Semesp e Instituto Ayrton Senna incentivam ações de IES para melhoria da formação de estudantes que ainda não chegaram à graduação

por Mariana Queen Nwabasili

Na tentativa de melhorar a formação dos jovens que chegam aos cursos superiores, as instituições de ensino podem ir além da oferta de aulas de reforço e nivelamento. Experiências bem-sucedidas mostram que é possível estabelecer parcerias com escolas de ensino médio e atacar o problema de frente. Foi o que mostrou Mozart Ramos Neves, diretor de Articulação e Inovação do  Instituto Ayrton Senna (IAS), a uma plateia formada por gestores de IES. O encontro realizado em São Paulo serviu para comunicar o termo de compromisso firmado com o Semesp a fim de melhorar a qualidade do ensino médio brasileiro, e convocar as IES a participar da iniciativa.

Para Rodrigo Capelato, diretor executivo do sindicato, a necessidade do compromisso é perceptível quando se observa a aprendizagem como um processo contínuo, em que as etapas seguintes dependem das anteriores, e também a partir do atual ambiente de crise econômica, “que propicia às IES buscarem outros caminhos para a captação de alunos”. “Melhorando o aluno do ensino básico, uma IES está melhorando o estudante que irá receber; e melhorando a educação básica, amplia-se muito o número de alunos que vão sair dessa etapa bem formados para o ensino
superior”, enfatizou o diretor.

As possibilidades de cooperação entre as duas etapas são inúmeras. Para ilustrar, Ramos, que foi secretário de Educação de Pernambuco entre os anos de 2003 e 2006, falou do caso da Universidade de Pernambuco (UPE), que passou a abrigar uma escola de ensino médio integral. “Fiquei sabendo que o campus de Garanhuns, voltado à formação docente, só tinha aulas à noite. Propus que a secretaria pagasse todo o custo de manutenção para que o espaço funcionasse durante o dia como uma escola de tempo integral de ensino médio que serviria, inclusive, para ser um ponto de estágio dos alunos das licenciaturas e de formação continuada de professores locais”, relembrou. Ele acredita que o exemplo pode ser seguido em IES privadas de São Paulo e de outros estados. “Sabemos que boa parte dos cursos de ensino superior privados funciona mais à noite, e há um espaço durante o dia que poderia ser naturalmente trabalhado. É questão de ver como fazer essa articulação, sabendo que experiências já existem”, completou.

 

Mudanças no ensino médio

 

Para os especialistas, a preocupação com o aproveitamento dos estudos e com a retenção de alunos ainda no ensino médio é algo que deve estar no radar das IES que querem se comprometer com a educação básica e se manter no mercado. “Sabemos que só no ensino médio 50% dos alunos evadem. Então imagina a quantidade de potenciais estudantes que perdemos por conta de um ensino médio falho, que não ensina tão bem quando deveria e que, consequentemente, não retém o aluno”, reforçou Capelato. “Milagre natural não vai acontecer. Precisamos de pessoas que abracem a causa. Afinal, o seu próprio negócio [enquanto gestor de IES] estará em jogo se não houver jovens bem formados”, acrescentou o diretor do IAS.

Um bom caminho para mudar esse cenário é fazer com que os jovens gostem dos estudos e queiram, inclusive, se tornar professores de educação básica para formar com qualidade as gerações futuras. “A escola atual não atrai mais o jovem, que quer uma escola que caiba na vida. Se ele não encontra isso, ele não fica; só fica se o ensino proposto fizer sentido para ele”, afi rma Neves. Dentre as ações do IAS nesse sentido, está uma parceria firmada em 2012 com a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, com apoio da empresa P&G, para implantar a educação em tempo integral no Colégio Estadual Chico Anísio e em mais 53 instituições de ensino.

“Os quatro pilares da educação integral estabelecidos pela Unesco são aprender a crescer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Mas como colocar esses quatro pilares na prática? O IAS entende que isso só acontece quando há alinhamento de gestão e também com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, que são fundamentais para a integralidade dessa educação. Isso faz diferença não só no campo da aprendizagem, mas principalmente para o desenvolvimento futuro dos jovens”, afirmou Neves.

A partir do apoio a iniciativas como essa, o diretor do IAS vislumbra a criação de novos desenhos dos ciclos da educação básica e do ensino superior. “Imaginem escolas de tempo integral voltadas exclusivamente a alunos que querem ser professores, já oferecendo bolsas Pibic (lei a respeito no quadro acima) e já fazendo o aluno viver o ambiente da universidade. Nessas condições, teríamos um aluno de ensino médio e futuro aluno da licenciatura com abandono e evasão zero, porque esses jovens estariam engajados no ciclo de estudos e de ensino. Isso seria uma nova carreira docente para o Brasil.”

Exemplo próximo a esse são as ações da Faculdade Sesi de formação de professores, em São Paulo, que oferece bolsas a alunos de ensino médio das escolas do entorno. “A instituição usa recursos já existentes, como a bolsa Pibic, para poder aproximar e trazer os alunos para a faculdade”, relatou Neves.

Valdir Lanza, presidente da UniBr, vê com bons olhos iniciativas como essa. “Nos cursos de licenciatura temos mais alunos de escolas públicas. Eles vão fazer pedagogia, matemática, física, mas têm, muitas vezes, uma formação precária. Se tivermos escolaspúblicas que  reparem o aluno em tempo integral, o estudante sairá da educação básica melhor e chegará à faculdade podendo se formar um professor ainda melhor”, destacou o executivo

 

Bolsas Pibic, Pibiti e Pibid

 

O Ministério da Educação mantém alguns programas que aproximam instituições de ensino superior de escolas de ensino médio. O Programa institucional de Bolsas de iniciação Científi ca para o Ensino Médio (Pibic-EM) e o Programa institucional de Bolsas de iniciação em desenvolvimento Tecnológico e inovação (Pibiti) são dois exemplos. administrados pelo Conselho Nacional de
desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq), ambos são ações de iniciação científica júnior operacionalizados por universidades, institutos de pesquisa e institutos tecnológicos (Cefets e iFs).
Estes desenvolvem programas de educação científca que integram estudantes das escolas de nível médio, públicas do ensino regular, escolas militares, escolas técnicas, escolas privadas ou de aplicação. Cabe às instituições interessadas, a partir dos projetos de pesquisa propostos, pleitear uma cota de bolsas, com duração de doze meses cada, junto ao CNPq.

Segundo o órgão, dentre os objetivos das iniciativas estão: fortalecer o processo de disseminação de informações e conhecimentos científicos e tecnológicos básicos e desenvolver atitudes, habilidades e valores necessários à educação científica e tecnológica dos estudantes. Já o Programa de Bolsa institucional de iniciação à docência (Pibid) é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica administrada pela Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por iES em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino.

As iES interessadas em participar do Pibid devem apresentar à Capes seus projetos de iniciação à docência conforme os editais de seleção publicados. Podem se candidatar iES públicas e privadas com e sem fi ns lucrativos que oferecem cursos de licenciatura. as instituições recebem cotas de bolsas e recursos de custeio e capital para o desenvolvimento das atividades do projeto. os bolsistas do Pibid são escolhidos por meio de seleções promovidas pelas iES.