A alegoria de um elefante, batizado de PACderme, numa crítica ao Programa de Aceleração do Desenvolvimento, e um caixão indicando a morte da cultura deram o tom da manifestação que representou ontem, no Rio, o início da greve dos servidores federais da Cultura, em todo o país, por tempo indeterminado. Pelo menos cem funcionários protestaram em frente ao Palácio Gustavo Capanema, sede da Funarte, contra a ausência de um plano de carreira, principal demanda dos grevistas.

Em Brasília, o ministro Gilberto Gil se reuniu com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff,, para retomar as negociações com o Ministério do Planejamento, responsável pela aprovação do Plano Especial de Cargos da Cultura, pronto desde 2005. Ao chegar ao ministério, Gil acenou para grevistas que faziam uma manifestação.

Hoje, às 14h, haverá uma assembléia dos grevistas em frente ao Palácio Capanema, no Rio, seguida de uma passeata. No protesto de ontem, Maria Cristina Gatti, parecerista de projetos da Lei Rouanet (também paralisada), puxava ao microfone a “Ciranda da Cultura”: servidores faziam uma roda em torno de um caixão com velas, enquanto o PACderme dançava ao som de tambores.

— A cultura tem muitas viúvas! — dizia a grevista. — Vários choram este defunto. No Museu Histórico Nacional, um ônibus com alunos do colégio Santo Agostinho teve que voltar da porta. Na Avenida Rio Branco, dezenas de servidores federais se reuniram em frente ao Museu Nacional de Belas Artes e à Biblioteca Nacional. Os visitantes desavisados eram encaminhados a instituições privadas e das redes estadual e municipal, e recebiam um panfleto sobre a greve.

— Na Biblioteca Nacional, quando chove fortes os armazéns são afetados. O Iphan tem cinco arqueólogos para cem mil sítios — diz Rutonio SantAnna, presidente da Associação dos servidores. Assim como a greve afeta a Semana Nacional dos Museus, que começou segunda-feira, pode prejudicar a programação cultural carioca durante os Jogos Pan-Americanos. Durante a greve, a conservação dos acervos, asseguram os grevistas, es­tá garantida: funcionários da segurança, da limpeza e eletricistas continuam trabalhando. Segundo os grevistas, devido aos baixos salários, a evasão dos concursados admitidos no fim do ano passado chega a 60%. Hoje, a Cultura possui 2.200 servidores em todo o país.

Servidores de universidades também podem parar

Servidores técnico-administrativos das universidades federais deverão realizar assembléias em cada instituição, no próximo dia 24, para decidir se entram em greve a partir do dia 28. A decisão foi tomada no início do mês, em reunião plenária da Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades (Fasubra).

Já no dia 23, a categoria deverá aderir à paralisação de 24 horas programada pêlos servidores federais, envolvendo outros órgãos da administração pública. As assembléias para deliberar sobre a greve devem ser no dia seguinte. A Fasubra reivindica reposição salarial para corrigir perdas inflacionárias acumuladas desde 1995. E quer ainda que o governo retire do Congresso o projeto de lei que limita os reajustes salariais do funcionalismo a 1,5% acima da inflação por ano, e que desista de enviar proposta de regulamentação de greve no setor público: — Podia esperar isso do PFL ou do PSDB, mas não de quem liderou greves — disse Araújo Silva.