ENSAIO | Edição 201

Tanto as instituições de ensino como o corpo docente precisam se adaptar ao perfil dos alunos do século 21

por Wilson Carlos da Silva Júnior

O grande avanço tecnológico e a prosperidade econômica, marcados pelo surgimento das chamadas gerações Y e Z nas últimas décadas, nos levam a repensar os métodos que utilizamos para ensinar àqueles que nasceram na era da informação. No ambiente globalizado, a capacidade de transferir o que você aprende na sua vida pessoal para a vida profissional agora é questão de sobrevivência. Mas é cada vez maior o abismo entre o que o mercado procura e o tipo de profissional disponível.

Duas pesquisas apontam para a necessidade de mudança. Um estudo com um grupo de 7 mil universitários brasileiros, feito por uma rede global de universidades particulares, mostra que dois terços não estão satisfeitos com o investimento de tempo e dinheiro nos estudos. A situação pode estar relacionada com o resultado de outro levantamento, este feito pela consultoria brasileira Box1824 com 1.784 jovens universitários de 18 a 24 anos de 23 estados brasileiros. O estudo revelou que eles estão cada vez mais autodidatas e autônomos, que procuram maior interação entre escola, trabalho e vida pessoal e que mais de 50% quer ter seu próprio negócio.

Neste cenário, identificamos o descompasso do ensino superior brasileiro: de um lado, o crescente número de matrículas e, de outro, a dificuldade para motivar e estimular o aprendizado do estudante e combater a evasão. A solução pode estar no diagnóstico do quadro de docentes, no acompanhamento dos egressos no mercado de trabalho, e na quebra de posturas tradicionais das instituições de ensino para a formação de profissionais integrados à contemporaneidade.

O processo de ensino-aprendizagem deve ultrapassar os muros da sala de aula e dar vazão aos aspectos sociais. Esse tipo de mudança exige um esforço da instituição de ensino, que precisa oferecer maior flexibilidade na sua estrutura curricular, e do corpo docente, que precisa estar preparado para acompanhar as transformações na sociedade e propor adequações curriculares necessárias sem que isto implique qualquer ação facilitadora de aprovação. Para fazer com que o aluno perceba cada vez mais a necessidade de aprender, o professor precisa instigá-lo de modo desafiador e levar novidades do mercado de trabalho para a sala de aula. Também é importante que ele esteja na vanguarda da tecnologia educacional.

O contato do aluno com o mercado de trabalho é e sempre será fundamental desde o início da graduação, por isso é importante estimular o aprendizado também por meio de atividades extracurriculares e de cursos de atualização paralelos à graduação. E aquela extensa lista de exercícios, testes e atividades repetitivas ainda pode garantir boas notas, mas não é capaz de desenvolver todas as competências exigidas pelo mercado.

Outro fator importante são as autoavaliações realizadas pelas instituições de ensino por meio dos órgãos oficiais determinados pelo Ministério da Educação, que devem agir com autonomia e composição adequada prevista em lei. Mas apenas o olhar para dentro da instituição não é suficiente;, cada vez mais é importante avaliar os processos com uma visão de 360 graus. Além dos diagnósticos e informações de mercado, geralmente encaminhados pelas áreas de comunicação e marketing, é interessante buscar dados com os egressos, acompanhando-os em suas carreiras profissionais e tendo como entradas as informações sobre suas experiências e desafios no dia a dia da profissão. Com isso, é possível aprimorar os processos internos e propor adequações das competências transmitidas ao corpo discente.

O novo formato de educação deve ser compreendido como um processo de formação integral, que inclui o desenvolvimento de competências socioemocionais. O objetivo, além de oferecer conhecimento técnico, deve ser o de transformar o encontro com o professor em sala de aula em uma oportunidade de conexão com o mundo onde vivemos, discutindo habilidades que possam nos ajudar a controlar emoções, alcançar objetivos e tomar decisões de maneira responsável em âmbito pessoal, profissional e comunitário.

Divulgação

Wilson Carlos da Silva Júnior é diretor acadêmico da Faculdade de Tecnologia Termomecanica

Essa ponte entre o mundo acadêmico e a vida social pode ser construída, por exemplo, por meio de grupos de formação cidadã, nos quais professores e estudantes, dentro da sua área de estudos, possam discutir soluções para os problemas da comunidade local e promover o trabalho voluntário. Dessa maneira, é possível transportar para a sala de aula os desafios da vida profissional, aumentando o índice de empregabilidade e formando profissionais comprometidos com a transformação social da comunidade em que estão inseridos.

As parcerias entre universidade e empresa também estão ganhando cada vez mais espaço, como acontece no modelo alemão de ensino superior. Os benefícios são diversos: desde a otimização em pesquisas realizadas em conjunto, passando pelo aumento do número de inovações e culminando na entrega de um profissional pronto para os desafios do mundo empresarial, trazendo a oxigenação necessária também para as organizações.

Com ações como essas, as instituições de ensino se aproximam de obter a excelência em seus processos e de atender de forma eficaz o perfil do novo aluno do ensino superior, transformando-o em um agente transformador na sociedade.