É consenso que vivemos em um tempo de crises que afetam as taxas de inadimplência nas nossas IES. Houve um aumento de 72,4%, se compararmos abril de 2019 com abril de 2020 e a evasão saltou para 32,5%, segundo levantamento do Instituto Semesp.

A Expertise Educação apresentou dados relevantes no estudo “Tendências de oferta, matrícula e evasão no ensino superior”. Houve uma queda de 70% da busca pelo ensino superior, no Google, entre abril e maio de 2020, se comparado ao mesmo período entre os anos de 2015 e 2019. A pesquisa também aponta que 66% dos estudantes estão insatisfeitos com as aulas assíncronas (a referência é de 89.823 menções) e 79% insatisfeitos com as aulas síncronas (8.484). A pesquisa utilizou recursos de big data.

Não podemos nos enganar com algo que não é real. É um erro acreditar que o modelo de ensino remoto vigente responde à demanda dos estudantes. Também acreditamos ser um erro afirmar que o modelo de EAD vigente, finalmente, será a “bola da vez”. Defendemos que os gestores invistam no ensino híbrido e repensem o modelo de EAD.

É preciso reconhecer que, de modo geral, não estamos obtendo sucesso com nossas aulas remotas, se simplesmente transpormos o presencial para o remoto.

O professor terá de, definitivamente, ter competências digitais. A conquista dessas competências será o resultado do investimento da IES na capacitação docente e do próprio docente, em investir e acreditar que é preciso adquirir novas competências.

Escrevemos esse texto para apontar alguns caminhos de mudança de atitude dos docentes. Talvez, o texto seja uma bússola para o professor obter competências digitais. Nós, autores do artigo, também somos professores.

Por competências digitais, entendemos a necessidade de o professor ser flexível, para compreender e acompanhar o mundo do trabalho, incorporar tecnologias às experiências de aprendizagem; selecionar e criar recursos digitais que contribuam com o ensino, a aprendizagem e a gestão da aula; usar recursos tecnológicos que promovam a inclusão e a equidade educativa. A competência digital vai além de manusear dispositivos eletrônicos.

Já estamos na era das tecnologias digitais. E nós, professores, os que fizemos para nos preparar? Muitos especialistas no tema já nos disseram que o futuro havia chegado. Mas muitos de nós não enxergamos que as mudanças estavam acontecendo em um ritmo muito rápido. Pensamos que a próxima geração de professores teria problemas, se não estivesse preparada para a educação digital. Adivinha? O problema é da nossa geração.

Aqui, vamos propor um caminho para que você, professor, possa concretizar algumas ideias para a formação dos seus alunos e obtenha competências digitais.

Hoje, mais que nunca, o planejamento das aulas está em evidência. Não se pode perder o foco do que se registrou nos planos de ensino, pois ele é e sempre foi sua bússola para seus planos de aula. Não! Essas ferramentas não são obsoletas. Nelas é que temos claros os objetivos da nossa aula, os resultados a que queremos chegar, o perfil do profissional que queremos formar e, a partir daí, poderemos fazer as melhores escolhas tecnológicas que nos servirão de suporte e nos auxiliarão na aula.

Um médico precisa saber manejar o bisturi se pretende realizar uma cirurgia com precisão. O plano de ensino é o bisturi do professor e o plano de aula, o prontuário do paciente.

Então, nossa dica é: planeje a aula com base no seu plano de ensino.

Planejar significa criar um plano para otimizar o alcance de um determinado objetivo.

Plano de ensino é a programação das atividades pedagógicas a serem desenvolvidas ao longo do semestre e considera os objetivos do curso, da disciplina e o perfil do egresso, as metodologias, as estratégias, os critérios, os tipos e os níveis de avaliação.

Plano de aula específica o trabalho a ser realizado na aula, aprimora a prática pedagógica do professor, melhora o aprendizado do aluno e acompanha os objetivos definidos no plano de ensino.

Professor, as aulas precisam ter movimento. A dinâmica da aula está definida nos planos de ensino. Ao definir os objetivos da aula, podemos escolher as tecnologias que serão utilizadas.

Devemos lembrar que a realização de cada etapa na gestão do tempo da aula precisa ser definida pelo professor, levando em contas fatores como tipo de conteúdo, atividades necessárias para alcançar os objetivos da aula, volume de alunos e tempo de início e término da aula.

Vamos entender melhor alguns conceitos:

É interessante diversificar as atividades que os alunos irão executar sem perder a clareza do objetivo da aula. Vamos ver algumas dicas:

– Assumir a pré-aula como parte de sua estratégia ativa de ensino e enviar conteúdos para que os alunos possam ter acesso antes do início da aula (assim como ocorre com o modelo de aula presencial), pois, dessa forma, se pode alcançar melhor o rendimento dos assuntos abordados;

– Realizar no início da aula remota um momento de acolhida com os alunos, em que se valoriza sua participação nas atividades prévias e promover um debate ou discussão sobre os conteúdos abordados;

– Introduzir o assunto da aula que complementa as atividades prévias e “confrontar” conhecimentos prévios com conhecimentos novos;

– Propor uma atividade (pode ser fórum, uma provocação para ser respondida pelo chat, um quiz, uma discussão em pares, uma discussão em equipe). O importante é variar (não é bom sobrecarregar os alunos);

– Após a aplicação da atividade, o professor realiza um feedback do que foi apresentado pelos alunos, por meio de estratégias de avaliação contínua e faz suas considerações sobre a aula.

Como tornar a aula dinâmica

É possível realizarmos uma aula remota dinâmica? E nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem?

A resposta para essas perguntas é SIM, mas depende muito do perfil do professor e da metodologia que atenda às suas necessidades. Existem aplicativos que permitem que o professor possa interagir com os alunos e realizar aulas dinâmicas e cheias de movimento. Quais são as alternativas?

  • PADLET: um mural em que os alunos e professores podem compartilhar arquivos, vídeos, ideias, fazer propostas e provocações.
  • USO DE QUIZES: o Google Forms, o Socrative, o Kahoot, o E-Cliker, entre outros, promovem um quiz síncrono ou assíncrono com os alunos.
  • Google Drive – para uma produção coletiva de texto, como parte de uma pesquisa ou elaboração de um artigo ou relatório ou planilhas e gráficos.
  • Aplicativos de realidade virtual e 3D – Visible Body, para anatomia humana, por exemplo (www.visiblebody.com/teaching-anatomy/institutional-licenses)
  • Learning analytic é a medição, coleta, análise e relatório de dados sobre alunos e seus contextos com o objetivo de entender e otimizar a aprendizagem e os ambientes em que ela ocorre.
  • G-Suite – pacote de serviços e aplicativos Google disponíveis para qualquer professor ou aluno com uma conta Gmail.
  • Teams – espaço de trabalho baseado em um chat para troca de trabalhos, conteúdos que integram as pessoas e melhoram seu engajamento.
  • Edmodo –  Plataforma Social privada e gratuita voltada para Educação, muito parecida com o Facebook, mas desenvolvida para fins educativos. Trata-se de uma rede social de aprendizagem direcionada para professores, alunos.
  • Mentimenter – aplicativo para apresentações em tempo real, cria nuvens de palavras e outras aplicações que permitem Feedback imediato.
  • Lean Innovation Tools – aplicativo gratuito que combina conteúdo, templates e ferramentas para auxiliar em todo o processo de inovação. São cinco fases (5D): definir, descobrir, direcionar, design e desenvolver. Ideal para cursos de gestão, por exemplo.
  • Anchor – aplicativo para gravação e edição de áudios. Ideal para criar seu podcast. Trata-se de uma ferramenta oferecida pelo Spotfy.
  • Arc Studio Pro – (www.arcstudiopro.com) – Ideal para produção e edição de vídeos.

LMS

Hoje, os LMS (Moodle, Canvas, Blackboard, Google For Education, Approva, Programa Digital Inspira, entre outros) possuem ferramentas internas que geram relatórios, gráficos e estatísticas de cada aluno e auxiliam o professor e os próprios gestores a acompanharem a participação e o desenvolvimento dos alunos, pois não podemos nos esquecer dos números: meta sem números não nos permite compreender se estamos, ou não, avançando com o aprendizado dos alunos.

E como avaliar a qualidade do aprendizado de nossos alunos?

As ferramentas virtuais promovem o engajamento do estudante nas aulas remotas e mensura sua participação, sua presença e seus acessos. Avalia-se com qualidade com base na análise do nível de participação, dos intercâmbios comunicativos ocorridos durante uma atividade.

Envolve os requisitos: identificação do aluno no online, rastreamento das interações com o material didático e identificação do padrão de comportamento cognitivo do aluno, a partir da observação de suas interações no ambiente virtual.

Sugerimos as seguintes formas de avaliação remota:

  • Kahoot – plataforma de aprendizado baseada em jogos. Ponto forte: testes objetivos. Navegador web ou aplicativo. Gera relatório.
  • Socrative – plataforma de aprendizado. Pode ser usada para testes (possibilidade de embaralhar as respostas), questões dissertativas, cálculos matemáticos. As atividades podem ser individuais ou em equipes. Gera relatório.
  • Mentimenter – apresentações com feedback em tempo real (Nuvem de palavras, questionários, gráficos, participação anônima dos alunos, escalas, rankings).
  • do – O aplicativo permite aos convidados interagir durante o evento através de perguntas que vão sendo ranqueadas de acordo com a aceitação do público, através do aplicativo, e visualizadas em tempo real.
  • Flipgrid – semelhante ao processo popular de criar um vídeo de reação do YouTube para um determinado assunto ou notícia.
  • Chat (bate-papo) – espaço de encontros virtuais em grupo para discutir tarefas, construir texto, rediscutir projetos, realizar trabalhos ou promover intercâmbios de ideias sobre algum tema.
  • Google forms – formulários personalizados para pesquisas e questionários. Vamos aproveitar os Cats (Classroom Assessment Techniques) no Forms? Vejamos algumas sugestões.
  1. Papel minuto – no final da aula, o aluno escreve sobre o que foi mais significativo na aula, ou sobre o que ele menos entendeu na aula.
  2. Paráfrase dirigida – solicitar aos alunos “uma tradução” do que acabaram de aprender ou sobre o material enviado nos estudos prévios.
  3. Resumo em uma frase: Estudantes resumem a ideia de um tópico através da construção de uma única frase que responde às perguntas “quem faz o quê a quem, quando, onde, como e por quê?”. O objetivo é exigir que os estudantes selecionem apenas as características definidoras de uma ideia.
  4. Placas de aplicações – Depois de ensinar sobre uma teoria, princípio ou procedimento, pedir aos alunos para escreverem pelo menos uma aplicação no mundo real para o que aprendeu.

As atividades assíncronas requerem avaliações mais críticas, mais reflexivas, argumentativas, pessoais, para que o aluno exponha o que ele é, sobre o que ele conhece. Neste momento, não despreze as competências que você deseja desenvolver nos alunos com suas aulas e, principalmente, a taxionomia de Bloom.

  • Mapas Cognitivos (Okada, Santos e Okada, 2005) – utilizados para construir pesquisa de informação, construir conhecimentos e facilitar a aprendizagem.
  • Memorial – instrumento de caráter pessoal que permite refletir e registrar o ocorrido, impulsionando o aluno a investigar a própria ação por meio do registro e análise sistemáticas de suas ações e reações.
  • Blogs (Diários de bordo, diários reflexivos, diários de campo) – instrumentos utilizados para registrar as observações efetuadas, as situações que se destacaram.
  • Fóruns de Discussão – favorece a reflexão e a elaboração das participações, possibilitando maior qualidade e aprofundamento.
  • Avaliações dissertativas/descritivas estilo ENADE: Questões que avaliem a capacidade de síntese ou análise, de relação e inter-relação, de comparação e organização, de crítica e justificativa.

Sim, nós fomos avisados, professores. Assim como os dirigentes de IES também foram avisados. Sabíamos que era preciso ousadia, mudança de atitudes, inovação, mas, de modo geral, deixamos o tempo passar. Corremos o risco de sermos atropelados pelo “novo normal” e ficamos sem rumo e sem estudantes em nossas salas de aula.

Gestores, invistam no professor e façam, rapidamente, as mudanças institucionais que são necessárias. Professor, desenvolva competências digitais.

Jamais nos esqueçamos das nossas competências docentes que são atemporais: administrar a própria formação; enfrentar os deveres e os problemas éticos da profissão; saber administrar as aprendizagens; envolver os alunos na aprendizagem e organizar situações de aprendizagem.

É preciso um acordo tácito entre dirigentes de IES e professores, pois esses são protagonistas do processo de transformação institucional. Dirigentes e professores mais do que nunca precisam dialogar. Vamos fazer valer a pedagogia da participação e da colaboração!

* Ana Valéria S. A. Reis: Diretora Geral da Unidade de Ensino Serra Dourada, Lorena, SP. Consultora Geral em Inovação, Aprendizagem Ativa, Metodologias Ativas e Avaliação no Ensino Superior

** Diego Amaro: Coordenador do Curso de História do UNISAL – Lorena, Consultor em Tecnologias Educacionais.

*** Fábio Reis: Diretor de Inovação e Redes do Semesp, Presidente do Consórcio Sthem Brasil e professor do Unisal.