Estudos analisam o impacto social e profissional do programa federal de bolsas na vida dos estudantes e destacam o papel das instituições de ensino nesse processo

por Patrícia Pereira

191_30Tendo distribuído mais de 1,6 milhão de bolsas integrais e parciais para estudantes de graduação em faculdades particulares desde 2005, ano em que foi criado, o Programa Universidade para Todos (ProUni) é considerado importante fator para a mobilidade social. Os benefícios sociais proporcionados pelo programa são atestados em dois estudos de doutorado que investigaram o impacto do programa na vida social e profissional dos alunos bolsistas. As teses também apontam como as instituições de ensino podem contribuir para que os estudantes oriundos do ProUni consigam ter um bom desempenho e para que a formação dada venha a promover, de fato, maior inclusão social.

Defendida em 2012 por Fabiana de Souza Costa, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a tese “O ProUni e seus egressos: uma articulação entre educação, trabalho e juventude” aponta que os bolsistas do programa têm elevação da renda, com melhores condições de inserção no mercado de trabalho, permitindo a mobilidade social. De acordo com os dados levantados, após a conclusão da graduação, 73,4% dos alunos formados elevaram sua renda, sendo que 27,9% desses o fizeram em mais de 100%. Ela também descobriu que do total de egressos participantes da pesquisa 85% estavam empregados – 64,4% deles com carteira de trabalho assinada. Outro dado investigado foi a correlação entre a gradua­ção cursada e a área em que os egressos trabalhavam: 72,6% estavam trabalhando na sua área de formação acadêmica.

A pesquisa concluiu ainda que a oportunidade de cursar uma graduação contribuiu para que 78,2% dos egressos pudessem ter um emprego com mais qualidade. Ou seja, um emprego que respeite os direitos trabalhistas, tenha estabilidade, evolução na carreira e gere satisfação profissional.

Uma nova perspectiva
De acordo com a tese de Fabiana, para os egressos do ProUni, cursar uma graduação representou novas perspectivas de ampliar o conhecimento, as relações sociais, as possibilidades de formação profissional, o acesso ao mercado de trabalho e a mobilidade social. Ela aponta que os egressos do ProUni, em sua maioria, são os primeiros universitários da família – entre os pais de alunos formados pelo programa, apenas 2% apresentavam ensino superior completo e, entre as mães, 8,2% haviam concluído uma graduação.

E a evolução educacional do bolsista não tende a se encerrar nesse nível de ensino. A ampliação do conhecimento e a continuidade dos estudos foram apontadas como importantes e necessárias para 99% dos egressos.

Outro benefício descoberto na pesquisa é a melhora da autoestima dos participantes. O que vai ao encontro dos mesmos resultados da tese defendida pela professora Vera Lucia Felicetti no programa de pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e intitulada “Comprometimento do estudante: um elo entre aprendizagem e inclusão social na qualidade da educação superior”. O estudo mostra como um dos resultados do ProUni a promoção da mobilidade social e a diminuição da distância entre as classes sociais. “As classes sociais menos privilegiadas estão tendo a possibilidade de ascensão na pirâmide social, melhorando o perfil educacional e socioeconômico da população brasileira”, afirma Vera Lucia na tese.

De acordo com um levantamento realizado pela pesquisadora, mais de 70% dos egressos dizem-se satisfeitos com o trabalho atual..

Outro resultado positivo relacionado ao programa encontrado no estudo de Vera Lucia foi a influência que os bolsistas passaram a exercer tanto na família quanto em seu meio social para que outras pessoas prosseguissem nos estudos. “Os depoimentos dos egressos apontam sua formação como incentivo aos familiares, aos amigos, à vizinhança, à maior dedicação aos estudos pelos alunos do ensino médio”, afirma.

O papel da instituição
As instituições de ensino também são vistas como responsáveis em parte pelo sucesso futuro do aluno egresso. Vera Lucia lembra que os alunos que recebem bolsas do ProUni enfrentam dificuldades materiais, tais como falta de dinheiro para o transporte, o xerox, a compra de livros, a alimentação, dentre outras. Advindos desta dificuldade, podem ainda surgir problemas socioafetivos. “Afloram constrangimentos mediados por preconceitos e sentimentos de inferioridade que muitas vezes intervêm negativamente na aprendizagem dos alunos oriundos de classes menos privilegiadas”, afirma a professora na tese. Para enfrentar esses problemas, a universidade teria de encontrar novos tipos de atividades que não deixassem em desvantagem de condições os alunos do ProUni. Eles precisam administrar, além do dinheiro, o tempo entre trabalho e universidade.

Outro problema que envolve a condição financeira dos alunos do ProUni é o custeio do transporte. “A este respeito percebe-se a necessidade de moradia ou alojamento para estudantes na universidade de modo a solucionar o problema, não somente daqueles alunos que vêm de bairros distantes ou do interior, mas principalmente dos oriundos de outras cidades ou estados”, ressalta Vera Lucia.

Em relação à atuação pedagógica, a professora sugere que a instituição diversifique seus modelos de ensino. “Os indicadores de estilos de aprendizagem, inseridos implicitamente nos de comprometimento, evidenciam uma correlação entre eles, significando que diferentes estilos colaboram para a complementaridade da aprendizagem”, explica.

Só no último processo de seleção, para o segundo semestre de 2014, foram ofertadas mais de 115 mil bolsas em 22.139 cursos de 943 instituições. Além dos benefícios sociais aos estudantes, o programa de bolsas do governo federal também é considerado como importante instrumento para ampliação do acesso ao ensino superior.

Mudanças relevantes
De acordo com os dados levantados pela pesquisadora Fabiana de Souza Costa, após cursar a graduação com o ProUni:78,2% dos bolsistas conseguiram um emprego melhor e

73,4% dos formados pelo programa tiveram a renda elevada, sendo que

27,9% deles elevaram a renda em mais de 100%.