Paul LeBlanc, ex-presidente da Southern New Hampshire University, participou remotamente do 27º FNESP (Foto: Semesp/Juliana Freitas e Luiz Kagiyama)

Nesta quinta-feira (25), durante o painel 2 do 27º FNESP, o tema discutido foi “A Terra está chamando as IES – sustentabilidade como sobrevivência e não como tendência”, onde os participantes debateram a urgência climática e protagonismo das IES frente às políticas negacionistas e prioridades econômicas.

Paul LeBlanc, ex-presidente da Southern New Hampshire University, abriu o painel falando, remotamente, sobre o problema que existe hoje com os centros de dados que estão sendo construídos nos Estados Unidos para armazenar dados e que esses processadores usam muita energia, o que afeta o meio ambiente.

“Acredito que existe um problema enorme que enfrentamos com a IA que é um tsunami que recai sobre a economia, as forças armadas, a preservação do meio ambiente, que são os centros de dados que estão sendo construídos nos EUA e que trazem problemas gravíssimos de sustentabilidade porque necessitam de muito consumo energético”, disse Paul LeBlanc.

Segundo Le Blanc, “A Open IA vai requerer um centro de dados de 500  megawatts, o equivalente ao consumo de uma usina de gás. Haverá ainda a construção de um outro centro de mais 500 megawatts, no total de mil megawatts, o equivalente a produção de um reator nuclear. Ou seja, adicionar a matriz energética americana o consumo de uma cidade grande que usa em torno de 600 megawatts. O tamanho em acres de terra seria de 500 acres, ou mais ou menos 300 campos de futebol”, enumerou.

Outro problema levantado por Le Blanc foi que “esses centros de dados muitas vezes são construídos em regiões já com problemas hídricos. Um dos centros que vem sendo construído no Texas, é em um local que tem poucos recursos hídricos”.

A solução, segundo Le Blanc, vem acontecendo por acordos fechados por empresas que compram energia por meio de PPAs e investem em fontes renováveis. “Nos Estados Unidos são comprados 600 megawatts de energia eólica e solar, mas infelizmente há lugares ainda subdesenvolvidos que possuem redes que não suportam cargas excessivas de energia”.

Segundo Le Blanc, “a Google vem negociando contratos no Tennessee e em Michigan para não esforçar demais a rede de energia para os processadores de alta velocidade da IA e a empresa Nvidia lançou recentemente um processador que tem eficiência 20 vezes maior para guardar os dados”.

No entanto, para Le Blanc, há ainda fatores que complicam o olhar para a sustentabilidade. “Temos um presidente cujo governo é contrário a qualquer estratégia para o clima. O partido Republicano é contrário a qualquer regulamentação nesse setor, por causa da briga dos EUA com a China sobre IA e qualquer coisa que possa competir não vai receber nenhum tipo de apoio. Os legisladores, estrategistas americanos, sabem que só o EUA ou China vão vencer essa guerra e vão comandar o mundo”.

Le Blanc finalizou sua apresentação dizendo que “estamos perdendo a batalha contra a mudança climática. Não acho que a tecnologia vai resolver todos os problemas, mas talvez seja a IA que realmente traga à realidade caminhos para criarmos novas fontes de energia, que são soluções biológicas”.

Sérgio Fiuza de Mello Mendes, reitor do Cesupa e membro do GT de Política Pública do Semesp (Foto: Semesp/Juliana Freitas e Luiz Kagiyama)

Sérgio Fiuza de Mello Mendes, reitor do Cesupa e membro do GT de Política Pública do Semesp, enfatizou que a solução para as IES falarem sobre sustentabilidade é vencendo “problemas perversos”. “Para falar de um tema, na expressão americana na década de 70, ‘wicked problem’, os problemas perversos eram a fome mundial, a poluição, o planejamento urbano. 50 anos depois, os problemas perversos eram a transição energética, mudanças climáticas, e a pobreza e a fome que continuam até hoje. O mundo produz mais alimento do que precisa, mas não é suficiente para combater a fome. Para esses problemas perversos não há uma solução clara. Para os desafios complexos e dinâmicos, que são multicausais e multifatoriais, os resultados são imprevistos. São problemas que para serem enfrentados exigem mudança de comportamento. E sustentabilidade é o problema perverso deste século”.

Segundo o reitor da CESUPA, para enfrentar esse problema perverso é necessário “tratar mudança climática como um desafio de todas as áreas. Outro caminho para ajustiça climática é a cooperação no Sul Global, uma compensação nas desigualdades ambientais, sociais e de infraestrutura. A COP-30 não é da Amazônia, é do Brasil. Temos de falar do que significa efetivamente a tal da justiça climática, como paga a conta, como se financia, o sucesso ou fracasso é quanto os gigantes vão meter a mão no cofre e fazer o aporte para buscar o equilíbrio. Temos também de falar dos saberes nacionais e conhecimento científico”.

Sérgio Fiuza encerrou sua apresentação dizendo que “as IES têm uma dívida com as comunidades tradicionais. Em uma primeira onda as comunidades acolheram os pesquisadores que por meio dessa colaboração criaram teses que foram defendidas, e depois, quando os pesquisadores estavam com seu problema resolvido, nunca mais voltaram. Em uma segunda onda, as comunidades começaram a ser ouvidas e foram para a mesa de debates das IES, por protegeram o conhecimento da sociobiodiversidade por mais de 500 anos não só na Amazônia, mas na Mata Atlântica, no Cerrado e em vários biomas brasileiros. Em uma terceira onda, para que possamos ter proteção da propriedade intelectual, da territorialidade, essas comunidades não aceitam mais sentar apenas na mesa, mas necessitam fazer negócios e gerar riqueza preservando o meio ambiente e a floresta Amazônia viva”, enfatizou.

A solução apresentada por Sérgio Fiuza para aumentar a sustentabilidade das IES foi como fez no CESUPA trazer empresas para empreenderem nos territórios. Em nossa experiência a sustentabilidade une pesquisa, extensão, ensino de graduação, mas desde que seja por uma via que percebamos uma relação de absoluta troca gerando impacto e sendo impactado por essas comunidades locais. Empresas precisam financiar esses projetos e existe hoje a Associação dos Negócios da Bioeconomia da Amazônia, com pessoas do Brasil e do mundo inteiro implantando negócios a partir da bioeconomia da Amazônia”, concluiu.