*Por Leandro Vedovato

A nova onda da revolução industrial será estimulada pela “Indústria 4.0”? Como será a atuação da engenharia diante deste novo desafio? Se voltarmos um pouco na história, podemos notar que a engenharia sempre foi estimuladora das revoluções. A necessidade de executar as atividades de forma diferente e melhor sempre foi o ponto de partida para mudanças. A Engenharia Mecânica foi uma das primeiras ciências a contribuir com o processo, dado os mecanismos de articulações e movimentações.

A primeira revolução industrial foi estimulada com a expansão da atividade agrícola, quando os equipamentos de preparação da terra e as locomoções eram realizados por bois e cavalos, criando a mobilidade da época. Diante da necessidade de acompanhar a expansão socioeconômica, a engenharia contribui para a criação da máquina a vapor, em meados do século XVIII. A máquina trouxe inúmeras possibilidades de aplicação, como nos teares, para a fabricação de tecidos e no bombeamento de água e transporte de carga nas minas de minério.

Essa maravilhosa criação proporcionou uma mudança no modo de vida de milhares de pessoas, pois itens podiam ser produzidos em uma velocidade nunca vista.  As carruagens viajavam a 12 quilômetros por hora. As locomotivas atingiam velocidade de 45 quilômetros por hora e podiam seguir centenas de quilômetros. Assim, a Revolução Industrial tornou o mundo mais veloz. Como essas máquinas substituíam a força dos cavalos, convencionou-se medir a potência desses motores em HP (do inglês horse power, “cavalo-vapor”).

A segunda grande revolução industrial aconteceu com forte colaboração dos estudos nas áreas da ciência elétrica. As pesquisas, que já eram realizadas desde o século XVI, tornaram-se fatos com a criação dos motores e transformadores, telégrafo e o aprimoramento dos meios de comunicação; com isso a Engenharia Elétrica ganha reconhecimento em meados do século XIX. A produção em massa pode ser desenvolvida e instalada, suprindo a demanda da sociedade da época e propondo produtos ao mercado de forma mais acessível e rápida. Com isso, surge a necessidade latente de organizar e administrar os complexos sistemas de produção, então com a tarefa de analisar, organizar e racionalizar o trabalho se fez necessário o surgimento da Engenharia de Produção, que ocorreu a partir desse avanço.

A Terceira Revolução Industrial teve início no início do século XX, após o término da Segunda Guerra Mundial, e o desenvolvimento de tecnologias avançadas no sistema de produção industrial marcou a fase. O desenvolvimento do computador e os constantes avanços trouxeram esta fase até a internet. A necessidade de aumentar a produtividade nas indústrias trouxe o avanço em programas computacionais até a robótica. Esta revolução é marcada pela capacidade de produzir sem a intervenção do ser humano e a capacidade de controlar os sistemas de forma mais eficiente, além de eliminar atividades onde as pessoas ficariam expostas ao risco de morte. A Engenharia de Computação e a Engenharia de Controle e Automação foram muito importantes nesse cenário.

A Quarta Revolução Industrial, ou a Indústria 4.0 traz uma série de desafios para a engenharia. Os avanços tecnológicos caminham para opções cibernéticas, em que as simulações podem ser feitas de forma virtual, os controles são feitos por sensores de dados interconectados (que monitoram processos físicos), onde os acessos aos dados de processos possam ser feitos por qualquer aplicativo remoto e analisados em tempo real.

O movimento demonstra que os futuros profissionais da área devem repensar a forma de atuação, pois deverão focar ainda mais nos conceitos básicos das suas especialidades (Automação, Computação, Elétrica, Mecânica, Produção), porém, a sinergia entre as ciências será inevitável.

Diante dessa nova situação, a Engenharia Mecânica continuará com a responsabilidade sobre os mecanismos de movimentos e estruturas, porém, deverá buscar soluções aliando-se aos materiais mais resistentes e leves, conhecer estruturas de polímeros e demais componentes que convergem o avanço da tecnologia 4.0. Com a grandeza de informações de controle nos equipamentos será possível elaborar manutenções mais eficientes e mais rápidas, reduzindo desperdícios por falhas.

Da mesma forma, a Engenharia Elétrica continua a detentora dos princípios da ciência elétrica, mas deverá buscar mais fontes de energia alternativas que apresentem maior capacidade de armazenamento. A Engenharia de Produção terá mais informações para reduzir as variabilidades dos processos e aumentar a produtividade. A Engenharia de Automação será a facilitadora das implantações destas tecnologias, além de promover as integrações com todas as outras engenharias.

É evidente que a Indústria 4.0 necessitará de profissionais polivalentes com conhecimento em várias áreas e diversas habilidades, entretanto, os conceitos básicos devem ser bem sólidos em duas especialidades, porque a inovações sempre acontecerão, mas a essência do conceito sempre será o alicerce para o desenvolvimento.

Leandro Vedovato é coordenador de Engenharia Mecânica da Anhanguera de Santa Bárbara d’Oeste.