Aquisição de unidades em diversas regiões levou o grupo a ser o maior do país

O jornal Diário do Grande ABC, de São Paulo, divulgou no final da semana passada que cerca de 150 professores da UniABC foram demitidos pelo grupo Anhanguera educacional. Da mesma forma como ocorrido na unidade do Rio Grande (RS) – onde cerca de 20 professores foram demitidos no último dia 16 -, as demissões atingiram professores com títulos de mestrado ou doutorado, que recebiam salários maiores. A instituição confirmou as demissões na UniABC, mas não informou o número de professores desligados. A estimativa de 150 docentes foi feita pelo Sindicato dos Professores do ABC. A UniABC foi adquirida em julho pelo grupo Anhanguera, que hoje é o maior grupo privado de educação superior no país, após ter comprado também a Uniban, em setembro.

Segundo o presidente do Sindicato dos Professores, Aloísio Alves da Silva, a medida visa unicamente a baixar os custos da universidade, já que no lugar dos titulados devem entrar profissionais com salários inferiores. “Eles demitiram mestres e doutores para contratar especialistas, apenas com graduação ou, no máximo, pós-graduação”, afirma. O sindicalista afirma que os professores remanescentes terão redução na jornada de trabalho. “Isso é precarizar a mão de obra e desvalorizar o trabalhador”. Ele lembra que também já haviam sido demitidos outros 131 docentes na UniA e na Uniban. “Vamos entrar com representação junto ao Ministério Público para tentar reverter isso”, avisou. O presidente admite a possibilidade de a categoria deflagrar greve no início de 2012 para reivindicar a readmissão.

A Anhanguera Educacional, grupo listado em bolsa, tem feito um forte movimento de aquisições em várias regiões. Recentemente, adquiriu as faculdades Atlântico Sul e, só na região do ABC, comprou as unidades da Faenac, em São Caetano, a Anchieta e a Uniban, em São Bernardo, a UniA e a UniABC, em Santo André. Com este apetite, o grupo tornou-se o segundo maior grupo educacional do mundo (somente atrás da norte-americana Apolo Group), levando à concentração do Ensino Superior privado no Brasil.

Neste ano, a UniABC foi penalizada pelo Ministério da Educação com a perda da autonomia, após receber por três anos seguidos um conceito inferior a 3 no Índice Geral de Cursos (IGC). Assim como ocorreu em Rio Grande (RS), a Anhanguera Educacional também só se manifestou por meio de nota. E o teor é exatamente o mesmo da divulgada por aqui. Segundo a nota, os desligamentos se deram “em função do planejamento de carga horária do próximo semestre e faz parte de um movimento natural das instituições de ensino a cada encerramento de semestre”.



Perda de qualidade

Ex-professores da UniABC ouvidos pelo Diário do Grande ABC sustentam que o corte em massa implicará em perda na qualidade do ensino. “Qual é o compromisso que a Anhanguera tem com a Educação? Foram aplicados altos investimentos na compra de outras instituições, mas sem contrapartida para o ensino. É o sucateamento da Educação”, avaliou o professor e mestre Sérgio Simka, que lecionava no curso de Letras. O professor critica o uso exagerado do método de Educação a distância utilizado pela universidade. “Se pessoalmente os alunos já cometem erros de português, imagine a distância?”

Já o professor Vitor Mizael Dias, que dava aulas no curso de Arquitetura, diz que os mestres e doutores que ficaram no quadro funcional teriam sido condicionados a aceitar diminuição da carga horária. “Os professores que trabalhavam com pesquisa tinham jornada de 40 horas semanais. Agora, a jornada será de oito horas”.



Protestos

O jornal relata que a demissão em massa na UniABC revoltou estudantes da universidade. “Me sinto enganada por essa nova administração (da Anhanguera), que está transformando a Educação em linha de produção de diplomas”, criticou a aluna Michelle Bebiano, do curso de Arquitetura. O jornal ouviu também a opinião do estudante Rodrigo Domingues Alves, também de Arquitetura, que afirmou que, apesar do corte, a mensalidade do curso foi aumentada em cerca de 12% desde o início da gestão da Anhanguera.

Jornal Agora