs e ter este certificado, em muitos casos, já não é um diferencial de peso: “Há dez anos esse tipo de curso era novidade e havia poucos profissionais com MBA, ao contrário de hoje. Claro que há cursos de primeira linha, que seguem padrões internacionais e são muito valorizados, mas o mestrado profissional, que oferece o título de mestre, é um curso mais completo, profundo, que exige mais do aluno, pois é preciso fazer uma dissertação dentro de regras mais rigorosas, reguladas pela Capes. Por isso ele acaba se tornando um diferencial mais atraente”.
Para Albertin, o fato de haver poucos cursos de mestrado profissional no País se deve mais pela falta de amadurecimento do mercado e também um pouco pela concorrência dos MBAs: “Tanto no mestrado acadêmico como no profissional, há exigências na formação do núcleo docente, que precisa ter professores titulados e com pesquisas científicas publicadas. No mestrado profissional, ainda mais em administração, que é o nosso caso, valem também consultorias e artigos e entrevistas em veículos de comunicação, mas basicamente o nível dos docentes é o mesmo em ambos os casos. Como o mestrado acadêmico é o mais tradicional, a escola precisa ter uma estrutura maior para abrigar também o mestrado profissional, e muitas acabam ficando só com o primeiro”.

Faltam doutores
Em meados de abril, durante o 3º Fórum Brafitec, que reuniu pesquisadores brasileiros e franceses em Fortaleza (CE), Jorge Guimarães, presidente da Capes, comentou em sua palestra que em 2005 o Brasil formou 1.114 doutores em Engenharia. Naquele ano, o País somava 8.989 doutores nesta área. Nos próximos quatro anos, o Brasil terá de quadruplicar o número de doutores na área se quiser melhorar o desempenho industrial e empresarial. “O número de doutores em Engenharia é insuficiente para atender a demanda. O que formamos mal substitui as aposentadorias dos núcleos de pesquisa das universidades”, afirmou Guimarães.
Segundo ele, os engenheiros contribuem diretamente no desenvolvimento de processos, produtos e geração de novas empresas: “Há enorme demanda de pessoal qualificado nas áreas de energia, petróleo, gás, minas e metalurgia, automação industrial, bens de capital e outras. Essa demanda é manifestada junto a Capes por diversas empresas, como Petrobras, Companhia Vale do Rio Doce, Itaipu Binacional e muitas outras”. O País possui 4.894 docentes em engenharia; são 139 cursos de doutorado, dos quais 98% em instituições públicas. Isso mostra que o doutorado também é um bom caminho a ser trilhado, pois faltam profissionais titulados no mercado.

Planejar o futuro para enfrentar a competição

Uma formação acadêmica sólida e completa é um diferencial importante para vencer no mercado de trabalho. Nunca parar de estudar é o caminho; afinal, é preciso planejar tudo com cuidado e aprimorar sempre

Adriano Araújo: “A pessoa deve primeiro definir o que deseja fazer e listar o que será necessária para alcançar esse objetivo” ·Marcelo Min/afg·A disputa no mercado de trabalho anda cada vez mais acirrada. Todo ano, as faculdades e universidades despejam dezenas de milhares de novos profissionais. Ao mesmo tempo, as empresas estão cada vez mais enxutas e eficientes para serem competitivas e sobreviverem no mercado. Não é preciso ser doutor em matemática para perceber que a conta não fecha, o mercado não consegue absorver toda essa mão-de-obra. Como estamos em ano de Jogos Pan-americanos, vale aqui um exemplo ilustrativo: como há muitos candidatos, as empresas aumentam a altura do sarrafo que o postulante ao cargo terá de saltar para ser contratado. Ou seja, as exigências estão muito altas e ter apenas um diploma universitário já não é garantia de um bom emprego.

“O mercado vem exigindo profissionais com iniciativas, espírito de liderança, inteligência emocional, facilidade de relacionamento, habilidade para trabalhar em equipe e, claro, sólida formação acadêmica”, diz Adriano Araújo, vice-presidente do Grupo Foco, consultoria especializada em Recursos Humanos. Ele conta que é importante para o profissional planejar a sua carreira: “Há um movimento dentro das escolas para incentivar esta prática. A pessoa deve, primeiramente, definir o que deseja fazer e aonde quer chegar. Com isso definido, listar o que será necessário para alcançar esse objetivo – dominar duas ou mais línguas, ter uma pós-graduação e depois um MBA, e em que área, quais as experiências que deverá ter etc.”.

Para Araújo, após concluir o curso superior, é aconselhável continuar os estudos; quem já está no mercado deve pensar em aprimorar a sua formação, mas isto deve ser feito com planejamento: “É comum o profissional trabalhar num banco, por exemplo, e fazer pós-graduação em finanças. Depois ele muda de emprego e vai para a indústria e o tempo e o dinheiro que investiu serão pouco utilizados. O ideal é que ele pense em ter uma formação mais sólida e completa. Se ele se graduou em Exatas, talvez fosse interessantes umas pós-graduações com foco em gestão de pessoas. O contrário também é válido, alguém com formação em Humanas poderia pensar em complementar a formação com uma especialização em finanças, por exemplo”.

Caso haja oportunidade, Araújo afirma que é bastante bem-vinda uma vivência no Exterior: “Com o mercado globalizado, uma pós-graduação ou MBA fora tem peso importante, pois dará oportunidade, além da formação acadêmica, de conhecer outras culturas”. Além dos Estados Unidos, o profissional pode pensar em outros países como Inglaterra, França, Espanha e Itália, este último, uma referência quando e trata de design e moda.

Araújo comenta que o mercado vem realmente exigindo super profissionais. Mas isso pode trazer conseqüências negativas para as empresas, já que este profissional poderá se sentir frustrado por ser tão qualificado e ocupar um cargo no qual não possa usar o seu potencial. O consultor de carreiras e escritor Max Gehringer escreveu há alguns anos um artigo bem-humorado com o título “Talento em excesso” sobre este assunto. Ele conta que viu um anúncio para uma vaga de gestor de atendimento interno, nome que agora se dá à seção de serviços gerais. E a empresa contratante exigia formação superior, liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e que o candidato fosse “hands on”. Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía mesmo essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Gehringer então imagina uma cena – quem ficou com a vaga foi a Fabiana e ela foi chamada pelo seu Borges, gerente de contabilidade:

– Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
– In a hurry!
– Saúde.
– Não, isso quer dizer “bem rapidinho”. É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
– E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
– O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
– Não, não. Cópias normais mesmo.
– Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
– Fabiana, desse jeito não vai dar!
– E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
– Como assim?
– É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
– Olha, neste momento, eu só preciso das três có…
– Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro…
– Futuro? Que futuro?
– É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
– Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
– Sei. Mas o senhor é hands on?
– Hã?
– Hands on. Mão na massa.
– Claro que sou!
– Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença, que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.