Fonte: Revista Ensino Superior

Para lidar com os muitos desafios enfrentados no comando de instituições de ensino superior, os gestores educacionais estão encontrando ajuda em quem, até há pouco tempo, era visto como uma ameaça: IES que compartilham das mesmas necessidades. O trabalho em conjunto está sendo viabilizado pelas Redes de Cooperação, um projeto iniciado pelo Semesp no ano passado e que começa a gerar seus primeiros frutos. “As Redes possibilitam processos de cooperação e sinergia entre as IES e representam uma quebra de paradigma”, explica Fábio Reis, diretor de Inovação Acadêmica e Redes de Cooperação do Semesp.

A quebra de paradigma se refere ao fato de que os integrantes superam a postura de concorrência, deixam de enxergar a outra instituição como um rival e passam a interagir e a dialogar de forma sistematizada. As oportunidades que surgem desse diálogo são inúmeras e entre elas está a redução de custos, algo de vital importância, especialmente no atual cenário de crise econômica e Fies reduzido. “Nesse contexto, é preciso reduzir os custos operacionais da IES e aumentar o investimento em processos de melhoria da qualidade”, pontua Reis.

A articulação das primeiras redes envolveu um processo de diálogo intenso com os dirigentes das instituições de ensino. O que se buscou foi romper o isolamento deles e deixar clara a necessidade dessa troca de informações estratégicas, o que foi feito por meio de uma série de encontros. Na Rede da Região de Campinas, que conta com a Universidade São Francisco (USF), Centro Universitário Octávio Bastos (Unifeob) e a Fundação Hermínio Ometto (FHO/Uniararas), por exemplo, foram necessárias quatro reuniões até a assinatura do termo de cooperação, ocorrida em janeiro de 2017.

Essa rede já gerou troca de informações sobre temas como educação a distância, financiamento estudantil, plano de carreira e estratégias para melhorar a nota do Enade. Há, inclusive, a perspectiva de as IES participantes produzirem e oferecerem cursos em conjunto. “Diante das constantes mudanças no mundo de hoje, fica cada vez mais difícil agregar todas as competências exigidas para a nossa atuação. Uma organização moderna procura o estabelecimento de parcerias com fornecedores, clientes e outras organizações, inclusive competidores, para que o resultado de suas ações possa ser aprimorado”, explica José Antonio Mendes, reitor do Centro Universitário Hermínio Ometto – FHO/Uniararas.

economia colaborativa

E não é apenas para os gestores e instituições de ensino superior que as redes de colaboração trazem resultados. “Os alunos também são beneficiados. Na medida que ganhamos qualidade nos serviços prestados, eficiência administrativa, gerando boa aplicação de recursos, ou mesmo mobilidade estudantil entre as instituições, os estudantes são os primeiros a serem positivamente impactados”, lembra João Otávio Bastos Junqueira, reitor da Unifeob.

Modelo alternativo

As novas redes surgiram de uma percepção do Semesp de que era necessário propor alternativas para seus associados qualificarem o projeto acadêmico institucional e reduzirem os custos. “O sindicato entende que a cooperação é um tema pertinente no século 21, período em que a integração e a circulação das informações são cada vez mais intensas”, diz Reis, que aponta como principal fonte de inspiração para a iniciativa o Consórcio STHEM Brasil, grupo que iniciou suas atividades em 2013 e que saltou de 10 instituições em sua primeira capacitação para 46 em 2016.

O nome STHEM é derivado das disciplinas Ciências, Tecnologia, Humanidades, Engenharia e Matemática (sigla em inglês) e ressalta a preocupação das instituições de ensino superior com os estudantes nessas áreas. O projeto conta com instituições de todas as regiões do país, entre elas Unisal, ESPM, Unesp, Universidade Positivo, Instituto Mauá de Tecnologia e FAAP, que buscam a melhoria da educação. O Consórcio, que tem como foco a qualificação de professores, conta com a parceria de Laspau (instituto filiado à Universidade Harvard) e com a presença de professores de instituições internacionais para a capacitação no uso de metodologias ativas de aprendizagem. Em seus primeiros anos de atuação, já foram capacitados 1,5 mil professores.

“A partir do momento em que você trabalha com o consórcio, consegue baratear os custos de formação de seus docentes em sua IES”, afirma Fátima Medeiros, que é membro do comitê gestor do Consórcio STHEM Brasil e representante do Unisal. Ela explica que a parceria entre as universidades permitiu trazer profissionais de fora do país de renomadas IES para trabalhar com a metodologia, o que seria inviável financeiramente para uma única instituição. Os custos foram divididos, o que permitiu a capacitação dos professores por um valor mais baixo. “Uma formação no exterior custaria 70% a mais que uma capacitação no Brasil”, calcula Fátima.

Para ampliar os conhecimentos nessa área, dirigentes do Semesp visitaram em julho de 2016 dois consórcios da região de Massachusetts, em Boston, nos Estados Unidos (Five College e Fenway College), que também serviram de modelo para a iniciativa brasileira, além associar o sindicato à Association for Collaborative Leadership (ACL). Criada em 1968, essa associação reúne mais de 50 consórcios na área do ensino espalhadas por países como Estados Unidos, Canadá, China e França, fornecendo ferramentas e treinamento para profissionais que gerenciam programas de cooperação na área da educação.

“Temos uma forte rede de associados que compartilha suas experiências e dados sobre programas que deram certo. Nosso conhecimento pode ser muito útil às redes do Semesp ”, destacou Claire Ramsbottom, presidente da Association for Collaborative Leadership. Segundo ela, embora os princípios de busca de aprendizado, redução de custos e colaboração estejam presentes em todas as redes, nenhum consórcio de instituições de ensino é igual ao outro, o que demanda foco em necessidades específicas e gera um aprendizado constante.

Como viabilizar

Criada em outubro de 2016, a Rede Regional de Cooperação de São José do Rio Preto é outra iniciativa do Semesp que começa a dar frutos. O grupo, que reúne as Faculdades Integradas Padre Albino (FIPA), Fundação Educacional de Barretos (Unifeb), Fundação Educacional de Votuporanga (Unifev) e o Unisalesiano de Araçatuba já se prepara para sua terceira reunião, tendo na pauta temas como parcerias nacionais e internacionais, plano de carreira, modelo de contrato e demanda pela internacionalização, entre outros. “Todas as instituições de ensino superior devem dar atenção às redes de colaboração”, acredita Antonio Carlos de Araújo, gestor educacional administrativo da FIPA. Segundo ele, os encontros com as outras instituições são muito produtivos e devem gerar novos resultados já ao longo deste ano.

Mas o que é preciso levar em conta na hora de criar uma rede de cooperação? Segundo o Semesp, estudos internacionais demonstram que há diversas formas de unir as instituições de ensino superior. “Nossa primeira opção foi integrar IES com perfil semelhante – IES confessionais e fundações – depois olhamos para a questão regional. É preciso integrar instituições com perfil e expectativas semelhantes. Afinal, a Rede tem de trazer benefícios para todos”, explica Reis. Segundo ele, também será utilizado o perfil das faculdades. “Há uma série de faculdades com mil ou 1,5 mil estudantes que estão passando por um momento de crise. O compartilhamento de serviços para essas instituições vai ser muito importante”, completa.

A adoção de redes de cooperação deve ter forte crescimento em 2017. Prova disso é que o Semesp pretende saltar dos dois grupos atuais para dez consórcios até o final do ano, além de promover uma reunião anual de todas as redes, em setembro. “Nossa preocupação no ano será consolidar as redes com projetos que realmente tragam impacto e benefício para as instituições. Vamos, inclusive, começar a integrar IES de outros estados”, conclui Reis.