A principal característica do educador moderno é estar atento às novidades tecnológicas e compartilhar as ferramentas e linguagens dos alunos

182_23É impossível compreender o mundo atual sem levar em consideração a tecnologia. Ela está presente em praticamente todas as atividades e alterou a forma como as pessoas se inter-relacionam. Profissionais das mais diversas áreas tiveram de se adaptar a este novo cenário: escritores aposentaram as máquinas de escrever e deram lugar aos computadores; fotógrafos trocaram os filmes de película pelos cartões de memória; repórteres passaram a tomar notas nos tablets em vez de usar os tradicionais blocos de papel etc.

Só no ambiente educacional, e mais especificamente dentro das salas de aula, é que os velhos hábitos insistem em permanecer e os principais recursos utilizados ainda são os mesmos dos primórdios da universidade: o giz, a lousa e a carteira. “Se hoje Galileu estivesse vivo e entrasse numa sala de aula brasileira ele não estranharia quase nada”, brinca o professor Nilbo Nogueira, doutor em Educação pela PUC-SP. Ainda que a ironia envolvendo um dos mais famosos cientistas do período da Renascença não se aplique sem exceção a todas as instituições de ensino superior, o uso de modernas ferramentas tecnológicas como forma didática está longe de ser uma realidade para a maioria dos professores dentro das salas de aula.

A transformação de educadores em professores multimídias ou hi-techs exige muito esforço e algumas quebras de paradigmas. A primeira delas, e a mais fundamental, é que a maioria dos profissionais de educação que está a frente das classes de hoje em dia não teve em sua formação algum tipo de instrução sobre o uso das ferramentas tecnológicas. E muitas vezes, inclusive, até desconhece a própria existência dessas aplicações. O segundo paradigma se remete a uma questão histórica de status e hierarquia. Pela primeira vez, o professor tem de sair da sua zona de conforto e aceitar que seus alunos sabem muito mais do que ele sobre determinado tema, no caso, as novas ferramentas tecnológicas.

“Por uma questão de postura profissional, nós professores somos detentores do conhecimento ad aeternum. Mas hoje, muitas vezes meus alunos sabem mais do que eu. Vou ter de me mostrar frágil perante eles e dizer que eu não sei”, exemplifica Nogueira. E desta situação não há escapatória, o que faz com que muitos educadores se fechem ainda mais para a inclusão da tecnologia em suas aulas e permaneçam com o formato tradicional que condiz pouco com a realidade dos alunos.

Capacitação específica
Levando em consideração estes argumentos, Nogueira aponta dois caminhos a serem percorridos. O primeiro, que em certa medida já vem sendo adotado por algumas instituições ou por iniciativa dos próprios professores, segue uma linha imediatista e foca o aperfeiçoamento. O objetivo é a capacitação do professor por meio de congressos, palestras e minicursos. Mas a solução mais efetiva, segundo Nogueira, é a mudança no processo de formação do professor ainda na academia. “Hoje a gente remenda o problema. Só que continuamos fazendo isso por muito tempo. Precisamos dar um basta e formar um profissional já preparado”, afirma.

Foi com esse intuito que o Grupo Cetec Educacional iniciou uma experiência pioneira de inserir ferramentas tecnológicas dentro da grade curricular do curso de pedagogia. Nogueira, que é gerente de tecnologia educacional da instituição, foi um dos responsáveis pela criação do novo currículo do curso, que no primeiro semestre de 2014 abre sua primeira turma na Faculdade Bilac. De acordo com o professor, foram precisos seis meses para elaborar e encaixar 13 novas disciplinas voltadas ao uso de ferramentas digitais que serão ministradas em um laboratório multimídia com tablets, notebooks, além de dois estúdios de filmagem. “O curso tem uma proposta bastante ousada, mas trabalha com coisas simples”, adianta.

Para Nogueira, é justamente nesse ponto que reside a principal característica do professor do futuro. A ideia de um “Robocop da educação” munido de ferramentas ultramodernas continuará na ficção ou restrito a poucas instituições. Ele defende que a principal característica dos docentes do futuro é o que chama de “professor antenado”. Ou seja, um profissional disposto, em primeiro lugar, a conhecer as diversas tecnologias, e posteriormente, a dominá-las. Isso facilitaria o processo da aprendizagem, e faria com que alunos e professores falassem a mesma linguagem.

“Defendo o uso das tecnologias mais bá­sicas, aquelas que todo mundo já acessa em casa, e na linha do que é gratuito. Não adianta ficar falando em uma possibilidade de três dimensões se o professor nem sabe o que é podcast”, adiciona Nogueira. Nessa lista de ferramentas simples e “caseiras”, ele destaca o Facebook como uma importante plataforma de interação com os alunos, por exemplo, ou o editor de vídeos Movie Maker, programa fácil de usar e que já vem instalado no sistema operacional Windows.

Com a mão na massa
Em um segundo momento, já com domínio da tecnologia, o professor moderno teria outra característica fundamental: deixar de ser apenas um replicador de conteúdo e assumir uma função mais autoral. Um exemplo disso foi o que ocorreu na Faculdade Bilac, onde uma equipe de designers foi contratada para converter o conteúdo tradicional dos livros para as plataformas multimídias. Coube então aos professores da instituição montar e estruturar o material didático ainda no papel, para em seguida aprovar o resultado da digitalização. Isso significa maior integração e um toque de personalização do conteúdo.

O mesmo conceito se aplica aos estudantes. “Sou partidário de que os alunos deixem de ser somente extratores de informação da web e se tornem autores dos seus próprios conteúdos”, afirma. Para isso, os professores precisam adaptar sua metodologia de ensino e o formato de avaliação levando em consideração a tecnologia escolhida. Em alguns casos os alunos podem trabalhar postando conteúdo em blogs e em outras plataformas elaborando apresentações em vídeos. (José Eduardo Coutelle)

Leia também:

Eficiência programada

Revolução em prática