Do assombro cotidiano às diferentes possibilidades de interações. Como devemos usar as novas tecnologias a favor da educação

Com a disseminação da informática, as diferentes tecnologias chegam também às escolas e passam a ser absorvidas não só pela área administrativa, mas também pelo meio acadêmico. No entanto, nos últimos anos, as tecnologias associadas à explosão da multimídia possibilitam uma forma diferente de acesso a informações e ao conhecimento e têm mexido com a forma de conduzir o processo de ensino e aprendizagem.

Basta uma rápida conversa com professores para constatar tempos de assombro e desconfiança. Para além dos macroproblemas da educação, o uso ou não de tecnologias da informação e comunicação (TICs) no ensino está entre três das quatro conversas na sala dos professores.

A internet e demais tecnologias trouxeram novos desafios para os espaços culturais, dentre eles a escola, nas suas diferentes etapas e modalidades. Portanto, as TICs dão novos rumos à educação, permitindo que utilizemos outras maneiras de ver esse mundo todo tecnológico e o utilizemos para melhor desempenhar nossas atividades nesta área. Tendo como base as constantes mudanças no cenário mundial, é de suma importância que a escola conheça e reconheça a tecnologia como um motivador para o estudo, a aprendizagem, as pesquisas e sobretudo para aumentar o interesse dos alunos.

Recentes pesquisas sobre TICs no Brasil mostram que apesar de 99% dos professores entrevistados, em levantamento realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (2012), indicarem que utilizam a internet no seu cotidiano, somente 29% fazem uso dessa ferramenta em projetos pedagógicos ou mesmo em suas aulas. Tal dado é preocupante se pensarmos que cada vez mais cedo crianças pequenas já possuem contato com diferentes tecnologias.

Ao abordar o assunto, é necessário fazer uma crítica severa à pressão pelo uso das TICs na escola e a falta de estrutura encontrada em muitas delas. Destaca-se aqui a falta de rede de internet, de manutenção dos aparelhos e laboratórios e de técnicos habilitados. É comum também verificarmos que em alguns lugares os professores receberam os instrumentos, mas não receberam tutorias ou cursos de formação. São os paradoxos do mundo contemporâneo.

Assim como a biblioteca física das universidades, as virtuais e temáticas precisam de atualização e da compra de novos títulos e licenças. Não se pode pensar numa educação, hoje, utilizando de forma marginalizada a internet ou as TICs. Existe a necessidade de investimento sistemático, forte e em grande escala, para que possamos ter, interagir e produzir com qualidade.

Comungo com a ideia de Jorge Larrosa que diz “teremos de aprender a viver de outro modo, a pensar de outro modo, a falar de outro modo, a ensinar de outro modo”. Não basta substituir o quadro de giz pelo retroprojetor.

A internet que nos separa também pode nos unir. Basta procurar os caminhos certos. No mundo virtual, é possível criar fóruns para debate ou quizzes de perguntas para desafiar os estudantes a testarem seus conhecimentos. Com ajuda da tecnologia como exemplo de atividade, cito uma pesquisa sobre cantigas de roda, que realizei com um grupo de alunos, na qual ao final do trabalho, gravamos um CD com direito a encenação para os colegas. Já em outra turma, houve a produção de um álbum com imagens de brinquedos antigos e produzimos uma linha do tempo, buscando entender suas variações a partir das mudanças ocorridas na sociedade. É comum que eu peça aos alunos que façam pesquisas em seus celulares e tablets em plena aula. Solicito que baixem aplicativos didáticos. A experiência tem tido bom retorno por parte dos estudantes.

Nessa perspectiva, existe a necessidade da tolerância e da aprendizagem contínua. É possível perceber a troca de torpedos ou mensagens no aplicativo WhatsApp durante a aula. Noutra geração, desenhávamos nos cadernos e passávamos bilhetinho. É preciso ter paciência para os selfies durante a aula e os comentários em tempo real postados na rede. O mundo está mudando e estamos mudando com ele. Aceitar a mudança não é uma opção. A tecnologia está entre nós desde as pinturas nas cavernas, papiros, primeiros impressos e as múltiplas possibilidades não vão parar por aí. Podemos encarar com desprezo que nos imobiliza e exclui ou com assombro.

Por fim, os saberes diversos e as possibilidades infinitas rondam nossas escolas e nossos afazeres. No entanto, vivenciar diferentes formas de ensinar e aprender incorporando as novas tecnologias exigirá dos professores uma posição de aprendiz. Sabe-se que os seres humanos apreendem as coisas do mundo por meio da interpretação da lógica que possuem sobre suas experiências. Mas, para que elas aconteçam, é preciso ter mente e coração bem abertos.