A conquista de melhores resultados passa necessariamente pelas áreas de comunicação e marketing, que se consolidam como setores estratégicos dentro das instituições de ensino

A máxima entoada a partir dos anos de 1960 pelo célebre apresentador de TV Abelardo Barbosa, o Chacrinha, é uma realidade há muito absorvida pelos mais variados setores, do comércio à prestação de serviços. No caso do ensino superior não poderia ser diferente, e manter uma boa comunicação e relacionamento com alunos, colaboradores e comunidade, incluindo demais parceiros do mercado e acionistas, pode garantir o sucesso de uma nova estratégia ou posicionamento institucional. O segredo agora parece estar em como comunicar para atingir adequadamente o público almejado.

Segredo este já descoberto pela Universidade Sagrado Coração (USC), de Bauru (SP). Com o apoio de pesquisas que avaliaram as necessidades do mercado da região, a instituição traçou um plano de comunicação e marketing e em dois anos conseguiu aumentar em 81% o número de ingressantes. Enrique Corthorn, diretor da USC, explica que a análise de fatores como cursos existentes e escassos na região, valores mais competitivos e localização ideal balizou a adoção de novas ações de comunicação. “Sabemos que temos muito a crescer, mas isso só será possível se tivermos um marketing eficiente baseado em pesquisas e trabalho em equipe”, considera Enrique.

A Universidade Sagrado Coração também se destaca por conseguir aumentar o valor de suas mensalidades sem perder alunos por conta disso. Para Corthorn, o preço não é imprescindível. “Entregar ao aluno o que ele precisa está acima das cifras”, assegura.

Ousadas ações de comunicação e marketing também garantiram à Faculdade Presidente Antônio Carlos (Unipac), em Bom Despacho (MG), transformar a mudança de status em uma engajada campanha de divulgação e defesa da instituição. Ao receber a notícia de que a universidade passaria a ser administrada como faculdade, uma verdadeira maratona de ações foi planejada para comunicar de maneira eficiente a mudança para a comunidade acadêmica. Segundo Débora Guerra, diretora presidente da Unipac, o mais importante foi falar francamente sobre o assunto e informar sobre a manutenção da qualidade. “Iniciamos o processo com um show musical no campus e, nesta festa de retorno às aulas, comunicamos o fato ressaltando que ninguém seria prejudicado com a alteração e que o trabalho estava voltado para garantir a manutenção e aprimoramento da qualidade”, conta Débora.

Pensar o plano institucional de comunicação e marketing para além desses setores específicos amplifica a ação e traz uma melhor exposição da marca. Esses foram os resultados colhidos pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), na capital paulista, que em 2006 adotou um plano de ação no qual o pró-reitor de extensão e assuntos comunitários, Renato Padovese, passou a coordenar as atividades. O objetivo era buscar resultados em mídia espontânea e, para isso, a instituição concentrou ação na contratação de uma assessoria de imprensa, serviços de análise de notícias, pesquisa de imagem e relatório de centimetragem. Já no primeiro ano, a Unicsul cresceu mais de 250% em evidência nas mídias espontâneas. “O intuito era passar a ser fonte de informação para veículos de imprensa como jornais, revistas e televisão”, relata Padovesi.

Outra ousada ação da Unicsul foi investir, em 2009, na aquisição de um planetário digital móvel para servir de material de apoio aos alunos de astronomia. O equipamento foi disponibilizado para apresentações em escolas, proporcionando inúmeras solicitações de visitas e exposições que facilmente geravam a cobertura por parte de veículos de comunicação. Com isso, além de prestar um serviço educacional à sociedade, a universidade se manteve em evidência na mídia.

Líderes pela educação
Como transformar as ações de comunicação e marketing em estratégias para a instituição de ensino foi um dos temas apresentados durante o 13º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular (Fnesp), que debateu o desafio das lideranças do setor. Na abertura do evento, o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, ressaltou a necessidade de romper com o paradigma da liderança individual para a construção da liderança coletiva.“O setor precisa de profissionais capazes de exercitar práticas diferenciadas e integradoras que identifiquem a educação superior como realidade histórica e social, na qual a produção de conhecimento é obra coletiva, que extrapola contextos e identidades pessoais”, asseverou.

De acordo com Figueiredo, a geração de gestores que participou do processo de transformação ocorrido na educação superior brasileira a partir da década de 1970 foi responsável pela condução da consolidação e expansão do setor. “Independentemente da nova realidade, marcada pelo aumento da competitividade, o desafio dos novos líderes será fazer com que os valores, princípios e a filosofia das instituições continuem vivos”, disse.

Valores como os deixados por Electro Bonini e Gilberto Padovese, fundadores da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) e Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), respectivamente. Mortos em outubro, os gestores deixam um legado de determinação e luta na construção e desenvolvimento do ensino superior, que deverá ser lembrado pelas novas lideranças do setor.